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Modelo negra diz que foi acusada de furtar a própria roupa em loja de SP

A modelo Daniela Orcisse, 35, denunciou que foi vítima de racismo por um gerente de uma loja em São Paulo. Ele a teria acusado de furtar uma roupa que, na verdade, já a pertencia. O gerente foi afastado das funções nesta quinta-feira (20).

O que aconteceu:

A blusa que Daniela usava tinha um protetor de zíper, de papel manteiga, semelhante aos das peças do estabelecimento, localizado no bairro São Mateus, na zona leste da capital paulista. A modelo conta que ele tentou se explicar, dizendo ter pensado que o protetor em questão seria um "selinho" da loja usado nas roupas em exposição.

A modelo conta que foi abordada pelo gerente da Águia Shoes e por um segurança, quando já estava em uma segunda loja, no último sábado (15). Ela teria tirado a blusa, que carregava nos braços, para mostrar que o item não possuía marca, recursos de segurança ou identificadores da loja. A peça, segundo Daniela, foi comprada há três semanas.

O gerente teria feito a abordagem após relato de uma suposta cliente que a viu saindo do estabelecimento carregando a blusa. Imagens da câmera de segurança de um outro estabelecimento, visitado por Daniela imediatamente antes da entrada na Águia Shoes, mostram a modelo com a blusa cobrindo os braços. "Passei por um constrangimento, uma vergonha tão grande. É horrível você ser acusado de algo que você não fez. (...) Todo mundo olhando, eu não desejo para ninguém", disse em vídeo nas redes sociais.

A advogada Paloma Santos e Silva testemunhou a abordagem e, ao ouvir a modelo repetir a frase "eu não roubei, eu não roubei", e se colocou à disposição para defendê-la.

A vítima e a advogada retornaram à Águia Shoes e solicitaram as imagens das câmeras de segurança, por meio de uma notificação extrajudicial, além de questionar se o alarme antifurto estava funcionando. O comércio se negou a ceder as imagens. A administração informou ao UOL que o equipamento não estava armazenando os vídeos captados.

Pouco depois, funcionários do local (incluindo gerentes) admitiram o erro, pediram desculpas e ofereceram um vale-compras para Daniela e a advogada, que recusaram. A vítima abriu um boletim de ocorrência online. A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) registrou o caso como calúnia e alegou que orientou a vítima "quanto ao prazo de representação criminal".

Eu perguntei para eles várias vezes, se fosse uma madame, uma loira aqui, vocês teriam essa abordagem? A gente precisa deixar claro, que foi o que eu falei para a Dani, o seguinte: eles a abordaram dentro de uma outra loja. Então, olha o constrangimento?
Paloma Santos e Silva, advogada de Daniela

Loja diz que informações estão sendo verificadas

Em nota divulgada no Instagram, a Águia Shoes informou que está verificando as informações e tomará "medidas firmes contra qualquer forma de discriminação ou preconceito, promovendo a diversidade e a valorização da individualidade".

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"Estamos comprometidos em cultivar uma cultura de respeito mútuo, em que todos se sintam seguros e apoiados", finaliza a nota, sem citar o caso envolvendo a modelo.

A princípio queremos esclarecer que não há racismo na empresa. Estamos apurando devidamente os fatos e se houve excesso na atitude do funcionário da empresa. O funcionário já foi devidamente advertido e afastado e estamos tomando as providências legais, de acordo com as leis trabalhistas.
Estamos em contato com a advogada da cliente e verificando em conjunto a melhor forma de reparação do ocorrido e manutenção da melhor relação entre as partes. Todo cliente é importante para a empresa. Ressaltamos que acreditamos na igualdade de todas as pessoas, independentemente de sua raça, etnia, religião, gênero ou orientação sexual. Todas as medidas cabíveis serão tomadas. A empresa atua contra qualquer forma de discriminação e estamos comprometidos em cultivar uma cultura de respeito mútuo, em que todos se sintam seguros.

Águia Shoes, em nota ao UOL

"Racismo dói", diz modelo

Em entrevista ao UOL, Daniela definiu a situação como "complicada e dolorida" e disse que esperava ser ofendida na rua com insultos racistas, mas jamais imaginou ser chamada de ladra.

Com a voz embargada, a modelo disse que a vida parou desde o episódio e que está difícil retomar as suas atividades diárias em razão dos danos psicológicos sofridos em razão do episódio racista.

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