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'Quem toparia?': irmã cita olho de vidro e refuta morte de homem por aposta

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

23/08/2023 09h11Atualizada em 23/08/2023 11h02

A morte do chapeiro Sérgio Luiz Pereira, 43, na tarde de sexta-feira (18) após ele ter supostamente pulado de uma barca em movimento na cidade de Santos, litoral de São Paulo, "ainda precisa ser esclarecida", segundo a família. Pereira foi resgatado ainda com vida do mar por um passageiro, mas não resistiu. A família refuta a hipótese de que ele tenha pulado na água por conta de uma aposta de R$ 50 e acredita que ele possa ter sido "ameaçado".

A mãe do chapeiro, Marcélia da Silva Santos, e sua irmã, a influenciadora Anna Ísis, estiveram hoje na sede do 5° DP de Santos, na região portuária, para prestar depoimento sobre a morte de Pereira. Em entrevista ao UOL, Anna contou que a todo momento chegam supostas novas informações sobre o caso que, na opinião dos familiares, "precisa ser esclarecido".

"Meu irmão jamais teria feito uma idiotice dessas, aceitar se jogar na água para ganhar uma aposta. Em primeiro lugar, ele é deficiente visual, ele tinha um olho de vidro, que ele podia perder na água, ele sempre tinha o maior cuidado. Em segundo lugar, ele pulou de roupa e de tênis. Quem faria isso? Qualquer um sabe o peso que fica quando encharca", questiona Anna Isis.

Ela diz ainda que, além de todos esses detalhes, o irmão teria sido vítima de um acidente, ocorrido há cerca de três anos, quando caiu de uma altura de três metros e fraturou os dois tornozelos. "Ele tinha dificuldade para subir rampas ou fazer qualquer coisa que exigisse demais das pernas. Quem nessas condições toparia se jogar no mar por R$ 50?", pergunta.

Na opinião de Anna Isis e de sua mãe, Marcélia, a possibilidade de que Pereira tenha sido ameaçado por algum motivo e pulado no mar para fugir não estaria tão longe de ser real e, segundo a família, seria uma explicação mais plausível para o que aconteceu, principalmente porque, segundo testemunhas, o homem teria se jogado ao mar na chegada da embarcação, que vinha do Guarujá, ao atracadouro, já na margem de Santos.

Sérgio Luiz Pereira, 43, estava desempregado e fazia bicos como guardador de carros Imagem: Reprodução/Redes Sociais

"Existem muitas coisas que precisam ser levadas em consideração. Ele era um excelente nadador, nós fomos criados na Prainha, na maré (em referência à vila de pescadores localizada no canal de navegação do Porto, do lado do Guarujá). A gente nada desde pequeno, então mesmo que ele tivesse dificuldade, não ia se afogar".

Luto suspenso

Anna Isis diz que sua mãe, que é hipertensa, está "à base de remédios" para conseguir suportar a dor de perder o filho. Ela, porém, diz que até agora não conseguiu ainda viver o luto pelo irmão, que deixou órfãs duas filhas, de 18 e 20 anos, e dois netos.

"Meu luto foi suspenso porque estou nessa luta agora, de descobrir a verdade sobre o que aconteceu com meu irmão. A polícia diz que terá acesso às câmeras de monitoramento da barca de passageiros. Se houve mesmo uma aposta, o que a gente não acredita, nós precisamos ver, precisamos ter certeza", declarou.

Segundo a influenciadora, tem sido muito difícil para a família assistir aos vídeos que mostram Pereira já no mar, lutando pela vida. Em um áudio enviado a ela, o rapaz que se jogou na água para tentar salvar seu irmão contou que se indignou ao ver que havia mais de 50 pessoas na barca, mas que ninguém teria esboçado reação em ajudar Pereira. Em vídeos gravados por passageiros e publicados nas redes sociais, é possível ouvir pessoas dizendo que ele havia se jogado ao mar "por conta de uma aposta".

"Ficaram todos olhando, só quando esse rapaz pulou é que outros também pularam para ajudar. Mas meu irmão já tinha desmaiado. Ele me contou que meu irmão chegou a falar com ele antes de ser levado pela ambulância, dizendo que se sentia meio tonto e com frio".

Pereira morreu a caminho do hospital e, segundo Marcélia, a mãe, ele chegou a ser intubado e os paramédicos tentaram fazer a ressuscitação cardiopulmonar no interior da viatura, mas já não respondia mais aos estímulos.

O chapeiro morava com Marcélia, em uma casa nos fundos do terreno da família, em Vicente de Carvalho, distrito do Guarujá. Anna Isis mora numa outra residência, na frente do terreno, e diz que viu quando ele saiu de casa, na tarde de sexta-feira, para ir até a rodoviária de Santos, onde trabalhava como guardador de carros.

"Ele estava desempregado na profissão de chapeiro, mas era muito trabalhador. Não queria que nada faltasse para as filhas. Ele ajudava as pessoas a carregar as malas em troca de um dinheirinho, tomava conta dos carros. E estava empolgado porque começaria hoje (22) num emprego novo, como ajudante numa construção", contou a irmã.

"Tudo o que queremos agora é que esse mistério se resolva. Queremos saber a verdade, por mais dura que possa ser. Encontrei uma nova testemunha ocular do que aconteceu, mas ela está com medo de se envolver. Mas já dei um jeito dela ser ouvida na delegacia. Estou trabalhando dia e noite para ajudar a solucionar as circunstâncias da morte do meu irmão. Quem sabe depois disso poderemos descansar e, enfim, viver o luto, a dor pela perda dele".

O que dizem as autoridades

Em nota, a Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo) lamentou o incidente ocorrido na travessia Santos/Vicente de Carvalho. "A Semil está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações do caso e reforça, ainda, que a segurança dos usuários depende do respeito às orientações da tripulação e das equipes em terra", declarou.

Também em nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) informou que guardas portuários compareceram à delegacia e relataram a ocorrência. "Foi apurado que a vítima estava na travessia de uma barca, quando, em dado momento, pulou na água. Posteriormente, um barqueiro do local viu a vítima se debatendo e o socorreu".

O caso foi registrado como morte suspeita pela 5ª DP (Delegacia de Polícia) de Santos.

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