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Crista poderosa! Pterossauro do Brasil abala tudo o que sabemos sobre penas

Representação artística do pterossauro Tupandactylus navigans - Arquivo Pessoal/Victor Beccari
Representação artística do pterossauro Tupandactylus navigans Imagem: Arquivo Pessoal/Victor Beccari

Do UOL, em São Paulo

22/04/2022 15h31

Um crânio fossilizado da Bacia do Araripe, no Ceará, levou paleontólogos a reverem suas teorias sobre a plumagem e trouxe uma revelação paleontológica sensacional sobre pterossauros, dinossauros e aves, diz artigo publicado nesta quarta-feira (20) pela revista científica Nature.

Os pterossauros são répteis voadores extintos, parentes próximos dos dinossauros, que foram totalmente extintos no final da era Cretácea.

Agora, acredita-se que eles já tinham estruturas semelhantes a penas, que serviriam para regular a temperatura e ajudar na comunicação visual, como ocorre nas aves modernas —ou seja, as penas teriam surgido 100 milhões de anos antes do que se pensava.

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Fóssil de pterosauro no Museu de Paleontologia do Ceará
Imagem: Reprodução/Urca

O fóssil brasileiro é de um Tupandactylus imperator que viveu cerca de 113 milhões de anos atrás. A peça tem mais de 60 centímetros —trata-se de um crânio sem focinho, mas com uma crista, espécie de topete, excepcionalmente preservada.

A cabeça completa talvez chegasse a 1 metro de comprimento, e o animal tinha cerca de 4 metros de envergadura.

A espécie é conhecida por sua enorme crista na cabeça, composta de pele sobre ossos delgados e —aqui está a novidade— coberta por penas.

Segundo concluíram os paleontólogos PascalGodefroit, do Real Instituto de Ciências Naturais da Bélgica, e Maria McNamara, as penas se desenvolveram cerca de 250 milhões de anos atrás, já no antepassado comum dos dinossauros, pássaros e pterossauros.

"Para mim, esses fósseis fecham o assunto: pterossauros realmente tinham penas", comentou à NBC News o professor de paleontologia Steve Brussate, da Universidade de Edimburgo, que revisou o estudo. "Penas não são só uma coisa das aves, nem mesmo só dos dinossauros, elas evoluíram num passado bem mais remoto."

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Imagem: AMNH 2014

McNamara e Godefroit detectaram dois tipos de penas no Tupandactylus imperator.

Uma delas tinha estrutura ramificada, como as das aves atuais, sem ramificações secundárias, era pequena e com melanossomas (organelas produtoras do pigmento melanina).

Nas penas dos pássaros atuais, há uma correlação entre a forma dessas estruturas e a cor das penas.

Portanto, além de confirmar os laços genéticos entre as duas ordens animais, o achado sugere que os pterossauros possuíam plumagem multicolorida, usada para manter a temperatura interna e na comunicação visual (para acasalamento ou intimidação de rivais) —e não tinha a função de auxiliar o voo.

"Uma das grandes questões é: por que as penas se desenvolveram, qual era sua função?", diz McNamara. "Aqui temos indícios realmente fortes de que a comunicação visual foi um fator importante em impulsionar a evolução das penas."

O resgate do fóssil brasileiro

O fóssil de Tupandactylus imperator, excelentemente preservado em quatro blocos de calcário, foi originalmente encontrado na Bacia do Araripe, entre os estados de Pernambuco, Ceará e Piauí. Ele provavelmente deixou o Brasil de forma ilegal, mas foi repatriado em 2022 por meio de acordo entre o Real Instituto de Ciências Naturais da Bélgica e o governo brasileiro.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a cobiça pelos fósseis do Araripe é grande, pois as condições geológicas da região contribuem para preservar detalhes dos tecidos moles (músculos, pele, vasos sanguíneos) e outras estruturas, como penas.

O pterossauro agora está no Museu de Ciências da Terra, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), "pronto para ser exposto e pesquisado", disse o curador do museu, paleontólogo Rafael Costa da Silva.

"Como estava de forma irregular, ilegal, junto com uma coleção particular, a gente não sabe quanto tempo ficou lá na Bélgica", completou.

Silva explicou que, às vezes, o museu recebe fósseis que resultaram de apreensões pela Polícia Federal. Este caso, porém, foi diferente. O Museu de Ciências da Terra entrou em contato com o instituto belga visando a repatriação da peça. "Foi uma discussão diplomática".

Todo o processo que culminou na repatriação durou em torno de dois anos. (Com DW e Agência Brasil)