Topo

Esse conteúdo é antigo

Dia de Finados: Túmulo de menina sem nome é um dos mais visitados de Recife

Túmulo da Menina Sem Nome, no cemitério de Santo Amaro, em Recife - Diogo Cavalcante/UOL
Túmulo da Menina Sem Nome, no cemitério de Santo Amaro, em Recife Imagem: Diogo Cavalcante/UOL

Diogo Cavalcante

Colaboração para o UOL, em Recife

02/11/2020 20h55

O Cemitério de Santo Amaro, em Recife, abriga muitos túmulos famosos, como do político Miguel Arraes e do músico Chico Science. Mas, sem dúvidas, um dos mais visitados é o de uma criança cuja identidade permanece misteriosa até hoje. Trata-se da "Menina Sem Nome", morta por asfixia em junho de 1970, em um caso que gerou forte comoção na época. Sua sepultura entrou no imaginário popular e, sempre no Dia de Finados, muitos visitam o local para fazer pedidos ou agradecer alguma conquista alcançada.

A história da "Menina Sem Nome" começa em 23 de junho de 1970, quando seu corpo foi encontrado na Praia do Pina, com o rosto na areia e as mãos amarradas. Segundo noticiado pela imprensa local na época, quem encontrou a criança foi o vendedor de coco Arlindo José da Silva. Ele chegou a ser preso, como suspeito de ter assassinado a criança.

Dias depois, em 29 de junho, a polícia pernambucana chegou ao mecânico Geraldo Magno de Oliveira, que confessou o crime. Em depoimento, o homem disse que convidou a menina para passar a noite com ele, tendo oferecido 5 cruzeiros —moeda da época—, mas como ele não tinha dinheiro trocado, a criança começou a xingá-lo de "velhaco" e "vigarista".

Posteriormente, Geraldo voltou atrás e disse que foi forçado a confessar o crime, após ter sido torturado pela polícia. Ele teve a prisão preventiva decretada e morreu tempos depois, assassinado na cadeia, antes de seu julgamento.

O corpo da menina ficou no Instituto de Medicina Legal (IML) por duas semanas, sem que nenhum parente ou conhecido aparecesse para identificação. Sensibilizado com o caso, Antônio Braga, diretor da antiga Casa do Menor do Recife, solicitou formalmente à antiga Secretaria de Segurança Pública (SSP) de Pernambuco a autorização para enterrar a criança.

Com o aval da SSP, a menina foi enterrada no Cemitério de Santo Amaro, na tarde de 3 de julho de 1970, uma sexta-feira. Milhares de pessoas foram até o local acompanhar a despedida.

Pessoas atribuem conquistas à menina

tumulo - Diogo Cavalcante/UOL - Diogo Cavalcante/UOL
Imagem: Diogo Cavalcante/UOL

O mito em volta da "Menina Sem Nome" surge após o sepultamento. Pessoas começaram a atribuir graças alcançadas a ela, como cura de doenças e conquistas materiais. Ainda, corre a lenda de que o corpo da criança foi retirado intacto do caixão em uma exumação feita anos depois.

Nem a pandemia do novo coronavírus afastou os visitantes do túmulo. Neste Dia de Finados, se via muitos doces, brinquedos, flores, perfumes e velas na sepultura, além de placas e pequenos papéis com agradecimentos.

"Eu gosto de vir todo ano. Fiz questão de vir", contou a vendedora de lanches Denise Avelino da Silva, 58. Moradora do bairro de San Martin, na zona Oeste de Recife, ela afirma que conseguiu sua casa própria graças à Menina Sem Nome. "Eu fiz o pedido e alcancei. E consegui também uma casa para a minha neta, em outro pedido que fiz", disse.

História virou documentário

A história da Menina Sem Nome também virou tema de documentário, produzido pelo jornalista e cineasta Adriano Portela. "Ela está enraizada na cultura de Pernambuco. Todo mundo já escutou falar da história. O caso deixou de ser um fato jornalístico e se tornou lenda a partir da história da exumação e dos milagres".

Muita gente procura Adriano para falar sobre experiências pessoais sobre o caso, por causa do documentário. "Um senhor no Rio de Janeiro, que trabalha como engenheiro de tráfego, ligou para mim e disse que tinha depressão profunda. Um dia, depois que viu o filme, disse que ficou curado e passou a fazer bonequinhas dela", contou.

Quando estava dirigindo o filme "Recife Assombrado" (2019), Adriano descobriu que uma das atrizes, Rayza Alcântara, tinha ligação com a lenda. "A avó dela fez uma promessa pela neta. Eu só descobri depois. Enfim, são muitas histórias conectadas com a Menina Sem Nome", afirmou.