Após Viúva Negra aparecer em vídeo, Disque Denúncia muda cartaz de foragida
Após o UOL revelar a reaparição da Viúva Negra em uma chamada de vídeo para tentar negociar um imóvel no Rio, o Disque Denúncia atualizou o cartaz dela em seu site. Foragida há 30 anos e procurada pela Interpol nos EUA, a advogada gaúcha Heloísa Borba Gonçalves, 73, foi condenada pelo assassinato de um dos seus cinco companheiros. Os outros morreram de forma suspeita entre 1971 e 1993.
O que aconteceu
O cartaz do Disque Denúncia do Rio foi atualizado no domingo, um dia depois da publicação da reportagem sobre o caso. Nele, agora consta um número de WhatsApp (21 2253-1177) para quem tiver informações sobre o paradeiro da criminosa.
A Viúva Negra passou a aparecer na lista de pessoas procuradas pela Justiça em destaque no site. A entidade privada sem fins lucrativos recebe denúncias anônimas da população.
O programa já chegou a oferecer R$ 11 mil por informações que levassem a Heloísa. O valor foi o mais alto pago pelo Disque Denúncia do Rio por uma pessoa foragida entre 2011 e 2014. Hoje não há mais recompensa.
O que se sabe sobre o caso
A Viúva Negra fez um chamada de vídeo em janeiro de 2021 para um cartório na zona sul do Rio. A conversa com um tabelião do 15º Ofício de Notas era para passar a procuração de uma escritura de um apartamento avaliado em R$ 1 milhão em Ipanema para uma de suas filhas.
No momento em que o documento seria oficializado, porém, o 5º RGI (Registro-Geral de Imóveis) verificou uma irregularidade. A proprietária constava como casada com Nicolau Saad na matrícula do imóvel e como viúva no acordo de compra e venda.
Em agosto daquele ano, representantes da advogada apresentaram uma correção ao cartório, alterando o estado civil dela para divorciada. O 5ª RGI do Rio viu inconsistência nas informações e entrou com uma ação na Vara de Registros Públicos da Capital. O juiz Alessandro Oliveira Félix julgou procedente o caso e, em junho deste ano, impediu a transação do apartamento.
Rastros na Flórida
A moradia fixa de dois dos filhos de Heloísa em Boca Raton, na Flórida (EUA), ajudou a Interpol do Rio a rastrear a movimentação da advogada nos últimos 20 anos. Uma das filhas da Viúva Negra é proprietária de uma empresas de manutenção de piscinas e de regularização da situação de estrangeiros nos EUA. O outro filho dela é piloto e dono de empresa de transporte aéreo.
Em dezembro de 2000, a advogada assinou um documento para compra e venda de um apartamento em Miami. Nele, ela usa os sobrenomes de um dos maridos mortos e do marido à época, assinando como Heloísa Saad Lopez (foto acima).
Procurada, a defesa de Heloísa informou que não vai se manifestar a pedido da família.
A cronologia de namoro, casamentos e mortes
A primeira morte de um companheiro de Heloisa ocorreu dezembro de 1971. O médico gaúcho Guenter Joerg Wolf, 38, então namorado dela, bateu o carro contra um caminhão no interior do Rio Grande do Sul. Heloísa tinha 21 anos e estava grávida. No ano seguinte, registrou a filha com o sobrenome do médico, herdando uma casa na capital gaúcha.
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Quero receberEm dezembro de 1977, seu namorado, o advogado Carlos Pinto da Silva, sobreviveu a um atentado ao levar cinco tiros no peito enquanto passava férias com Heloísa em Salvador. Ele a acusou de tentar matá-lo, mas depois retirou a queixa. O caso foi arquivado pela Polícia Civil.
A segunda morte ocorreu em outubro de 1983. A advogada ficou oficialmente viúva pela primeira vez aos 33 anos, quando o securitário Irineu Duque Soares foi perseguido de carro e morto a tiros em Magé (RJ).
Heloísa, que estava no veículo com os filhos, chegou a ser investigada. Mas a polícia incriminou um homem que acabou morrendo em confronto com as forças de segurança. Ela herdou de Soares dois imóveis no Rio, carros e dinheiro.
Em maio de 1990, a Viúva Negra se casou com o comerciante milionário do Rio Nicolau Saad. À época, porém, ela estava casada com o policial militar Roberto de Souza Lopes e com o coronel Jorge Ribeiro.
O caçula de seus seis filhos teve dois registros de nascimento. No dia 25 de julho de 1990, o menino recebeu o sobrenome Saad. Três dias depois, Heloísa fez outro registro, identificando o coronel Jorge Ribeiro como o pai.
Em razão da bigamia e da falsidade ideológica, foi condenada em 2007 a 4 anos e 6 meses de prisão pela 19ª Vara Criminal do Rio — a pena não foi cumprida.
A terceira morte ocorreu em dezembro de 1991. Saad, 71, foi encontrado morto em seu apartamento. Heloísa herdou do comerciante, 30 anos mais velho, um patrimônio avaliado à época em R$ 30 milhões.
Condenação e outras mortes
A quarta morte ocorreu em fevereiro de 1992. Heloísa foi condenada a 18 anos de prisão por homicídio duplamente qualificado pelo assassinato do coronel Jorge Ribeiro, 54.
Ele foi amarrado, torturado e morto com marretadas na cabeça enquanto esperava por candidatos a um emprego em seu escritório em Copacabana, zona sul do Rio. A advogada foi acusada de ser a mandante do homicídio, ajudar na execução do crime e facilitar a fuga do assassino, que nunca foi identificado.
Ela foi julgada à revelia (quando o réu é comunicado do processo e não comparece para se defender no julgamento). Seus advogados alegaram que não consideravam o júri válido. A condenação da Viúva Negra aconteceu em agosto de 2011.
A quinta morte ocorreu em maio de 1993. Dez meses após o assassinato do coronel, um novo namorado de Heloísa também acabou sendo assassinado. O comerciante libanês Wagih Elias Murad, 84, foi baleado com o amigo Wagner Laino em um atentado no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio.
Após a morte de Murad, o filho dele contratou detetives e advogados para investigar o caso. Em outubro de 1993, o administrador Eli Murad foi vítima de um ataque a tiros que deixou uma bala alojada em sua nuca e matou o policial Luiz Marques da Motta, que estava com ele em um carro na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
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