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Morre Zé dos Montes, aposentado que construiu castelo no Agreste do RN

Castelo construído por Zé dos Montes em Sítio Novo (RN) - Zanone Fraissat/Folhapress
Castelo construído por Zé dos Montes em Sítio Novo (RN) Imagem: Zanone Fraissat/Folhapress

Eduardo Vessoni

Colaboração para o UOL, em São Paulo

07/07/2020 09h36Atualizada em 07/07/2020 11h54

O aposentado José Antônio Barreto, 88 anos, conhecido como Zé dos Montes, morreu na noite de ontem. Ele foi responsável por construir um castelo em Sítio Novo, a 100 km de Natal, na região do Agreste do Rio Grande do Norte. De acordo com Joseildo Gomes de Oliveira, filho do construtor, Zé dos Montes morreu devido a uma insuficiência respiratória.

"Ele se foi, mas deixou seu legado", disse o filho em entrevista por telefone ao UOL. "É uma construção manual e intuitiva. Para ele não era um castelo, era uma igreja", explica Joseildo.

Zé dos Montes sofreu dois AVCs (acidentes vasculares cerebrais) e passou os últimos dois anos bem debilitado, com dificuldades para andar.

Visões na infância

O sonho de Zé dos Montes começou na infância, quando ele ainda morava em Pedro Avelino, sua terra natal, e dizia que tinha visões com uma senhora que pedia para que ele construísse sete igrejas em sete locais diferentes. O aposentado afirmava que teve mais 12 visões da senhora, todas no dia 13.

Sua fixação por erguer castelos começou ainda nos anos 60, quando reformou a própria casa, no Quintas, em Natal. Foi nesse bairro popular da Zona Oeste da capital potiguar que ergueu um mini castelo de tons rosas, protegido por grades e com um confuso encontro de torres e cúpulas amarelas.

Folha visitou castelo em 2019; veja o vídeo

TV Folha

Obra sem planta e sem fim

A construção do castelo em Sítio Novo começou há mais de 35 anos. Sem ter uma planta, a obra de cal e pedra começou a ser erguida por Zé dos Montes sobre uma rocha da Serra da Tapuia. O castelo, ainda inacabado, tem quatro andares com altares e salões sem móveis e fica em uma área de 13 hectares.

O castelo é conhecido também pelas 83 torres brancas que se confundem com os tons áridos dessa região, a 100 km da capital do Rio Grande do Norte. O centro da construção ainda mantém o chão de terra.

No encontro das três rochas que sustentam o castelo fica a capela que abriga o altar em homenagem à Nossa Senhora, de quem Zé dos Montes teria recebido o pedido de construção das igrejas.

A cerca de 400 metros de altitude, o atrativo é um labirinto de corredores e escadarias brancas que lembram antigas fortalezas militares e abriga diversos mirantes com vistas para a região serrana.

O local é conhecido também por um claustrofóbico labirinto de terra que Zé dos Montes fez como representação da Via Crucis, por onde os visitantes podem circular (e se perder) em seu interior pouco iluminado.

Chamado de doido

Embora não tenha nenhum estilo arquitetônico definido, o castelo tem formas que lembram uma mistura confusa de traços árabes e europeus. "É tudo da mente", costumava dizer o aposentado, que começou a trabalhar em seu castelo com recursos próprios, em 1984.

Zé dos Montes dizia que era chamado de doido e não teve apoio da família no início da construção. E ele também não sabia precisar quanto havia gastado para erguer o castelo, que hoje é um dos pontos turísticos da cidade de cerca de 5.500 habitantes.

O local está aberto para visitação apenas nos finais de semanas, cujos tours informais são conduzidos por Joseildo Gomes de Oliveiro, filho de Zé dos Montes.