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16 km de trilhos, 132 postes, 1600 árvores: o rastro de desperdício do VLT

Entulho do material retirado das obras do VLT em Várzea Grande, próxima a Cuiabá (MT). Prometida para Copa de 2014, obra que custou R$ 1 bilhão começa a ser desfeita - Rogério Florentino/Folhapress
Entulho do material retirado das obras do VLT em Várzea Grande, próxima a Cuiabá (MT). Prometida para Copa de 2014, obra que custou R$ 1 bilhão começa a ser desfeita Imagem: Rogério Florentino/Folhapress

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

14/03/2023 04h00Atualizada em 14/03/2023 13h51

O governo de Mato Grosso iniciou o desmonte da estrutura já implementada do VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos), que conectaria Cuiabá a Várzea Grande.

Era para o equipamento de transporte ter começado a funcionar até a Copa do Mundo de 2014, mas dos 22 quilômetros previstos do trajeto, apenas seis foram finalizados. Isso já consumiu R$ 1,06 bilhão —dos R$ 1,47 bilhões em verbas federais destinadas à obra.

A atual gestão concluiu que seriam necessários mais R$ 760 milhões para terminar o projeto. Por isso, decidiu transformar o VLT em um corredor de ônibus, o que custará R$ 480 milhões aos cofres estaduais.

Estima-se que serão necessários outros R$ 200 milhões para a compra de ônibus articulados.

A obra do VLT de Cuiabá chegou a ser considerada um "elefante branco", um dos casos mais alarmantes de obras públicas pagas e não entregues no Brasil. Tanto que resultou, em 2017, em uma investigação realizada pela Polícia Federal: a Operação Descarrilha.

Veja alguns números do caso:

2 anos de prazo

As obras do VLT deveriam ter sido concluídas em dois anos. O contrato inicial foi assinado em junho de 2012 e o equipamento deveria ter sido entregue pelo Consórcio VLT antes do início da Copa, em março de 2014.

24 km de aço importado

Para a obra, foram adquiridos 24 quilômetros de trilhos de aço importado da Polônia.

33 estações

O consórcio se comprometeu a construir 33 estações do VLT ao longo das duas linhas previstas.

40 trens

Quarenta trens, com sete vagões cada, foram comprados da Espanha, antes mesmo do início das obras. Mesmo sem uso, eles passam por manutenção periódica, feita por uma equipe especializada da fabricante CAF, uma das integrantes do Consórcio VLT Cuiabá-Várzea Grande.

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Entulho em Várzea Grande: atual gestão concluiu que seriam necessários R$ 760 milhões a mais para terminar o projeto
Imagem: Rogério Florentino/Folhapres

70% da obra está feita

A desistência de continuidade das obras do modal pelo atual governo do Estado se dá num momento em que 70% das obras já estavam concluídas.

16 km de trilhos removidos

Foram removidos trilhos já instalados ao longo de quatro quilômetros das avenidas João Ponce de Arruda e avenida da FEB, em Várzea Grande, totalizando 16 km. Desses, seis quilômetros de trilhos já estavam instalados na avenida que liga a capital ao aeroporto Marechal Rondon.

132 postes removidos

Foram removidos 132 postes ao longo de quatro quilômetros das avenidas João Ponce de Arruda e da FEB, em Várzea Grande.

1.600 árvores

Para a implantação do modal, 1.600 árvores foram retiradas dos canteiros centrais das avenidas por onde passariam os trilhos.

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Foram adquiridos 24 quilômetros de trilhos de aço importado da Polônia
Imagem: Rogério Florentino/Folhapress

18 mandados cumpridos

Foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão em agosto de 2017, como parte da Operação Descarrilho, da Polícia Federal, que apurava possíveis irregularidades na escolha do modal para operar na região metropolitana de Cuiabá. Foram vasculhadas pelos agentes a sede do Consórcio VLT, em Várzea Grande, a sede da CAF Brasil, em São Paulo, além de residências de luxo em bairros de cidades de Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná

R$ 3,08 milhões à KPMG

R$ 3,08 milhões foi o valor pago à KPMG Consultoria, de São Paulo, contratada pelo estado em novembro de 2015, para elaborar um relatório sobre a viabilidade financeira da implantação do VLT , o cronograma necessário para conclusão da obra e o valor necessário para a finalização do projeto.

R$ 14,8 milhões por km

Cada quilômetro instalado do VLT custa o equivalente a R$ 14,8 milhões. Isso significa que os seis quilômetros retirados até o momento representam um aporte de quase R$ 90 milhões.

R$ 760 milhões faltam

Segundo o governo do Estado, para terminar a obra seria necessário um investimento de R$ 760 milhões, o que fez com que a administração desistisse do projeto anterior e iniciasse a implantação de um corredor de ônibus.

R$ 1 bilhão em gasto total

O Governo do Estado de Mato Grosso está pedindo R$ 1 bilhão em indenização às empresas que compõem o consórcio. Esse também é o valor aproximado da construção do equipamento, R$ 1,47 bilhão, e que custou até agora R$ 1,06 bilhão em verbas federais.

O que diz o consórcio

Em nota, o Consórcio VLT Cuiabá-Várzea Grande diz que "observa com perplexidade a destruição de patrimônio público na Avenida da FEB, algo nunca visto em obras públicas. O desmonte, na ótica do Consórcio, não encontra amparo de ordem técnica ou de economicidade de recursos públicos".

Segundo a nota, o consórcio segue fazendo a guarda de equipamentos e a manutenção dos 40 trens adquiridos pelo governo, "até que importantes questões pendentes sejam decididas pelo poder Judiciário".

"O Consórcio faz questão de registrar que sempre esteve, e ainda está, à disposição do Estado para a construção de uma solução legítima e viável à retomada e conclusão do projeto VLT, que já poderia estar em operação, para uso da população".