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TV: Laudos das mortes no Guarujá mostram divergências com relatos dos BOs

Da esquerda para direita: Matheus Eduardo da Silva, Maicon Souza Santa Roza e Jefferson Junio Ramos Diogo morreram durante a Operação Escudo no Guarujá, mas não moravam no local, segundo testemunhas Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

21/08/2023 00h21Atualizada em 21/08/2023 00h21

Os laudos das mortes no Guarujá, no litoral de São Paulo, apontam divergências entre as versões registradas por policiais nos boletins de ocorrência. A apuração é do Fantástico, da TV Globo.

O que aconteceu:

A reportagem obteve o laudo e boletins de ocorrência de 15 casos, analisados por peritos de São Paulo e do Rio de Janeiro.

A matéria destacou o caso de três mortos na Operação Escudo que viviam na capital paulista, segundo testemunhas e parentes, mas foram mortos no Guarujá.

Todos os mortos na Operação Escudo foram levados para o IML (Instituto Médico Legal) de Praia Grande. Nos documentos obtidos pela reportagem não fica claro a razão pela qual a perícia não compareceu em todos os locais de crimes. Dos 16 boletins de ocorrência, apenas um tem perícia realizada, em três foram dispensadas e não há informação dos outros 12 casos.

A Operação Escudo, que já deixou 19 mortos, começou após a morte do soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) Patrick Bastos Reis, de 30 anos, morto após ser atacado durante um patrulhamento no Guarujá em 27 de julho.

Caso Matheus:

Matheus Eduardo da Silva, de 22 anos, morreu em 29 de julho. Policiais militares afirmaram ter visto dois homens armados, sendo que um deles teria apontado a arma e três agentes atiraram — sendo três tiros de fuzil e um de pistola. Um dos suspeitos fugiu na ação, e Matheus morreu. Os agentes ainda alegaram que o rapaz estava portando um revólver, maconha e cocaína.

O laudo de Matheus aponta que ele foi morto com dois tiros, sendo um pelas costas e outro atingiu o braço, perfurando coração e pulmão. Os peritos consultados pela emissora dizem que o rapaz estaria inclinado para frente quando foi alvejado, o que indicaria a posição de fuga e não de reação. O segundo tiro teria sido dado de lado e por isso atingiu os órgãos.

Não cabe em confronto tiro pelas costas, estaria fugindo. Se tá atirando, vai acertar alguém também pela frente. O laudo médico legal é fundamental. Claro que depois entram outros elementos de investigação, levantamento de testemunha.
Nelson Massini, perito

Matheus era usuário de drogas e morava em Heliópolis, na zona sul da capital. Ele tinha passagens por roubo, receptação e aliciamento de menores. A mãe do rapaz disse que ele nunca foi para o Guarujá e só conheceu a praia uma vez, em Ilhabela.

Uma vizinha afirmou que viu o rapaz em Heliópolis um dia antes de ser morto. Já outro amigo da família disse que, no mesmo dia, Matheus "tinha sido abordado pela Polícia Militar, e colocado dentro da viatura da polícia".

Caso Maicon:

Maicon Souza Santa Roza, 25 anos, morreu em 31 de julho. No boletim de ocorrência, policiais militares alegam que um homem apontou a arma e entrou em um barraco, atirando na sequência. A PM disse que reagiu disparando um tiro de fuzil e dois de pistola.

O laudo do rapaz mostra que ele morreu com cinco tiros, sendo que quatro deles sugerem que o homem já estava no chão quando foi alvejado, informaram os peritos ouvidos pela emissora.

Ele toma um tiro na perna, frontal, e cai. Os demais disparos foram feitos com inclinação. Já estaria deitado.
Nelson Massini, perito

Maicon nasceu na Bahia e foi processado por furto, tráfico de drogas e porte de armas. Ele foi acolhido duas vezes em centros de acolhimento na capital paulista, segundo a prefeitura, e participou de atividades para geração de renda e desenvolvimento educacional e social.

Caso Jefferson:

Jefferson Junio Ramos Diogo, de 34 anos, assim como Matheus, morreu em 29 de julho. Os policiais disseram que viram três homens armados, um deles apontou a arma, e os agentes reagiram, atingindo o homem armado. O boletim de ocorrência aponta que todos os criminosos fugiram, incluindo o ferido (que não deixou a arma no local do crime). Os agentes continuaram atirando e Jefferson morreu.

O laudo do homem mostra que ele morreu com quatro tiros, dois deles o incapacitariam de fugir. O último tiro foi na cabeça.

Ele toma um tiro na perna, que quebra o fêmur. Com essa fratura ele jamais correria. E também toma um tiro no braço, o que inviabilizaria de ele empunhar uma arma. Porque tiro no braço e na perna não mata. Mas o da cabeça eu diria que é o tiro de misericórdia. Não poderia nunca ser o primeiro, se supõe que seja o último.
Nelson Massini, perito

A família de Jefferson, de São José dos Campos, afirmou que ele era vivia nas ruas da capital paulista, já que o monitorava por saques bancários que ele fazia. O homem passou pelo atendimento social na capital dez dias antes de morrer.

O que diz a Secretaria de Segurança Pública:

Em nota à emissora, a SSP-SP afirmou "que todos os casos estão sendo investigados pela DEIC (Divisão Especializada de Investigações Criminais) de Santos com apoio do Departamento de Homicídios".

A pasta afirmou que não foram registrados "sinais de tortura ou qualquer incompatibilidade com os episódios relatados" em nenhum dos laudos do IML.

"Dos 19 casos de reação à ação policial que resultaram em morte, 11 envolveram policiais de batalhões que possuíam câmeras", ressaltou a pasta, alegando que o "conjunto de provas — incluindo imagens de câmeras corporais — têm sido compartilhado com Ministério Público e Poder Judiciário". O acesso às imagens foi negado à emissora. O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) recebeu imagens de apenas seis das 15 ocorrências com morte durante a Operação Escudo.

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