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Quem era a médica achada morta dentro de mala em apartamento em SP?

Do UOL*, em São Paulo

20/08/2023 04h00Atualizada em 20/08/2023 13h23

A médica Thallita da Cruz Fernandes, 28, encontrada morta dentro de uma mala, com 30 facadas, no apartamento em que morava em um bairro tradicional de São José do Rio Preto (SP), era plantonista em uma unidade de saúde em Bady Bassitt, cidade vizinha, e apaixonada pela medicina.

Amor pela faculdade

A jovem se mudou para São José Rio Preto em 2016,para cursar a faculdade de Medicina na Famerp (Faculdade de Medicina de Rio Preto), onde se formou em 2021. Ela fez quatro anos de cursinho pré-vestibular para conseguir ser aprovada. Se graduar em uma faculdade pública de excelência, segundo a jovem, em relato nas redes sociais, era um "sonho de infância".

Apesar de ter falado "a vida toda" que gostaria de ser veterinária, a jovem desistiu do sonho após visitar uma universidade com o curso. No primeiro ano do vestibular, ela prestou Fisioterapia na USP (Universidade de São Paulo), passou para a segunda fase da prova, mas desistiu por não ser o que ela queria. Durante a caminhada até ser aprovada em medicina, foi chamada para o curso de Farmácia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Em postagens, ela ressaltou que a universidade pública era um "sonho de muitas pessoas que, infelizmente, pode não ser possível por conta de inúmeros fatores sociais, econômicos, etc."

A médica também tocava instrumentos musicais na bateria da faculdade e publicava fotos sorrindo com os objetos ao ensaiar e participar de competições.

Em 2016, a jovem chegou a se disponibilizar a tirar dúvidas de biologia, química e física para os estudantes que prestariam Enem e outros vestibulares, sem custo.

Anteontem fez 1 ano que passei no vestibular e hoje faz 1 ano que moro em São José do Rio Preto... E depois de um ano vejo como estou feliz e realizada, e como tudo aconteceu exatamente do jeito que tinha que ser. Amo a faculdade que faço, o lugar que moro, as pessoas que conheci e me sinto muito privilegiada de poder viver tudo isso! Com certeza foi o ano mais difícil da minha vida, tanto na esfera acadêmica como na pessoal: muitas novidades ao mesmo tempo, 420 km longe de casa e da família, professores e provas que sugam suas energias, e mais uns tapas da vida aí no momento que eu menos esperava... Mas junto com toda a dificuldade veio o ano de maior aprendizado que tive como pessoa, e sou muito grata por tudo isso!!
Postagem de Thallita em 2017

Thallita da Cruz Fernandes em foto publicada nas redes sociais Imagem: Reprodução/Facebook

Amor pela família

Nas redes sociais, a médica também divulgava a venda de chocolates feitos pela avó em Guaratinguetá, onde a mãe dela também vive, e a "culpava" por fazê-la ser chocólatra desde pequena.

A médica também publicava homenagens para a mãe e o pai durante datas comemorativas, agradecendo pelo apoio deles em sua jornada até a faculdade, e postava fotos de encontros familiares.

Em outros momentos, ela informava estar com saudades da família em razão da distância da faculdade.

Ao UOL, a avó de Thallita disse que a família está "muito abalada" e não consegue falar sobre o assunto. "Eu estou muito abalada, ela era a minha neta do coração. Ela era tudo para mim", disse à reportagem.

Mãe!!! Feliz Dia das Mães!!! Nós duas não somos muito fãs dessas datas, mas mesmo assim quero te agradecer por tudo o que você fez e faz por mim!! Do seu jeitinho, você me ensinou a ter coragem, a não ter medo de encarar opiniões, preconceitos e regras idiotas da sociedade. Obrigada por ser não só minha mãe, mas também uma amiga que posso contar qualquer coisa (e dar conselhos também hahaha). Te amo muito!!!
Postagem de Thallita em 2017

Publicações nas redes

Durante a pandemia da covid-19, Thallita divulgava postagens incentivando o uso correto da máscara, o distanciamento social e a higienização das mãos. Já nas eleições de 2018, a jovem apoiou as candidaturas de Fernando Haddad (PT) e Manuela D'Ávila (PCdoB), e escreveu "Ele nunca", em referência a Jair Bolsonaro (PL), eleito naquele ano.

A médica também se manifestava em publicações nas redes contra o machismo, incluindo o caso de estudante de medicina da faculdade que foi preso suspeito de filmar o corpo de mulheres, em 2018.

Não adianta vir dar parabéns dia 08/03 [no Dia Internacional das Mulheres] e ser um babaca e disseminar pensamentos machistas o resto do ano! Dizer que fulana não tem moral pra reclamar do assédio porque ela tava de roupa curta, forçar meninas a te beijar em festas e baladas, deixar mulheres nas ruas constrangidas pelas suas cantadas e 'fiu-fiu', fazer 'piadinhas' que só reforçam o machismo e ainda falar que 'o mundo ta muito chato'. Repense suas atitudes! Em vez de dar parabéns no dia oito de março, dê respeito o ano inteiro.
Postagem de 2017

Entenda o caso:

O corpo de Thallita foi descoberto ontem após uma amiga ir até o imóvel em que a médica morava verificar a razão pela qual, desde o dia anterior, a vítima não respondia às mensagens da mãe, que vive em Guaratinguetá, na região do Vale do Paraíba. Principal suspeito do crime, o namorado Davi Izaque Martins da Silva, 26, foi preso temporariamente.

Ao chegar ao prédio, o porteiro informou que a médica não havia saído da residência. Estranhando a situação, a amiga chamou a Polícia Militar.

Ao entrar no quarto, os militares encontraram a vítima morta, com o corpo nu, dentro de uma mala. Ela tinha diversos cortes no rosto e o banheiro estava ensanguentado.

Davi Izaque Martins da Silva, namorado de Thallita, está sendo apontado pela Polícia Civil como suspeito pelo crime. Ele foi preso no sábado (19) após a justiça expedir um mandado de prisão contra o homem.

(Com informações de Simone Machado, em colaboração para o UOL, em São José do Rio Preto)

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