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Não é só um corte! Por que penteado de monges católicos é diferente?

Primeiros registros de tonsura são do início do século 4º; prática é tradição que permeia a contemporaneidade - Reprodução/Wikipedia
Primeiros registros de tonsura são do início do século 4º; prática é tradição que permeia a contemporaneidade Imagem: Reprodução/Wikipedia

Do UOL, em São Paulo

29/05/2023 04h00Atualizada em 29/05/2023 11h48

Um corte rente e circular no topo da cabeça — quem já passou na frente de monastérios sabe que é assim que muitos monges cristãos deixam o cabelo após assumir o compromisso com a religião.

A tonsura, como é conhecida a cerimônia que dá forma ao penteado, segue uma tradição que remonta o século 4 e teve diversas formas ao longo dos anos e das regiões. Ainda que tenha se popularizado na Idade Média, ela faz parte da realidade de muitos religiosos atualmente. Mas, por que eles deixam o cabelo assim?

O que é a tonsura?

Realizada nos monastérios, a cerimônia visa identificar os novos monges;

Tradicionalmente, ela tinha várias formas. Dependendo da região e da cultura predominante, a tonsura poderia desencadear diferentes penteados. A tonsura na região da Galícia, por exemplo, permitia os cabelos mais compridos;

O motivo de realizá-la também poderia ser diferente dependendo da região e dos cultos locais;

Entretanto, em geral, a tonsura pode ser compreendida como um símbolo de penitência masculina e renúncia às vaidades mundanas. Era o momento em que os homens se afastavam definitivamente da vida secular;

Popularizou-se na Idade Média e pode ser vista até hoje em monastérios pelo mundo.

São cristianismos, ou seja, são várias formas que as pessoas entendem como se realizam um dogma, uma adoração divina. Prof. Dr. Renan Frighetto do departamento de História da UFPR

Por que cortar o cabelo?

Regulamentação dos monastérios e tentativa de unidade. A norma de tonsurar um monge tem os primeiros registros no início no século 4, no Primeiro Concílio de Niceia — uma reunião dos bispos para discutir questões doutrinais da Igreja Cristã. Na época, demonstrava-se uma necessidade de se regulamentar a vida nas comunidades monásticas.

Busca de austeridade. Apesar de a tonsura poder ter uma razão específica a depender do contexto em que está inserida — seja a época ou a região — é evidente que ela demonstra também um símbolo da busca por uma vida mais humilde.

Simboliza um desapego. Demonstra que o sujeito não está ligado a essas questões mundanas, como de aparecer sempre bem-arrumado, por exemplo. Isso se reflete tanto no cabelo quanto na própria roupa. O monge no ocidente, por exemplo, não tem barba, já que ela é um símbolo de distinção da aristocracia. Então, ele busca essa posição o mais austera possível. Prof. Dr. Renan Frighetto do departamento de História da UFPR

Identificação. Assim como há uma simbologia de austeridade, a tonsura também pode identificar os monges em meio à multidão. No século 7, em alguns reinos da Europa, por exemplo, a tonsura foi utilizada como mecanismo político.

O sujeito com a tonsura não pode participar de atividades políticas por definição. Não pode participar de guerra, por exemplo, de elementos que estejam fora do universo do mosteiro. Nesse período e região, portanto, ela é usada como arma política. Tonsurava-se aquela pessoa para impedi-la de participar da vida pública. No entanto, é necessário sempre analisar a tonsura com uma lupa para fazer um estudo mais preciso de cada contexto. Prof. Dr. Renan Frighetto do departamento de História da UFPR

É só do cristianismo?

A tonsura envolve uma cerimônia cristã, mas o hábito de cortar cabelo para conectar-se com a divindade não é exclusivo da Igreja. Os monges budistas, por exemplo, raspam a cabeça.

É novamente a ideia da austeridade. O corpo não é nada, a alma é que tem a importância. São pensamentos do oriente que circulavam muito e acabam influenciando o cristianismo. Prof. Dr. Renan Frighetto do departamento de História da UFPR