MP apura fala de ex-PM que minimizou pena por violar corpo de mulher morta
Do UOL, em São Paulo
06/12/2023 21h45Atualizada em 06/12/2023 23h12
A fala do ex-policial militar Evandro Guedes, que minimizou a pena por violar sexualmente corpos de mulheres mortas, será investigada em um inquérito civil do MPPR (Ministério Público do Paraná).
O que aconteceu:
A declaração do ex-PM será inserida em um inquérito civil em tramitação no órgão que já apura declarações de professores da AlfaCon, escola preparatória para concursos públicos da qual Guedes é diretor-presidente.
Segundo o MP, as falas dos professores da instuição, ocorridas em aulas, manifestam a "violação de direitos, preconceito, reiterado discurso de ódio e incitação à prática de crimes".
O MPPR afirmou que tomou conhecimento do vídeo na terça-feira (5), um dia após a repercussão nas redes sociais, e explicou que o registro aborda "suposta violação sexual de mulher morta, como exemplo em aula". O vídeo seria antigo, segundo o órgão.
A 12ª Promotoria de Justiça de Cascavel, responsável pelo inquérito civil, informou ter designado uma reunião com os sócios da Alfacon em janeiro de 2024 para assinar um termo de ajustamento de conduta.
O termo incluiria um treinamento periódico e obrigatórios aos professores da empresa. O órgão também citou uma multa por dano moral coletivo com "a destinação de valor para custear e fomentar a realização de campanhas educativas de combate à discriminação e intolerância e/ou projetos sociais com o mesmo foco".
A aplicação de multa por dano moral coletivo deve ocorrer, segundo o MPPR, em "virtude dos episódios de discriminação e intolerância praticados no âmbito da pessoa jurídica e pessoas naturais investigadas".
O UOL tenta novo contato com Guedes e com a escola para pedido de posicionamento. Caso haja resposta, o texto será atualizado. O espaço segue aberto para manifestação.
Entenda o caso:
No registro que será apurado pelo MPPR, Guedes aparece em uma sala de aula falando sobre vilipêndio de cadáver, considerado crime contra o respeito aos mortos, previsto no artigo 212 do Código Penal Brasileiro. A pena prevista é de um a três anos de detenção e multa. As imagens circularam pelas redes sociais nesta semana, mas não há confirmação sobre quando foram gravadas.
Para exemplificar, ele cita as assistentes de palco que participavam do programa Pânico. "Meu irmão, com aquele 'rabão'. E ela infartou de tanto tomar 'bomba' na porta do necrotério. Duas da manhã, não tem ninguém, quentinha ainda. O que você vai fazer? Vai deixar esfriar? Meu irmão, eu assumo o fumo de responder pelo crime", diz o então professor da AlfaCon.
O ex-policial ainda ensina a usar secador de cabelo no corpo após ele esfriar e diz que aquele dia seria o "mais feliz da sua vida, irmão". "É crime? É. Você mexeu com a honra do cadáver", admite.
Ao final do vídeo, Guedes debocha do pai da suposta vítima ao descobrir o crime e completa: "Mas a pena é desse 'tamanhozinho'. Vale a pena responder".
Após a repercussão, Evandro Guedes negou, em transmissão ao vivo no Instagram, que tenha defendido o crime. "Eu dei um exemplo de vilipêndio de cadáver", disse.
Em 2020, a AlfaCon divulgou uma nota para informar que o ex-policial havia deixado a escola. Porém, Guedes aparece em outros anúncios mais recentes divulgados pela empresa, como um evento em agosto.
Após a repercussão, na terça-feira (6), a AlfaCon divulgou uma nota nas redes sociais e acusou o vídeo de ser "editado para parecer que o professor em questão era praticante do crime". "O que não é verdade", segundo a escola, que disse se tratar apenas de um "exemplo fictício e caricato para ilustrar uma situação do direito penal".
O vídeo é antigo, uma aula ao vivo do YouTube que foi retirada do ar para que nenhuma pessoa mais faça mau uso do conteúdo e em respeito a todos que possam se sentir ofendidos com a colocação. Ao longo dos nossos 13 anos de existência, mantemos uma firme convicção no poder transformador da educação como impulsionadora da mudança social e da estabilidade financeira.
AlfaCon, em nota
Outras falas polêmicas
Evandro Guedes já é conhecido por falas polêmicas. Em outubro de 2020, circulou um vídeo em que ele aparecia declarando mensagens machistas, racistas e até mesmo defendendo violência contra civis.
No registro, Evandro diz que os homens, caso se ingressem na PRF (Polícia Rodoviária Federal), serão "aqueles caras f*da (sic), que toda mulher vai querer dar se fosse solteiro". Diz ainda que eles poderão "dar carteirada em todos os put*iros".
Ao citar atos de agressão, ele demonstra orgulho no vídeo de seus atos. "Evandro, você era violento na Polícia Militar? Muito violento", diz o empresário perguntando para si mesmo e respondendo logo em seguida.
Guedes é próximo da família Bolsonaro. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), já apareceram em vídeos ao lado do ex-policial.