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5 falhas de segurança em aeroportos que abrem brechas para ação criminosa

Mala de Kátyna Baía chegando ao carrossel do aeroporto de Guarulhos - Polícia Federal
Mala de Kátyna Baía chegando ao carrossel do aeroporto de Guarulhos Imagem: Polícia Federal
Fabíola Perez e Fabíola Perez

Do UOL, em São Paulo

14/04/2023 04h00

A prisão injusta das goianas Kátyna Baía e Jeanne Paollinie sob acusação de tráfico de drogas na Alemanha expôs falhas na segurança do aeroporto de Guarulhos — um dos principais da América Latina. Especialistas indicam ao menos cinco brechas que facilitam a ação de criminosos em terminais.

1. Supervisão sobre funcionários de terceirizadas

As empresas terceirizadas fiscalizam seus funcionários e operações de forma insuficiente. Segundo Marcos Vinícius Gomes Avelino, diretor da Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), a fiscalização dos operadores de bagagem é feita pela própria terceirizada e deveria ser reforçada pela companhias aéreas.

As empresas aéreas deveriam reforçar o monitoramento desta atividade, na avaliação de Avelino. No caso das brasileiras presas, a PF localizou gravações que flagraram funcionários trocando as etiquetas das malas.

As terceirizadas que prestam serviço às aéreas devem verificar o histórico de contratados. "Elas precisam verificar certidões, processos na Justiça e outros documentos que permitam conhecer melhor o perfil dos funcionários."

Funcionários terceirizados devem ser submetidos a protocolos mais rígidos, "Às vezes, o protocolo é quebrado em pontos simples que permitem a passagem da droga", afirma Felipe Lavareda, delegado da Polícia Federal de Guarulhos em São Paulo.

Quando há quebra de protocolo, a mudança deve ser registrada e informada imediatamente a um superior. "Não pode ficar só no informal. Se a polícia soubesse no dia, poderia dar o flagrante", diz o delegado.

2. Fiscalização sobre o check-in

O balcão de check-in deve ser monitorado pelas empresas aéreas. "Sem a presença de passageiros, o espaço deve ficar ficar fechado", diz o diretor da Fenapef — diferentemente do que aconteceu no caso das malas com cocaína, segundo as investigações.

O controle dos balcões de check-in é fundamental tanto no caso de passageiros quanto no de cargas — afirma Lavareda. O despacho das bagagens com drogas — apreendidas depois na Alemanha — ocorreu na área de check-in inativo. Uma mulher com uniforme de companhia aérea despachou essas malas. Ela ficou 28 minutos no balcão vazio, sem passageiros.

O espaço do check-in tem que ter câmeras posicionadas bem em frente aos balcões. Além disso, precisa de barreiras físicas para impedir o uso dos que estão desativados."
Felipe Lavareda, delegado da Polícia Federal de São Paulo

3. Comparação das informações das etiquetas

Para a polícia, as informações das etiquetas das bagagens deveriam ser confrontadas no destino final com as registradas no check-in. No caso das malas com drogas, elas desceram para o carrossel após terem sido despachadas com etiquetas de identificação — não foi revelado até agora se esses dados eram falsos, antigos ou de outros passageiros. Tanto as bagagens regulares como as clandestinas foram embarcadas no voo para Frankfurt.

O peso das malas apreendidas em Frankfurt, por exemplo, poderia ter sido comparado o das bagagens despachadas pelo casal em Goiânia. As bagagens das brasileiras tinham 16 kg e 17 kg.

O peso é mais um indicativo que a gente usa. Quando uma mala é apreendida do exterior, estava com uma etiqueta, a gente verifica se os quilos e a cor batem. Também verificamos se as etiquetas estão trocadas com base nas imagens."
Felipe Lavareda, delegado da PF

4. Mais câmeras e scanners

Faltam câmeras de segurança e scanners corporais e de bagagens. O presidente da Fenapef afirma que deveria haver mais câmeras em locais com grande movimentação em áreas internas e externas.

"Elas diminuiriam a quantidade de pontos cegos e dariam mais visão", afirma o delegado Lavareda.

No caso dos scanners (equipamentos de monitoram passageiros e bagagens), o problema é que o aumento de fiscalização poderia impactar na operação do terminal — chegando até a atrasar voos. Avelino destaca que "nem os aeroportos mais ricos" têm a quantidade ideal de equipamentos desse tipo.

Nas áreas externas, com livre circulação de pessoas, é necessário ter uma vigilância maior, segundo Lavareda. "Estamos desenvolvendo programas de reconhecimento facial. Já existem setores que têm, mas o ideal é que isso possa se expandir para a vigilância de suspeitos a partir da nossa base de dados."

O complicador é como desenvolver protocolos mais rígidos sem impactos para a malha aérea. Seriam necessários mais filtros no embarque e na bagagem. Dentro do que é possível, a saída é aumentar o controle. Não vai impedir eventuais crimes, mas reduziria muito."
Marcos Vinícius Gomes Avelino, diretor parlamentar da Fenapef

5. Pontos invisíveis para câmeras de segurança

Operadores de bagagem se aproveitam de ângulos que não eram registrados pelas câmeras de segurança para trocar as etiquetas das bagagens. Mais equipamentos poderiam resolver essa questão.

Além da manutenção frequente, é necessário fazer a revisão dos circuitos internos de segurança. O presidente da Fenapef afirma que é fundamental fazer essa reavaliação em momentos de reforma e incidentes como roubos.

O operador aéreo, um gerente do próprio aeroporto, a polícia, órgãos de segurança pública devem verificar o sistema de câmeras para identificar pontos cegos em qualquer incidente, em reformas ou procedimentos. A necessidade é de alinhamento permanente."
Marcos Vinícius Gomes Avelino, diretor parlamentar da Fenapef

O que dizem as empresas

A GRU Airport, que administra o Aeroporto Internacional de São Paulo, informou que o manuseio das bagagens, desde o check-in até a aeronave, é de responsabilidade das empresas aéreas. A concessionária disse também que contribui com informações aos órgãos policiais.

A Latam informou que "tem colaborado com as investigações, prestando também apoio às passageiras. Tanto a empresa como a GOL afirmam que cumprem a legislação relacionada ao transporte das bagagens.

O UOL entrou em contato com as empresas que prestam serviço às companhias aéreas — WSB, Grupo Orbital e Dnata— citadas no inquérito policial. A WSB e Grupo Orbital não responderam.

A Dnata negou — diferentemente do que é apontado no inquérito da PF — que tenha funcionários envolvidos no caso das brasileiras presas.

A empresa diz que "nenhum funcionário que trabalhe no aeroporto possui, ao ingressar, qualquer pendência judicial ou responde a qualquer processo. Entretanto, o ingresso do colaborador sem nenhuma restrição judicial não impede que esses trabalhadores sejam cooptados posteriormente pelo crime organizado." A Dnata disse ainda que "a terceirização dos serviços não significa precarização do setor."

O que diz a Anac

A Agência Nacional de Aviação Civil afirma que a regulação brasileira está alinhada com as regras praticadas internacionalmente.

O órgão diz que existem "fluxos específicos" para circulação e armazenagem das malas, iluminação e vigilância por meio de circuito fechado de TV, obrigatoriedade de verificação de antecedentes criminais e sociais, seguido de credenciamento de todos os funcionários com acesso às bagagens.

Afirma ainda que essas medidas aliadas a outras "de caráter reservado" contribuíram para a identificação e prisão dos autores do ato criminoso e para evitar novos eventos.