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Mãe de Miguel comemora decisão que considera privilégio branco: 'Histórico'

Mirtes ao lado de seu filho Miguel, que faleceu aos cinco anos - Arquivo Pessoal
Mirtes ao lado de seu filho Miguel, que faleceu aos cinco anos Imagem: Arquivo Pessoal

Do UOL, em São Paulo

04/07/2023 17h26Atualizada em 04/07/2023 17h39

Mirtes Renata Santana, mãe do menino Miguel Otávio, comemorou a decisão do TST (Tribunal Superior do Trabalho) de manter a condenação de Sergio Hacker Corte Real e Sarí Mariana Costa Gaspar — ex-prefeito e ex-primeira dama de Tamandaré (PE) — pela contratação irregular de trabalhadoras domésticas.

O que aconteceu:

Mirtes escreveu nas redes sociais que a decisão é "um momento histórico" por se basear no conceito de "racismo estrutural" e apontar o privilégio branco do casal (que tem envolvimento na morte do menino) após a condenação ao pagamento de indenização no valor de R$ 386 mil.

O valor da indenização será pago a um fundo de trabalhadores e, por se tratar de danos morais coletivos, não será destinado à Mirtes e a mãe dela. A decisão inicial era da Justiça Trabalhista de Pernambuco.

A mãe de Miguel relembrou o episódio que resultou na morte do filho e ressaltou que "se fosse o filho de uma amiga loira e rica, ela [Sarí] não abandonaria. "Os filhos dela cresceram naquele ambiente de elevador, de educação com qualidade, de oportunidades, meu neguinho não sabia andar no elevador e não adiantaria eu ensinar", escreveu.

A mãe ainda comentou que hoje será comemorado uma vitória, mas a luta contra o racismo e a impunidade continuará todos os dias.

Vamos seguir firmes na luta por justiça e onde não haja espaço para mudanças e entendimento das questões raciais e das estruturas que são permeadas pela branquitude, vamos entrar e mostrar. Essa decisão histórica nos lembra que juntos somos mais fortes e podemos mudar que, com empatia, solidariedade e respeito, podemos construir uma sociedade mais justa e igualitária para todos".
Mirtes Renata, mãe do menino Miguel Otávio

Entenda a decisão

O julgamento do TST ocorreu na última quarta-feira (28) e foi definido por ministros da 3ª Turma da Corte, segundo reportagem do Repórter Brasil. Mirtes era uma das trabalhadoras domésticas de Sergio e Sarí. O filho dela morreu após cair do 9º andar do prédio de luxo enquanto estava aos cuidados da patroa para que a trabalhadora passeasse com os cachorros da família.

O ministro Alberto Balazeiro disse à reportagem que as trabalhadoras domésticas são "o grupo mais impactado pelo racimo estrutural no país" e apontou que a morte do menino é "o desfecho de uma cadeia de problemas estruturais envolvendo as violações trabalhistas sofridas pela família de Mirtes".

A análise do TST, porém, é apenas o campo trabalhista, com análise da contratação ilegal de Mirtes e da mãe dela para trabalhar na residência do casal, e não abrange a esfera criminal — esta última segue em curso.

No ano passado, Sarí foi sentenciada a oito anos e seis meses de reclusão por abandono de incapaz com resultado em morte. A ex-primeira-dama de Tamandaré recorre da sentença em liberdade. Ela aguarda análise dos seus recursos em instâncias superiores.

Recentemente, Sarí foi aprovada no curso de medicina em uma faculdade de Jaboatão dos Guararapes (PE). A reportagem do Repórter Brasil entrou em contato com a defesa do ex-prefeito e da ex-primeira dama por e-mail, mensagem e ligação, mas não recebeu retorno.