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'Cirurgias desastrosas, que beiravam crueldade': médico é investigado no RS

João Couto Neto é investigado por causar lesões e mortes de pacientes de Novo Hamburgo - Arquivo pessoal
João Couto Neto é investigado por causar lesões e mortes de pacientes de Novo Hamburgo Imagem: Arquivo pessoal

Beatriz Araujo

Colaboração para o UOL

29/12/2022 13h27

O cirurgião João Couto Neto é investigado por suspeita de causar lesões e mortes de pacientes de Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre. A Justiça o afastou de suas funções por 180 dias.

Segundo a Polícia Civil, são 77 denúncias contra o médico, que se apresenta como especialista em cirurgias de hérnia, vesícula e refluxo. Entre os casos relatados, 20 são de pacientes que morreram após os procedimentos. Não há comprovação de que as lesões e mortes foram causadas por Couto Neto — as investigações estão em andamento. A defesa dele não se pronunciou.

O que está sendo investigado

  • Em novembro, um grupo de 15 pessoas, entre elas pacientes que se sentiram lesadas pelo médico e parentes de pacientes que morreram, relataram supostos casos de abuso e erro médico à polícia
  • A maioria dos relatos se refere a cirurgias feitas nos últimos dois anos, mas as denúncias abrangem procedimentos realizados a partir de 2010
  • Parte das vítimas relatou à polícia que saiu de procedimentos com ferimentos, principalmente no intestino e em órgãos que não eram o foco das cirurgias
  • Também há relatos de dilacerações em órgãos, perfurações múltiplas e cortes feitos além do necessário, segundo o delegado responsável pela investigação

[Eram] intervenções cirúrgicas totalmente desastrosas, que beiravam a crueldade e desumanidade
Delegado Tarcisio Lobato Kaltbach, da 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo

  • Pacientes também afirmam que o médico minimizava a gravidade das lesões provocadas nas cirurgias, segundo a polícia
  • A investigação ainda apura relatos de outros profissionais do Hospital Regina, onde ele atuava, que o acusam de fazer até 25 procedimentos em um único plantão
  • A Polícia Civil realizou mandados de busca e apreensão na residência do médico, em seu consultório particular e no Hospital Regina

Quem é João Couto Neto

  • Em suas redes sociais, ressalta ter feito mais de 20 mil cirurgias
  • Em 11 meses, fez mais de 1,1 mil procedimentos em uma só instituição, o Hospital Regina, segundo a polícia
  • Tem mais de 15 mil seguidores no Instagram e 13 mil no Facebook
  • Em sua última publicação, após o início das investigações, disse atuar com "responsabilidade e maturidade".

Atuar como médico é sempre um grande desafio. Temos plena consciência e certeza de praticar a medicina para a melhor saúde dos pacientes. E com esta responsabilidade e maturidade, nos sentimos confortáveis em afirmar que realizamos mais de vinte mil cirurgias e procedimentos durante os últimos 19 anos, cumprindo os mais elevados preceitos médicos, honrando esta profissão que é a melhor tradução de minha vida
João Couto Neto

O que dizem o hospital e o médico

  • O Hospital Regina diz que o médico faz parte do corpo clínico aberto da unidade, usa a estrutura, mas sem vínculo de contratação
  • A instituição diz que entregou documentos pedidos pela Justiça, mas afirma desconhecer o inquérito policial e que o foco da investigação é o médico, não o hospital
  • O hospital afirma ainda que, no mandado de busca e apreensão apresentado pela Polícia Civil, são citados 14 nomes de pacientes, sendo que 3 fizeram apenas exames na instituição. Dos 11 que realizaram cirurgia, quatro formalizaram relato na Ouvidoria sobre o médico

As reclamações [feitas na Ouvidoria] foram prontamente acolhidas e uma delas, inclusive, foi encaminhada à Comissão de Ética do corpo clínico
Hospital Regina

  • O UOL também tentou contato com o Centro Clínico Regina, onde fica a clínica particular de Neto, que não se pronunciou sobre o caso.
  • A defesa de João Couto Neto optou por não se manifestar sobre as investigações. Diego Mariante Cardoso, advogado do caso, afirmou que a defesa permanecerá em silêncio por enquanto, por ainda não ter acesso à íntegra do inquérito