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Gaze esquecida em intestino pode ter causado morte de mulher após cesárea

A dona de casa Sthefany Gonçalves dos Santos - Arquivo pessoal
A dona de casa Sthefany Gonçalves dos Santos Imagem: Arquivo pessoal

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

11/05/2020 18h53

A dona de casa Sthefany Gonçalves dos Santos, de 29 anos, moradora de São Vicente, litoral de São Paulo, morreu na última quarta-feira (6), durante um procedimento de emergência realizado no Hospital Municipal da cidade. Internada às pressas com suspeita de cálculos na vesícula, ela teve cinco paradas cardíacas e não resistiu. De acordo com informações de parentes da vítima, ao abrirem o abdômen da paciente, os médicos encontraram um pedaço de gaze enrolado em seu intestino, o que pode ter provocado a sua morte. Ainda segundo a família, o médico que realizou o procedimento explicou que o pedaço de tecido acabou perfurando as paredes do intestino de Sthefany, o que teria facilitado a contaminação de outros órgãos do corpo por bactérias.

Casada há 15 anos com o técnico de manutenção em computadores Davi Fernando Pereira, Sthefany buscou o serviço de maternidade municipal do Hospital São José em janeiro de 2019. Na ocasião, a mãe de Matheus, 10 anos, e Isabella, de 3, preparava-se para dar à luz o terceiro, Leonardo. A equipe médica que a atendeu optou pela cesárea como procedimento.

O menino nasceu saudável e a jovem retornou com o bebê para casa em poucos dias. Entre março e abril deste ano, enquanto ainda amamentava Leonardo, Sthefany passou a sentir fortes dores abdominais. E foi então que buscou ajuda nos postos de saúde próximos ao bairro em que morava com a família.

Hospital São José, em São Vicente - Reprodução - Reprodução
Hospital São José, em São Vicente
Imagem: Reprodução

"Ela passou pelos postos de saúde do Parque das Bandeiras, do Humaitá. Ela foi várias vezes, mas sempre a medicavam e mandavam embora", conta a irmã de Sthefany, Viviane Gonçalves. "Ela chegou a ser levada de ambulância algumas vezes, mas sempre a mandavam de volta para casa. Na última semana, no dia 3 de maio, ela foi de ambulância para o posto de saúde do Humaitá. No dia seguinte, ela teve uma convulsão. Só então eles a levaram de ambulância, com monitoramento cardíaco, ao hospital Municipal de São Vicente, onde ela esperou mais um dia inteiro até fazer a cirurgia. Ou seja, foi operada somente no dia 5. Antes da cirurgia, ela ainda teve duas paradas cardíacas. Após passar pela cirurgia, ela ainda teve mais três paradas cardíacas, até que não resistiu, indo a óbito no dia 6. O médico informou para a minha mãe que dentro do intestino da minha irmã havia um pedaço de tecido, ela estava com uma gaze dentro do corpo".

Davi, o marido, conta que Sthefany sofreu com muitas dores nos últimos dois meses. Se contorcia, chorava de dor. E lamenta que os médicos que a atenderam anteriormente, nos postos de saúde, não tenham identificado ou sequer investigado a causa daquelas dores.

"Eu tinha acabado de chegar ao Hospital Municipal de São Vicente para visitá-la (no dia 6), saber se estava bem e fui surpreendido com a notícia da sua morte. Estamos todos muito abalados, a família toda está muito abalada com o que aconteceu. Ela nos deixou órfãos, sem chão. A mim e aos nossos três filhos. O mais velho não quer saber de comer e a Isabella não para de perguntar pela mãe. A Sthefany era uma mulher estudiosa, esforçada, uma esposa maravilhosa e uma mãe dedicada. Ela vai fazer muita falta para a gente".

A advogada da família, Daniela Fernandes de Mendonça Alves, informou que está levantando informações detalhadas sobre o caso e que aguarda os laudos médicos para poder discutir, junto com a família, a melhor estratégia para que a justiça se cumpra.

A Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria da Saúde (Sesau), informou que vai apurar o ocorrido e pede à família que formalize a denúncia e forneça detalhes sobre o caso. Imediatamente após a oficialização, será aberto processo administrativo para apurar ocorrido e identificar as responsabilidades.