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Vendedor ambulante negro morre após ser baleado por PM de folga em Niterói

Vendedor ambulante é assassinado em Niterói, no Rio de Janeiro - Reprodução
Vendedor ambulante é assassinado em Niterói, no Rio de Janeiro Imagem: Reprodução

Marcela Lemos

Colaboração para UOL, no Rio

14/02/2022 15h20

Um vendedor ambulante negro foi baleado e morreu hoje à tarde em frente à estação das barcas, no centro de Niterói, na região metropolitana do Rio. A vereadora de Niterói Benny Briolly (PSOL) identificou o rapaz como Iago Machado. Ela disse, em sua rede social, que o autor do disparo foi um policial militar de folga.

Por sua vez, a corporação diz que o policial interveio em suposta tentativa de roubo. "O militar tentou intervir na ação e um dos envolvidos teria investido contra sua integridade, sendo atingido por disparo de arma de fogo. O ferido não resistiu", informou a PM. Já um primo de Iago disse que o rapaz vendia balas quando foi acusado por um segundo homem, também não identificado, de roubar na região.

O Corpo de Bombeiros informou que foi acionado para a ocorrência por volta de 12h e constatou o óbito da vítima no local.

Em entrevista à TV Record, Jonathan César, primo de Iago, contou que o rapaz baleado estava abordando pessoas para vender balas quando um homem reagiu, dizendo que vendedores de bala roubavam na região.

Houve então uma discussão entre esse homem não identificado, o policial de folga e Iago, quando o PM interveio e atirou no rapaz, de acordo com a versão do primo. Jonathan César ainda disse que Iago foi baleado com um disparo.

"Saía [de casa] às 5h para poder consagrar todo dia seu dinheiro, para poder pagar um buffet de festa para uma filha. Era o sonho dele fazer uma festa para a filha dele de dois anos. Ia ser um festão. O menino estava convidando todo mundo", relatou Jonathan.

Quer saber a verdade do que aconteceu? Puxa nas câmeras. O menino foi abordar uma pessoa para vender bala e o rapaz chamou ele de ladrão. Disse que os meninos das balas abordam as pessoas para poder roubar o celular que tá no bolso. O policial do lado se ofendeu e foi discutir com ele. Meu primo discutiu com ele, debateu com ele. Ele meteu a mão na arma e deu um tiro só. A bala dele custava uma, R$ 3 e duas, R$ 5. E a vida do meu primo custa quanto?"

Uma amiga de Iago, que pediu para não ser identificada porque presta serviço nas ruas, disse que o rapaz chegava todos os dias bem cedo na região para trabalhar.

"Ele chegava sempre cedinho naquela região para trabalhar e ficava sempre até tarde vendendo bala. Era um cara bem comunicativo, que fala com todo mundo, muito brincalhão, só estava trabalhando, como fazia todo dia."

Ela disse que havia estado com Iago duas horas antes do crime. "Não consigo entender. A filhinha dele ia fazer dois anos daqui a quatro dias", lamentou.

Polícia buscará câmeras de segurança

De acordo com a PM, o policial envolvido e uma suposta vítima de tentativa de roubo presta na tarde de hoje depoimento na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. "A 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) já foi acionada e acompanha o caso", informou a PM.

Procurada, a Polícia Civil disse que "a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG) foi acionada e investiga o caso. Os agentes estão ouvindo testemunhas e buscarão imagens de câmeras de segurança instaladas na região para esclarecer todos os fatos".

O policiamento foi intensificado na região onde Iago foi morto. Manifestantes atearam fogo em colchões.