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PM apontado como patrão de congolês em quiosques é intimado

Lola Ferreira e Marcela Lemos

Do UOL e colaboração para o UOL, no Rio

02/02/2022 15h48

A Polícia Civil do Rio de Janeiro intimou o policial militar Alauir Mattos de Faria no inquérito que apura a morte do congolês Moïse Kabagambe, 24, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Em depoimentos à polícia, obtidos pelo UOL, o PM é apontado por dois dos agressores do congolês como dono do quiosque Biruta —onde Moïse trabalhava— e da Barraca do Juninho, estabelecimentos vizinhos ao quiosque Tropicália, onde o rapaz foi morto a pauladas na noite de 24 de janeiro.

Dois dos três agressores trabalhavam nesses quiosques vizinhos ao Tropicália. Os funcionários não mencionam participação de Alauir no crime ou a presença dele no local na noite de 24 de janeiro.

O PM foi intimado a depor amanhã (3) na DH (Delegacia de Homicídios da Capital), mas a irmã dele, Viviane Faria, afirma que o policial já prestou depoimento hoje. A Polícia Civil afirma que o inquérito continua sob sigilo.

Ontem (1º), a Polícia Civil colheu o depoimento de Carlos Fábio da Silva Muzi, dono do Tropicália. A polícia disse que não há indícios de seu envolvimento no crime e que ele colaborou com as investigações. Muzi afirmou que deixou o local antes do crime e que conhecia os agressores de vista.

A irmã de Alauir afirmou ao UOL que o estabelecimento está no nome de um tio idoso. De acordo com Viviane, Alauir aparece pouco no estabelecimento e é ela quem cuida de tudo.

"Meu irmão nunca respondeu por nada, é uma pessoa íntegra, nunca respondeu por nada nem em briga", disse ela. Apesar de os suspeitos apontarem os dois irmãos como donos, a Polícia Civil intimou somente Aluir até a noite de ontem.

Quiosques Tropicália, onde o congolês Moïse foi morto, e Biruta são vizinhos na orla da Barra da Tijuca Imagem: Google Earth

Viviane disse que Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, apontado como um dos agressores, prestava serviço como garçom freelancer no quiosque há um mês.

"A gente conhece eles [os agressores] pelo apelido. Não sabe da família, onde mora. Eles ganham por comissão, por vendas feitas. Isso é uma prática muito comum nos quiosques, conhecida como 'cardapear' [oferecer o cardápio aos clientes]. Muitos deles acabam dormindo na praia, pois moram muito longe e não querem gastar com passagem e combustível", disse ela.

Viviane confirmou que Brendon Alexander Luz da Silva, o Totta, outro colaborador envolvido na morte de Moïse, trabalha na Barraca da Juninho, que também pertence à família dela e é administrada por outro gerente.

De acordo com documentos internos da Polícia Militar, Alauir de Mattos Faria é cabo da corporação. Ele já esteve alocado no batalhão da área dos quiosques, o da Barra da Tijuca (31º BPM). Em agosto de 2021, foi transferido para o Batalhão de Irajá (41º BPM).

Dois meses depois, em outubro, foi transferido para o Batalhão de Jacarepaguá (18º BPM), na zona oeste do Rio, onde está alocado até hoje. Em fevereiro, recebeu R$ 3,933.01 líquidos como concursado do estado do Rio.

Moïse trabalhava "freelancer" para quiosque de PM

Em seu depoimento, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca — um dos homens presos por envolvimento no crime — afirmou que Moïse trabalhava para o Biruta havia três semanas. O congolês trabalhava no esquema de pagamento por diárias e sem carteira assinada, logo quando deixou de ser funcionário do Tropicália.

Já o depoimento de Muzi expõe que o congolês estava trabalhando no quiosque vizinho havia poucos dias. A função de Moïse no Biruta, de acordo com Aleson, era distribuir cardápios a clientes na areia, com pagamento por comissão — o que chamam de "cardapear".

Viviane negou que o congolês fosse funcionário dela, mas disse que mantinham bom relacionamento.

Ela reforçou ao UOL que Moïse trabalhava como "freelancer" e apareceu no fim de semana para "cardapear", mas que não realizou vendas porque estava alterado, alegando problemas.

Viviane disse ainda que no momento das agressões estava comprando bebida próximo ao local e que deixou a região ao ouvir os gritos durante a "confusão".

"É uma região que sempre tem problemas e confusão. Quando ouvi a gritaria, saí correndo. Depois fiquei sabendo pelo dono de outro quiosque o que tinha acontecido. Vim embora, pois os meninos sempre ficam por lá", afirmou.

O que os agressores relatam da noite do crime

Brendon diz que trabalha na Barraca do Juninho há cinco meses. Sua função é servir os clientes e guardar cadeiras e guarda-sóis, das 7h até o último cliente.

Já Aleson afirma que é cozinheiro e garçom no Biruta, no turno de 9h às 16h. Além do emprego na praia, ele afirma que trabalha em uma hamburgueria no Recreio dos Bandeirantes, na mesma região, de 18h às 2h.

Por estar de folga na hamburgueria, Aleson relatou ter estendido o turno no Biruta para "cuidar do local" porque, segundo ele, estariam acontecendo muitos roubos na região.

Brendon relata que em 24 de janeiro, data da morte de Moïse, o congolês estava bêbado e que chegou a beber duas cervejas com a promessa de pagar depois, seguindo o padrão de "comportamento diferente", mais agressivo, relatado por Aleson.

Brendon afirma que estava no quiosque Biruta conversando com Aleson e Viviane Faria na noite do crime. Ele afirma que, durante a conversa, ouviu uma confusão no Tropicália e foi até lá descobrir o motivo.

Ainda de acordo com o depoimento, o homem diz que Moïse estava tentando pegar cervejas do cooler e tentou impedi-lo. Depois, ele jogou o congolês no chão e o imobilizou com as pernas, como mostram as imagens da câmera de segurança do Tropicália. Aleson, de acordo com Brendon, é o homem que aparece nas imagens de costas, agredindo o congolês com ao menos quatro pauladas.

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