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SC: Mulher confessa ter escondido corpo do marido em freezer e cita ameaças

Claudia Frenandes Tavares Hoeckler, 40, confessou ter matado o marido, Valdemir Hoeckler, 52 - Reprodução/Facebook e YouTube
Claudia Frenandes Tavares Hoeckler, 40, confessou ter matado o marido, Valdemir Hoeckler, 52 Imagem: Reprodução/Facebook e YouTube

Giorgio Guedin

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

21/11/2022 14h20Atualizada em 21/11/2022 17h46

A principal suspeita de matar o marido e guardar o corpo em um freezer em Lacerdópolis (SC) confessou o crime durante uma entrevista em vídeo publicada ontem. Segundo o advogado da suspeita, ela se entregou às autoridades no começo da tarde de hoje.

Ao Canal Beto Ribeiro, no YouTube, Claudia Frenandes Tavares Hoeckler, 40, deu detalhes de como era o relacionamento com o marido, o motorista Valdemir Hoeckler, 52, afirmou que sofria agressões e disse que foi ameaçada de morte antes de cometer o crime. Ela admitiu ter dado um remédio para dormir e asfixiado Valdemir.

Durante a entrevista, Claudia afirma que o momento crucial surgiu após ele a impedir de ir a uma viagem com colegas de trabalho, que seria realizada no último dia 14. Segundo ela, Valdemir a ameaçou de morte caso decidisse pela viagem.

"Dei um surto. E pensei: 'já que alguém vai morrer, que seja você [Valdemir]'."

Como Valdemir trabalhava à noite, ela diz que, quando o marido chegou em casa, deu remédios para ele dormir e o sufocou.

"Foi tudo repentino. Eram remédios do meu sogro. Ele tomou junto com outros remédios que já tomava". Após ele se deitar para dormir, cerca de meia hora, depois ela alega ter colocado "na cabeça dele uma sacola de mercado".

Claudia ainda afirma que o colocou no freezer, com a intenção de escondê-lo, depois de enrolá-lo em um lençol.

A suspeita ainda foi viajar com as colegas, antes de serem iniciadas as investigações sobre o caso, com as buscas do corpo.

Investigações e defesa

A Polícia Civil já aguardava que ela se entregasse o que ocorreu em Joaçaba (SC), cidade maior e com maior estrutura de segurança pública. "Ela já fez uma declaração pública que o matou. Possivelmente, na versão oficial, acredito que ela deva colaborar e prestar esclarecimentos sobre os motivos e a forma como executou", afirmou o delegado Gilmar Antônio Bonamigo, ao UOL.

O delegado não quis comentar o andamento das investigações por ainda não ouvir Claudia, agora como suspeita - o delegado tinha falado com ela uma vez, ainda quando se tratava o caso como desaparecimento.

Ao UOL, a defesa confirmou que Claudia se entregou à polícia. "Ela era uma mulher maltratada física e psicologicamente. Por vezes, até violentada de forma sexual. E que para preservar a própria vida, matou. Hoje ela está se entregando à polícia e possivelmente vai ser presa. Mas ela deixa bem claro: nunca se sentiu tão livre", afirmou o advogado Marco Alencar.

O corpo de Valdemir foi encontrado na noite de sábado. Ele estava desaparecido desde a segunda-feira (14), quando não apareceu para trabalhar. A esposa permitiu a busca — mas não estava lá no momento em que a polícia achou o corpo. A polícia desconfiou do homicídio diante de versões desencontradas dadas pela esposa e outras informações colhidas com vizinhos.

Oficialmente, a esposa de Hoeckler prestou depoimento na sexta-feira (18), ocasião em que estava com hematomas e marcas de agressão no braço. Questionada sobre a origem dos ferimentos, ela não soube explicar — mas aceitou fazer o exame de corpo de delito, de acordo com o delegado. Um dos elementos que chamou a atenção da Polícia Civil foi o estado do freezer da casa.

Quando o Corpo de Bombeiros esteve no local para fazer buscas na propriedade, durante a semana, a mulher ofereceu um almoço para os militares e refrigerantes, que estavam no freezer. Contudo, o eletrodoméstico estava quase cheio — o que chamou a atenção de um vizinho que acompanhava as buscas. Ele relatou à polícia que dias antes esteve na residência e notou que o freezer estava vazio. Em uma vistoria, a polícia achou o corpo de Valdemir.

Histórico de agressões

Claudia conheceu Valdemir há 22 anos e diz que há um histórico violento por parte dele. O motorista fornecia cigarro contrabandeado na lanchonete da mãe dela. Na época, Valdemir era casado e já tinha três filhos. Os dois iniciaram um namoro escondido.

"Eu gostava de outro menino, mas minha mãe não deixava namorar e falava que o Valdemir era um cara maduro. Era para dar uma chance [...]. Viajei com ele [ao Paraguai] e me apaixonei", relatou ela, ao canal do YouTube.

Na mesma época, ela deu à luz Gabriela, fruto do relacionamento com Valdemir. Com o passar dos anos, Valdemir mantinha a dupla relação, a contragosto de Claudia. Foi nesse contexto, segundo a suspeita, que ela começou a sofrer agressões. Ela tentou fugir ao menos três vezes, mas voltava devido às ameaças contra ela e a filha.

Gabriela saiu de casa aos 18 anos, mas as duas continuaram conversando escondidas.

Apesar das dificuldades, Claudia diz que conseguiu se formar em pedagogia, mas em várias situações teve que trabalhar escondida, devido aos ciúmes dele e o objetivo de se tornar independente financeiramente.

Em 2019, ela conta que fez um boletim de ocorrência e conseguiu uma medida protetiva contra o marido, mas teve que voltar atrás, por medo.

"Uma vez ele tentou me matar. Me trancou no quarto. Passou a noite inteira acordado dizendo que ia me matar. Ameaçava matar a filha também", afirma ela.

Apesar de ter conhecido Valdemir há 22 anos, eles só casaram oficialmente em setembro deste ano para comprar as terras do pai dele.

"Nunca me senti tão livre"

Claudia diz no vídeo que pretende cumprir a pena pelo crime.

"Eu vou agora cumprir minha pena, vou para cadeia, mas eu nunca me senti tão livre. [...] Eu sinto que minha filha está mais segura. Não vai ter ninguém impedindo da gente se ver. Sei que vou parar de apanhar, não sei explicar, mas é uma liberdade."

Ela conta que ainda quer ajudar outras mulheres que passam ou passaram na mesma situação dela, mesmo sabendo que pode ser presa. "Eu falava para minhas amigas o contrário do que eu vivia. Não deixar os homens mandarem nelas, que não podiam ser agressivo".

Cláudia afirma que falou com Gabriela depois do crime, mesmo não falando exatamente da ação. A suspeita acha que a filha vai entender a atitude da mãe e que a jovem a apoiava, independente de tudo.