Advogado: Sara Mariano tinha medo de 'perder a vida' caso se separasse
Do UOL, em São Paulo
30/10/2023 20h07Atualizada em 30/10/2023 20h29
O advogado contratado pela família de Sara Mariano, achada carbonizada em uma estrada na última semana, afirmou que a cantora gospel tinha medo de pedir a separação do marido, Ederlan Mariano, que está preso por suspeita de ser mandante do crime. A defesa dele nega que ele tenha confessado, como divulgado pela polícia.
O que aconteceu:
O advogado Marcus Rodrigues, que representa a família de Sara, afirmou que a cantora gospel temia pedir o divórcio por três motivos: afastamento do lar, ser julgada por causa da religião e "perder a vida".
A mulher de 35 anos vivia um relacionamento tóxico com Ederlan e repleto de violência, segundo o advogado. O casal estava junto havia 13 anos e tem uma filha de 11 anos.
Sara também era agredida física e psicologicamente todos os dias, de acordo com o advogado. Ele aponta que Ederlan consumia muita bebida alcoólica e ofendia a companheira na frente de outras pessoas.
Ela [Sara] tinha muito medo dele. Em conversa com a própria mãe do acusado, ela disse que estava pensando em separar, porque não via mais outra alternativa. A mãe [de Ederlan] falou: 'não separe, que se você separar ele vai te matar'. Então assim, ela tinha três medos com a separação: o afastamento do lar, ser julgada por causa da religião e de perder a vida.
Marcus Rodrigues, advogado da família de Sara
Já Dolores, mãe da cantora, afirmou que o genro foi um homem "calculista e frio". Ela explicou que a filha e Ederlan se conheceram na internet e Sara acabou um noivado para poder ficar com o atual companheiro. As falas de Rodrigues e Dolores foram concedidas à TV Bahia, afiliada da TV Globo, e ao portal Alô Juca, no Instagram.
A mãe da cantora gospel disse que a filha revelou aos familiares que era agredida pelo companheiro apenas em maio deste ano.
Segundo Dolores, a filha era agredida verbalmente e com socos, mas continuou no relacionamento: "Eu prometi para Deus esse casamento e eu vou cumprir", teria dito a cantora para a mãe.
A mãe de Sara reforçou a versão da irmã da vítima, que já havia dito que a mãe e a cantora conversaram na segunda-feira (23) e Sara disse que teria algo "muito sério" para contar. A influenciadora não chegou a revelar qual seria o assunto para a mãe. Sara sumiu no dia 24.
[Ederlan agredia Sara] verbalmente, com palavras, e também socos. Deus me revelou e eu dizia para ela. E ela: 'não, mãe, não é verdade'. Depois que ela foi dizer 'mãe, não aguento. Ele me agride de todas as formas'. (...) Ela chegava de igreja e ele estava bêbado. Teve um dia que ela abraçou a filha dela porque ele estava nu e querendo fazer sexo com ela. E ela disse assim: 'Respeita, rapaz, que eu tenho um amigo policial e eu vou chamar esse amigo'. E ele respondeu: 'Você fala e eu vou acabar com toda a sua raça onde você estiver. E ela disse 'mãe, eu tenho muito medo. Muito medo de falar para a polícia e ele me matar'.
Dolores, mãe de Sara
Defesa nega confissão
Otto Alencar, advogado de defesa de Ederlan, afirmou que o cliente não confessou ter mandado matar a esposa, como divulgado pela polícia. Ele ainda ressaltou que Ederlan colabora com as investigações. A entrevista foi concedida ao Alô Juca.
Alencar declarou que o cliente foi traído por Sara mais de uma vez durante o relacionamento deles. A família da vítima contesta essa versão.
Deixando bem claro. Não estou julgando poliamor, multiamor, direitos das mulheres de livre arbítrio para se relacionarem com quem quer que seja. Estou tratando de princípios que ela pregava na igreja, que pregava nas redes sociais, no mundo espiritual, e no mundo carnal praticava outra.
Otto Alencar, advogado de Ederlan
Sobre os relatos de que Sara faria aos familiares sobre as agressões de Ederlan, o advogado do marido disse achar "estranho" que ela não tenha feito um boletim de ocorrência em 13 anos de relacionamento. "Uma mulher que sofreu tanto e nunca procurou a polícia. Me causa estranheza. É o que eu digo: nunca ouça a história da Chapeuzinho [vermelho] apenas na versão da Chapeuzinho porque se não o lobo sempre será considerado mau."
A reportagem também tenta contato com a defesa de Ederlan. A nota será atualizada tão logo haja manifestação.
Entenda o caso:
Sara estava desaparecida desde terça-feira (24) após sair de casa para ir a um evento em uma igreja evangélica e não retornar. A cantora tem mais de 60 mil seguidores em suas redes sociais, onde compartilhava participações em cultos, vídeos cantando e fotos pessoais.
Um motorista buscou Sara em sua casa e teria sido enviado pela instituição religiosa, ainda não identificada. Ela chegou a gravar alguns vídeos registrando a ida, inclusive passando por pedágios.
Na tarde de sexta-feira (27), o marido da cantora gospel disse que reconheceu um corpo carbonizado em uma estrada como sendo da companheira. O corpo estava em uma estrada, no município de Dias d'Ávila, na região metropolitana de Salvador.
Apesar de o marido de Sara apontar que o corpo seria da cantora, cabe ao DPT (Departamento de Polícia Técnica) fazer os exames para confirmar a identidade, de acordo com a Polícia Civil.
Na manhã de sexta-feira (27), antes da informação sobre a morte, Ederlan Mariano afirmou que registrou um boletim de ocorrência por conta do desaparecimento. Questionado, Ederlan disse não saber qual era o nome da igreja que a esposa tinha como destino. Além disso, de acordo com ele, Sara não recebia formalmente pelas participações nas igrejas, mas sim ofertas voluntárias dos membros.
Soraya Correia, irmã de Sara que mora no Ceará, disse na tarde de sexta-feira (28), logo após o corpo ser achado e reconhecido por Ederlan, "não tirar da cabeça" que o marido e outra pessoa teriam envolvimento na morte de Sara. A entrevista ocorreu em transmissão ao vivo do perfil Alô Juca, no Instagram.
Sara foi velada e enterrada nesta segunda-feira (30), no cemitério da Quinta dos Lázaros, no bairro Baixa de Quintas, em Salvador.
Em caso de violência, denuncie
Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.
Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.