Conteúdo publicado há 11 meses

Gerente que acusou modelo negra de furtar a própria blusa é afastado em SP

O gerente que teria acusado a modelo Daniela Orcisse, 35, de furtar uma blusa que já lhe pertencia foi advertido e afastado das funções na loja, em São Paulo.

O que aconteceu:

O funcionário "agiu sozinho, por iniciativa própria e sem o consentimento para sair da empresa [atrás da modelo]", informou o advogado Francisco Carneiro, defensor da loja Á guia Shoes, localizada no bairro São Mateus, na zona leste da capital paulista. O nome do gerente não foi divulgado, por isso, a reportagem não conseguiu contatá-lo em busca de um posicionamento em sua defesa.

A reportagem questionou o jurídico do estabelecimento sobre o segurança que teria acompanhado o gerente durante a abordagem, segundo denúncia da modelo, mas o setor negou a atuação de outro funcionário da loja no episódio. O homem em questão não foi identificado.

O advogado ainda alegou que a empresa está apurando os fatos para saber se "houve excesso na atitude do funcionário". "As providências legais, de acordo com as leis trabalhistas, estão sendo tomadas", finalizou.

A empresa está em contato com a advogada da vítima, Paloma Santos e Silva, para verificar "a melhor forma de reparação do ocorrido e manutenção da melhor relação entre as partes".

Daniela disse que ficou triste pelo afastamento do gerente porque as pessoas precisam trabalhar, mas reforçou que passou por "um constrangimento muito grande, uma vergonha". "Ele não poderia ter me abordado sem ter a certeza se, de fato, eu tinha pegado a blusa", afirmou.

Todo cliente é importante para a empresa. Ressaltamos que acreditamos na igualdade de todas as pessoas, independentemente de sua raça, etnia, religião, gênero ou orientação sexual. Todas as medidas cabíveis serão tomadas. A empresa atua contra qualquer forma de discriminação e estamos comprometidos em cultivar uma cultura de respeito mútuo, em que todos se sintam seguros. Como disse, estamos apurando todas as versões. Nosso objetivo é restaurar a confiança da cliente na empresa.
Francisco Carneiro, defensor da Águia Shoes

Entenda o caso:

A blusa que Daniela usava tinha um protetor de zíper, de papel manteiga, semelhante aos das peças do estabelecimento, localizado no bairro São Mateus, na zona leste da capital paulista. A modelo conta que o gerente tentou se explicar, dizendo ter pensado que o protetor em questão seria um "selinho" da loja usado nas roupas em exposição.

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A modelo conta que foi abordada pelo gerente da Águia Shoes e por um segurança, quando já estava em uma segunda loja, no último sábado (15). Ela teria tirado a blusa, que carregava nos braços, para mostrar que o item não possuía marca, recursos de segurança ou identificadores da loja. A peça, segundo Daniela, foi comprada há três semanas.

O gerente teria feito a abordagem após relato de uma suposta cliente que a viu saindo do estabelecimento carregando a blusa. Imagens da câmera de segurança de um outro estabelecimento, visitado por Daniela imediatamente antes da entrada na Águia Shoes, mostram a modelo com a blusa cobrindo os braços. "Passei por um constrangimento, uma vergonha tão grande. É horrível você ser acusado de algo que você não fez. (...) Todo mundo olhando, eu não desejo para ninguém", disse em vídeo nas redes sociais.

A advogada Paloma Santos e Silva testemunhou a abordagem e, ao ouvir a modelo repetir a frase "eu não roubei, eu não roubei", e se colocou à disposição para defendê-la.

A vítima e a advogada retornaram à Águia Shoes e solicitaram as imagens das câmeras de segurança, por meio de uma notificação extrajudicial, além de questionar se o alarme antifurto estava funcionando. O comércio teria se negado a ceder as imagens. A administração informou ao UOL que o equipamento não estava armazenando os vídeos captados.

Pouco depois, funcionários do local (incluindo gerentes) admitiram o erro, pediram desculpas e ofereceram um vale-compras para Daniela e a advogada, que recusaram. A vítima abriu um boletim de ocorrência online. A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) registrou o caso como calúnia e alegou que orientou a vítima "quanto ao prazo de representação criminal".

Eu perguntei para eles várias vezes, se fosse uma madame, uma loira aqui, vocês teriam essa abordagem? A gente precisa deixar claro, que foi o que eu falei para a Dani, o seguinte: eles a abordaram dentro de uma outra loja. Então, olha o constrangimento?
Paloma Santos e Silva, advogada de Daniela, ao UOL

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