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Geleião, Lúcifer: no PCC, Marcola coleciona rivais e planos de assassinato

21.jan.2020 - Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola Imagem: Lucio Tavora/Xinhua/Folhapress

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

26/09/2023 04h00Atualizada em 26/09/2023 18h36

Apontado como líder máximo do PCC (Primeiro Comando da Capital) desde o início dos anos 2000, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, já protagonizou desafetos e travou rivalidades no mundo do crime, em sua maioria pelo poder, seja ele dentro da própria facção ou com demais organizações criminosas.

Preso atualmente em uma cadeia federal de segurança máxima de Brasília, Marcola assumiu o poder do PCC após vencer o "duelo" com dois fundadores do grupo criminoso, resultando na expulsão deles da facção.

Geleião e Cesinha

A grande primeira desavença de Marcola no PCC se deu contra dois dos fundadores do grupo, Márcio Felício, o Geleião, e Dionísio César Leite, o Cesinha.

14.dez.2017 - José Márcio Felício, o Geleião, um dos fundadores do PCC (imagem de arquivo) Imagem: FERNANDO DONASCI/Folhapress

O rompimento foi provocado pela morte da advogada Ana Maria Olivatto, com quem Marcola ficou casado entre 1990 e 1997. Eles se divorciaram, mas continuaram com grande amizade.

Marcola acusou Geleião e Cesinha de mandar assassiná-la em 22 de outubro de 2002 e mantém a versão anos depois, conforme relatou em audiência em outubro de 2017 à Comarca de Presidente Venceslau (SP). O trecho está no livro "A guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil", de Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias.

30.ago.2018 -- Fotografia de 30 de maio de 2002: César Augusto Roris da Silva, o Cesinha, então um dos líderes do PCC Imagem: Maurício Piffer/Folhapress

Ana foi morta quando se preparava para sair de casa, em Guarulhos. Ela levou dois tiros na nuca e não resistiu aos ferimentos.

Eu tive um problema com esses líderes do PCC. Eles mandaram assassinar minha esposa, a Dra. Ana Maria [Olivatto], que era advogada, e mandaram assassinar a mim. Eu declarei uma guerra contra eles.
Marcola, em audiência em outubro de 2017

Aurinete Carlos Félix da Silva, a Netinha, mulher do preso Cesinha, teria sido a encarregada de dar as ordens nas ruas, apontaram as investigações e a apuração interna da facção. Isso fez os membros do PCC se voltarem contra Geleião e Cesinha e ficarem ao lado de Marcola.

Geleião declarou em depoimento de 8 de novembro de 2002 à Polícia Civil de São Paulo que Netinha mandou matar Ana porque a advogada iria contar para Cesinha que a mulher dele tinha sido fotografada com policiais em um bar.

Já em depoimento à CPI do Tráfico de Armas, em 17 de maio de 2005, na Câmara dos Deputados, Geleião confirmou o racha, mas dessa vez negou envolvimento.

Houve um rompimento entre eu e o Marcola, foi agora em 2002, devido à Dra. Ana. Ele achou que a ordem tinha sido dada da diretoria [então cúpula do PCC], mas essa ordem não tinha sido dada da minha parte, mas houve a ordem realmente. A Dra. Ana também foi descoberto que ela andava passando uns telefones para a secretaria, que eram os telefones que eram grampeados, e assim através desses grampos a polícia conseguiria chegar até nós. E através disso ela morreu.
Geleião, na CPI do Tráfico de Armas.

O fato é que essa acusação contra Geleião e Cesinha resultou na expulsão deles do PCC, deixando o caminho livre para Marcola — que por sua vez nega que seja líder do grupo. Cesinha foi assassinado em 2006, na penitenciária de Avaré. Geleião morreu de covid-19, em 10 de maio de 2021. Já Netinha tem paradeiro desconhecido pelas autoridades.

Sandro, o Gulu

Outro desafeto dentro do PCC apontado como rival de Marcola foi Sandro Henrique da Silva Santos, o Gulu. Ele morreu na Penitenciária 2 de Mirandópolis.

Uma reportagem da revista Época, na ocasião, apontou que houve um racha no PCC após Marcola interferir no comando do tráfico da Baixada Santista, região que era dominada por Gulu, o que o teria desagradado — ele era o número 2 da organização criminosa, abaixo de Marcola.

"A disputa por poder só eclodiu agora porque Marcola não teria suportado correr o risco de ver seu posto ameaçado e teria resolvido minar o poder de seu antigo aliado e provável sucessor", escreveu a jornalista Solange Azevedo.

Em depoimento na CPI do Tráfico de Armas, o delegado da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, corroborou a versão. Ele afirmou que foi a partir da morte de Gulu que Marcola teria definitivamente assumido de vez o PCC.

Um dos opositores do Marcos Willians Herbas Camacho, que era o Sandro Henrique, o Gulu, acabou sendo morto, com todos os seus seguidores, dentro do sistema prisional recentemente, a coisa de 3 ou 4 semanas atrás. Isso torna hegemônico o poder do Marco Willians dentro do PCC, dentro do sistema prisional. Porque o único opositor dele na ocasião, do próprio PCC, era o Sandro. Ele conseguiu obter e angariar a boa vontade de todos os participantes do PCC.
Ruy Ferraz Fontes, delegado da Polícia Civil de São Paulo.

Lúcifer

Outro racha que gerou inimizade com Marcola dentro do PCC foi com Marcos Paulo da Silva, o Lúcifer. Diagnosticado com psicose, confessou — com orgulho — ser o autor de 48 assassinatos dentro de presídios de São Paulo.

02.08.2021 -- Lúcifer, em fotografia de 2018 Imagem: Reprodução

Ele é apontado como criador da facção "Irmandade de Resgate do Bonde Cerol Fininho", grupo criado quando teria rompido com o PCC em 2013.

"Ele rompe com o PCC. Na visão dele, o PCC começa a fugir daquilo que seria o intuito ou ideal da facção, que seria a opressão carcerária. O PCC começa, no olhar de Lúcifer, visar apenas o lucro. Com isso, ele se revolta e começa a matar", comentou a desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo, em entrevista à Record TV.

De acordo com o colunista do UOL Josmar Jozino, está no estatuto da facção a missão de matar inimigos, principalmente do PCC, sendo obrigatório decepar a cabeça e arrancar as vísceras das vítimas.

Bonde do Magrelo

A desavença pública mais recente atribuída a Marcola é em relação a Anderson Ricardo de Menezes, o Magrelo. Ele é conhecido por ser o fundador e líder do Bonde do Magrelo, facção que rivaliza o domínio do tráfico de drogas do PCC no interior de São Paulo.

Anderson Ricardo de Menezes, o Magrelo, acusado de ser o criador e líder de um grupo rival ao PCC Imagem: Divulgação

Para o MPSP (Ministério Público de São Paulo), Magrelo é um "criminoso de altíssima periculosidade, que não tolera desaforo de ninguém, nem mesmo de parceiros da própria quadrilha".

A rivalidade é tão exacerbada com o PCC pelo poder do tráfico no interior de SP que chegou a ganhar o apelido de "Marcola da oposição". Segundo o MPSP, o grupo rival do PCC tem como estratégia usar rastreadores em carros das vítimas de emboscadas.

A prisão de Magrelo ocorreu em 23 de maio de 2023 em Borborema (SP).

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