Tem aeroporto de ônibus! Australiano revela 'maravilhas ocultas' do Brasil
Abinoan Santiago
Colaboração para o UOL
11/12/2023 04h00Atualizada em 11/12/2023 06h56
O australiano Simon Gurney, de 27 anos, completou um ano morando no Brasil em outubro. Desde então, percorreu 14 capitais, fez tatuagens em homenagem a dez estados, casou com uma miss e provou a variada culinária por onde passou.
Ele amou, é claro, a beleza exuberante da floresta Amazônica e das praias famosas do Rio, mas, em sua temporada no Brasil, Gurney também elenca "maravilhas ocultas" do nosso país —aquilo que passa batido para os brasileiros, mas é incrível para quem chega de longe.
Estão nessa lista as rodoviárias brasileiras e o CPF —responsáveis por parte do choque cultural que ele sentiu e por fazer crescer o amor pelo Brasil em seu coração australiano.
Antes de obter o famigerado CPF e andar de ônibus interestadual pela primeira vez, Gurney se apaixonou pela língua portuguesa em Sydney. Foi amor à primeira audição quando passou a dividir apartamento com universitários brasileiros.
Sabe como é brasileiro, né? Gosta de papo. Como eles estavam sempre em casa conversando, aproveitei para aprender português. Assim surgiu o interesse e fiquei apaixonado pela língua. É muito bonita.
O australiano hoje vive temporariamente em Boa Vista, Roraima (que, aliás, virou a tatuagem explicativa "É Roraima e não Rorãima!") , e compartilha sua experiência no Brasil com milhares de seguidores nas redes sociais.
"Ouvi tanto sobre o Brasil que isso me fascinou e, de fato, é um país fascinante, com tantas culturas, gêneros musicais e comidas. Fiquei com muita vontade de conhecer e finalmente consegui quando terminou a pandemia."
De dois meses ao infinito
Gurney comprou passagem de ida e volta. A ideia era ficar apenas dois meses no Brasil, mas, após conhecer a região Sudeste, a vontade de desbravar o restante do país falou mais alto.
O australiano, que passou primeiro por São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Vitória, seguiu para o Centro-Oeste e depois para a região Norte. Ao todo, já são 14 estados visitados por ele. Gurney fez tatuagens em homenagem às regiões que visitou, e a ideia é chegar a 27 —uma para cada unidade da Federação.
"O Norte me encanta por vários motivos. A primeira coisa é a natureza. A floresta é fascinante, um espetáculo. É literalmente a maior floresta tropical do mundo."
A culinária do Norte é outro ponto fora da curva. E uma iguaria conquistou seu coração mais do que as outras.
"Das comidas eu posso falar por mil anos, mas a minha favorita realmente é o x-caboquinho. Tem tucumã, queijo e banana frita. É um sanduíche divino, eu amo muito, tanto que tatuei x-caboquinho em mim. Esse sanduíche é vida."
O Norte é uma região tão bonita e até um pouco esquecida. Deveria receber mais atenção e é um pouco subestimada, o que é curioso porque, fora do Brasil, o que a gente mais sabe sobre o Brasil, além do Rio, é a floresta amazônica.
Simon Gurney
E foi no Norte, em Boa Vista, que Gurney conheceu a sua esposa, a miss Roraima 2021, Jéssica Oliveira, durante um passeio turístico.
Ambos moram temporariamente na capital mais setentrional do país, mas o casal analisa a cidade onde pretende fixar residência após o Natal —quando vão sair de viagem para conhecer todos os nove estados do Nordeste.
Das rodoviárias ao CPF
Dos diversos choques culturais que Gurney passou ao longo do período no Brasil, os ônibus interestaduais e a necessidade do CPF chamaram a atenção.
Gurney afirma que a Austrália não tem rodoviária como conhecemos aqui, o que dificulta viajar pelo país. O percurso é de avião ou carro próprio. Quando chegou ao Brasil, o australiano disse que ficou fascinado por algo que, para os brasileiros, é tão comum quanto a luz do sol e às vezes até mesmo desdenhado: as rodoviárias.
"Isso foi algo que me encantou. As rodoviárias abriram meus olhos para a oportunidade de viajar pelo Brasil porque sem elas eu não teria conhecido. E não sabia disso antes de chegar. Amo os ônibus aqui no Brasil. Na Austrália tem ônibus nas cidades, tem interestadual, mas é algo muito raro e pegamos em algum ponto combinado. Não existe rodoviária para você entrar como se fosse um aeroporto de ônibus."
Casado com uma brasileira desde setembro, Gurney agora também tem CPF, com os 11 dígitos já na ponta da língua. Isso foi um alívio. Um número único de documento para cada cidadão não existe na Austrália, diz ele, e lá não é comum pedirem um registro de identificação para tudo.
Finalmente, tirei meu CPF. Nossa, que coisa boa, fiquei muito feliz. Na Austrália, o cidadão tem um número, mas é apenas para pagar imposto. O CPF aqui vai além disso, se usa para tudo: abrir inscrição da academia, ter chip de celular, compras, descontos. É difícil fazer qualquer coisa no Brasil sem o CPF e até já decorei o meu.
Simon Gurney
Quem não gosta do 'eita'?
A variedade de gírias e interjeições, faladas sem cerimônias em qualquer lugar do Brasil, também fez a alegria do australiano por aqui. Afinal, um "eita" pronunciado com gosto é uma delícia brasileira a que poucos resistem.
A imersão na língua portuguesa foi tanta que Gurney passou a incorporar palavras típicas daqui mesmo quando está falando inglês.
"Tem o vixe, oxi, eita, opa", diverte-se. "Todas essas palavras que vocês têm e eu acho tão bacana... Eu até falo isso em inglês agora. Eu falo 'opa' e 'eita' sem ter sentido em inglês, mas eu peguei o costume de falar."
Outra "maravilha" brasileira é a diversidade cultural —algo que deixou o australiano fascinado logo nas primeiras viagens. É como se existissem muitos Brasis dentro de um só.
"Os quatro estados do Sudeste são praticamente países diferentes, tanto em paisagem quanto na língua. O mesmo no restante do país. A fala em Manaus é totalmente diferente da do Recife", diz ele, que quer conhecer cada cantinho do Brasil antes de fixar residência.