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Em SP, carro de som espalha desinformação sobre vacina contra covid

Do UOL, em São Paulo

05/02/2022 08h14Atualizada em 06/02/2022 14h12

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra o momento em que um carro de som circula em uma rua de São Paulo espalhando desinformação sobre a vacinação de crianças contra covid-19. A cena foi flagrada na tarde de ontem (04)

Na mensagem emitida pelo carro de som, um homem diz que quem já se infectou pela covid desenvolveu anticorpos, o que seria mais eficiente do que a vacina. A fala vai na contramão do que diz a ciência, que recomenda a vacinação inclusive para quem já contraiu o coronavírus e reforça a importância de vacinar as crianças.

"Tem uma coisa que vacina não dá: IgA, que é muito importante para quem tem doenças respiratórias das vias aéreas superiores. Você pode imunizar as crianças com complicações pulmonares, mas não tratá-las", diz o homem.

Entre as crianças, a vacina pode reduzir em seis vezes a chance de complicação por covid-19, de acordo com dados levantados nos Estados Unidos, país onde há o maior número de jovens imunizados. Os casos reportados de miocardite como efeito colateral são raros: a incidência é de 9 a cada 100 mil doses aplicadas (0,009%).

A pediatra e vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabella Ballalai, reforça que as crianças não são imunes à doença em suas formas mais severas. "Com os adultos vacinados e adoecendo menos, as crianças passaram a ter até um peso maior no número de casos. Não que elas estejam mais suscetíveis, mas é uma proporção que cresce", diz.

Segundo dados dos cartórios de registro civil, desde o início da pandemia até 30 de novembro de 2021 morreram de covid 1.111 crianças de até 9 anos no país, o que representa 0,18% do total de óbitos do Brasil no período.

Em 24 de novembro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) publicou um documento orientando a vacinação de crianças.

"Existem benefícios em vacinar crianças e adolescentes que vão além do direito à saúde. A vacinação diminui a transmissão de covid nessa faixa etária e pode reduzir a transmissão de crianças e adolescentes para adultos mais velhos, o que pode ajudar a reduzir a necessidade de medidas de mitigação nas escolas", diz o documento.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde lamentou e repudiou a divulgação de fake news e desinformação sobre a vacinação das crianças. "A pasta ressalta a importância da imunização das crianças e informa que todas as vacinas aprovadas pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) são seguras e eficazes".

A Prefeitura de São Paulo ressaltou a eficácia das vacinas contra o coronavírus. "A vacinação em massa permitiu avanços no combate à pandemia, com redução significativa dos casos graves e do número de óbitos em comparação com o pico registrado em 2020", mesmo com o surgimento da variante ômicron, mais contagiosa do que as anteriores".

O UOL procurou o Ministério Público paulista para comentar o caso, mas ainda aguarda resposta.

No final de janeiro, situação semelhante ocorreu em Novo Hamburgo (RS), quando dois carros de som que transmitiam mensagens contrárias à vacina foram apreendidos pela Guarda Municipal.

Importância da vacinação

Desde o início da vacinação contra a covid-19 no Brasil, quase a totalidade (92%) dos eventos adversos relacionados aos imunizantes foi classificada como não grave, segundo o Ministério da Saúde. Os relatos mais comuns são de cansaço, tosse, calafrios, dor no local da aplicação, coceira, hematoma, febre, dor no corpo, diarreia, náusea, dores musculares e nas articulações e dor de cabeça.

Em pouco mais de um ano de campanha, os benefícios podem ser vistos de forma prática. A queda da mortalidade de pacientes hospitalizados com covid-19 no SUS, por exemplo, foi de 37% em todo o país. Um estudo do governo federal mostra que o risco de óbito pela doença é 56 vezes maior do que o risco de ocorrência de um evento adverso relacionado à vacinação.