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São Sebastião tem 5 novas áreas de risco com mil casas interditadas

Deslizamentos em Juquehy, em São Sebastião: grande volume de chuvas deixou mais de 60 mortes e mais áreas de risco - Fernando Marron/AFP
Deslizamentos em Juquehy, em São Sebastião: grande volume de chuvas deixou mais de 60 mortes e mais áreas de risco Imagem: Fernando Marron/AFP
Ana Paula Bimbati e Fabíola Perez

Do UOL, em São Paulo

19/03/2023 04h00

A Prefeitura de São Sebastião identificou ao menos cinco novas áreas de risco um mês depois da tragédia que deixou mais de 60 mortos no litoral norte de São Paulo. A estimativa é que pelo menos mil moradias estejam interditadas nessas regiões.

O que aconteceu

  • Comunidades, terrenos e ruas em Juquehy, Vila Sahy, Camburi, Baleia e Baleia Verde passaram a ser considerados áreas suscetíveis a deslizamentos e desmoronamentos.
  • O número de regiões desta lista deve aumentar, segundo o prefeito Felipe Augusto (PSDB).
  • O levantamento ainda não tem previsão para ser concluído. Ele é realizado pela Defesa Civil municipal.
  • A prefeitura afirma que deu início a obras de contenção, ao cadastramento das famílias que serão removidas e ao atendimento com foco na saúde mental.

Com as fortes chuvas, temos novas áreas de risco porque o relevo dos morros foi alterado, os rios e os corpos d'água tomaram novos caminhos."
Felipe Augusto (PSDB), prefeito de São Sebastião

Na Vila Sahy, região mais atingida pela tragédia, está localizada a rua Maria Caetana —com 700 metros de extensão. "Nunca foi considerada uma área de risco e agora é. Ainda estamos identificando esses pontos. É uma situação assustadora", diz Felipe Augusto.

Na Baleia, as áreas de risco incluem casas de alto padrão construídas às margens das encostas, por exemplo. Em Camburi, as regiões em situação de vulnerabilidade também estão localizadas próximas às encostas.

Antes das chuvas mais de 9 mil pessoas viviam em áreas de risco em São Sebastião, de acordo com o coordenador da Defesa Civil municipal, Wagner Barroso.

A prefeitura não tem esse cálculo atualizado. "Estamos com diferentes frentes de trabalho para entender a complexidade e ter um número exato de pessoas em risco nesse momento. Como houve uma série de escorregamentos em áreas em que nunca imaginávamos, há um novo redesenho do risco", disse o prefeito ao UOL.

areas de risco litoral norte -  -

'A incerteza de dias melhores'

O imóvel onde a família da dona de casa Ana Carolinny Barros Oliveira, 19, mora, no Morro do Pantanal, em Juquehy, foi parcialmente destruído por um deslizamento e tem rachaduras.

Ela e o marido tinham saído de Pernambuco para tentar uma vida melhor no litoral norte paulista. Ele trabalha como jardineiro em condomínios de alto padrão.

Quando para de chover, a gente fica em casa, porque não dá para ficar no condomínio [dos patrões] sempre."
Ana Carolinny Barros Oliveira, dona de casa

Nesta semana, a Prefeitura de São Sebastião informou à dona de casa que ela e sua família seriam acolhidas em Bertioga —uma cidade ao lado.

"Muito triste tudo isso estar acontecendo e saber que não podemos mais ficar no nosso lar. Muito difícil viver com a incerteza de dias melhores", complementa Ana Carolinny.

Ao UOL, a prefeitura informou que a Defesa Civil está na fase final de conclusão dos laudos para entregar à Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social, "a fim de dar continuidade ao processo e atender a família afetada".

'Morro ainda está escorregando'

Foram mais de 600 mm de chuva em um único dia —o que foi considerado um evento geológico histórico. Para o prefeito, após o desastre, é preciso rever o plano municipal de risco.

Temos novas áreas de riscos, ficamos quase três anos com as contratações de novos agentes de fiscalização paradas, vamos ter que redimensionar todo esse atendimento, repensar a estrutura da Defesa Civil, com novos equipamentos e novos agentes da defesa para que tenha condições de atuar em menor prazo."
Felipe Augusto (PSDB), prefeito de São Sebastião

Segundo ele, as mudanças no terreno são inesperadas —como exemplo, cita a região de Topolândia, no centro, que tinha duas casas em situação de risco e agora são 72. "Em diversos pontos, o morro ainda está escorregando. Conforme a chuva sai e o sol entra, começam a aparecer as rachaduras e trincas."

Vistoria casa a casa

A Defesa Civil municipal atua na assistência e acompanhamento às vítimas —o começo do trabalho é pela vistoria. São essas fiscalizações, diz Barroso, que devem garantir aos moradores acesso aos programas sociais.

As próximas devem ocorrer em Itatinga, Boiçucanga, Camburi, Vila Sahy, Barra do Una, Baleia Verde, Toque Toque, Maresias, Baleia e Juquehy.

Estamos avaliando casa por casa para estabelecer um grau de risco mediante os processos geológicos que se instalaram. Não é uma fiscalização estrutural da moradia, é uma vistoria da possibilidade de novos deslizamentos no entorno."
Wagner Barroso, coordenador da Defesa Civil municipal

Bombeiros buscam desaparecido na Baleia Verde, em São Sebastião - 28.fev.2023/Divulgação - 28.fev.2023/Divulgação
Bombeiros buscam desaparecido na Baleia Verde, em São Sebastião
Imagem: 28.fev.2023/Divulgação

Buscas continuam

As equipes de buscas continuam apenas na Baleia —onde um homem está desaparecido.

A prefeitura afirma que a maior parte das famílias que tiveram de deixar suas casas foi encaminhada a escolas, hotéis e pousadas, além de casas de passagens construídas pelo governo estadual em terrenos cedidos pela prefeitura e em casas modulares.

Outras preferiram ficar abrigados junto a amigos, parentes e patrões —para facilitar a retomada da rotina. O UOL conversou com moradores de São Sebastião que reclamam da falta de planos de reconstrução e de habitação.

A administração municipal informou que deu início a um processo de limpeza urbana para coleta de móveis, colchões e utensílios domésticos, além do desassoreamento dos rios e da drenagem de lixo dos bairros. E que também vai construir novas moradias.