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PMs exigiram que família devolvesse identificação de policial, diz MP

Manifestantes pedem justiça por Guilherme em passeata realizada ontem (16) na zona sul de São Paulo - Marcelo Oliveira/ UOL
Manifestantes pedem justiça por Guilherme em passeata realizada ontem (16) na zona sul de São Paulo Imagem: Marcelo Oliveira/ UOL

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

17/06/2020 20h09

Resumo da notícia

  • MP afirma prisão de sargento da PM é imprescindível para que surjam novas testemunhas no caso
  • Segundo o MP, policiais militares passaram a intimidar a família, exigindo que entregassem identificação de PM encontrada ao lado do corpo da vítima
  • Desde o desaparecimento de Guilherme, família tinha informações do envolvimento de PMs no crime
  • Uso de terreno perto da casa de Guilherme por moradores do bairro é causa de discussões

Para o Ministério Público de São Paulo, a prisão temporária do sargento da PM, Adriano Fernandes de Campos, 41, acusado de envolvimento no sequestro, tortura e assassinato do adolescente negro Guilherme Silva Guedes, 15 anos, é necessária para que outras testemunhas falem e ajudem a esclarecer o crime. Moradores e a família temem represálias, afirma o MP, pois policiais militares rondaram a casa após o crime, exigindo que a família de Guilherme entregasse a identificação do policial investigado.

"A prisão é imprescindível às investigações do gravíssimo crime praticado, para a realização de interrogatório e apuração de outras testemunhas, que não se apresentam em razão do medo de represálias", afirmou a promotora de Justiça Luciana André Jordão Dias, que atua no Tribunal do Júri da Capital.

Desde a madrugada de domingo (14), quando Guilherme desapareceu, a família do jovem desconfiava da participação de policiais militares no crime. Essa desconfiança aumentou quando foi encontrada perto do corpo do jovem a tarjeta de identificação de um policial com o nome de guerra SD Paulo (soldado Paulo).

Policiais rondaram casa da vítima

Desde o homicídio policiais militares têm rondado a casa onde a vítima vivia, no bairro da Vila Clara, "inclusive exigindo a entrega de tarjeta de identificação de PM localizada por familiares da vítima", afirma a promotora.

Ontem (16), uma das avós de Guilherme, Antonina Arcanja da Silva, não se conteve e foi categórica ao afirmar que a família tinha certeza que o crime que havia vitimado seu neto havia sido cometido por policiais militares.

Hoje, porém, a família de Guilherme recusou-se a comentar a prisão de Adriano. "Estamos sem condições", disse uma tia do jovem. A mãe de Guilherme não respondeu às mensagens enviadas pela reportagem.

Segundo Antonina disse ontem ao UOL, desde que foram obtidas imagens da câmera de segurança da rua que mostram Adriano armado com um revólver, amigos da família afirmaram que o homem era policial, pela postura e pelo jeito de andar.

Ontem, quando o UOL entrevistava a família, uma bomba explodiu no muro da casa, que fica ao lado do córrego do Cordeiro e da travessa onde fica o parque linear por onde Guilherme foi levado pelos sequestradores. Logo após a explosão, um carro de polícia parou em frente ao imóvel e ficou com as luzes ligadas, causando pânico entre os moradores.

PM acusado faz bico de segurança em terreno vizinho

De acordo com o pedido de prisão, ainda na madrugada de domingo, logo após o desaparecimento de Guilherme, a família obteve informações de que o policial fazia bico de segurança no canteiro de obras localizado na rua atrás da casa da vítima, na Vila Clara. Ao pedir informações sobre ele no local, os familiares foram informados por uma pessoa que Adriano "havia desaparecido". Esta pessoa passou o número de telefone do vigia e o DHPP constatou que tal número pertence ao policial.

O mesmo telefone havia sido usado por Adriano para ligar para a polícia e denunciar uma tentativa de furto no supermercado Roldão Atacadista, cujo terreno fica ao lado do canteiro de obras. A polícia foi ao local e não constatou nenhum furto, nem no supermercado, nem no canteiro.

Esse suposto furto teria sido a "justificativa" da abordagem de Adriano e seus comparsas a Guilherme no momento de seu sequestro.

Uso de terreno é causa de confusão

Segundo moradores do bairro, a utilização do canteiro de obras e do estacionamento do supermercado como passagem por moradores é um motivo de discussões na região, pois o uso do terreno para essa finalidade tem sido confundido com furtos ou invasão.

Uma moradora do bairro contou ao UOL que a entrada de pessoas no terreno do supermercado acontece por pessoas desesperadas em busca de comida, que reviram o lixo procurando alimentos vencidos descartados pelo estabelecimento.