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Comerciantes reclamam de prejuízos após rompimento de mina em Maceió

A comerciante Tereza Barros, na Feirinha de Artesanato da Pajuçara, em Maceió Imagem: Jean Albuquerque/Colaboração para o UOL

Jean Albuquerque

Colaboração para o UOL, em Maceió

16/12/2023 04h00Atualizada em 16/12/2023 17h11

Artesãos do Pontal da Barra e da Feirinha de Artesanato da Pajuçara —tradicionais pontos turísticos de Maceió— dizem sofrer prejuízos após colapso envolvendo a mina da Braskem. Órgãos ligados ao setor, porém, afirmam que houve pouco impacto para a região.

O que aconteceu

Comerciantes relatam baixo movimento de turistas e a diminuição das vendas, desde o final de novembro, quando a situação de emergência foi decretada. Túlio Farias, 36, que trabalha com a venda de bordado filé há três anos, afirma que o movimento caiu pela metade.

A artesã e comerciante Ariana Carneira, 38, vende artesanato no Pontal da Barra, e conta que tem sofrido um impacto grande nas vendas. "Os turistas estão vindo aos poucos e perguntando, questionando se aqui está sendo afetado. A gente explica que é distante, que pode usufruir tranquilamente da cidade, principalmente do nosso turismo no bairro", diz.

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Filho do proprietário de um restaurante no mesmo bairro, Gabriel Cardoso, 19, afirma que o movimento também diminuiu. O local fica próximo da margem da Lagoa Mundaú e, de acordo com ele, muita gente tem medo de que a mina —apesar de distante— possa afetar diretamente a comunidade do Pontal. "Vinha mais cliente e agora tem reduzido até mesmo o número de confraternizações aqui.", conta.

A comerciante Tereza Barros, 50, que trabalha na Feirinha de Artesanato na Pajuçara, na orla de Maceió, diz acreditar que turistas estão cancelando as viagens. "Minha família que vinha pra cá decidiu ir para Bahia. Não dá para mensurar os prejuízos, mas está tudo muito parado. Esta é a época em que todo mundo ganha dinheiro, meu marido trabalha com coco na praia e está horrível o movimento".

A vendedora Andresa Raíza, 22, também trabalha na feirinha e conta que as vendas "estão péssimas". Ela esperava um aumento de 200%, mas diz que o faturamento até o momento ficou em 10%.

A gente não esperava um dezembro assim. Foi um baque, sem brincadeira. Não tem explicação para o que aconteceu, está impactando tudo.
Andresa Raíza, comerciante

Os turistas estão receosos. Não dá pra mensurar, mas vamos dizer que [as vendas] de 100% caíram para 50%.
Túlio Farias, comerciante

Comerciante Túlio Farias Imagem: Jean Albuquerque/Colaboração para o UOL

Falta de transparência e incertezas

A professora do Instituto Federal de Alagoas, Adriana Thiara Oliveira, pesquisa, há mais de cinco anos, os impactos ambientais provocados pelo Turismo. Doutora e mestre em políticas públicas, ela destaca a falta de transparência para a condução da crise envolvendo o colapso da mina da Braskem.

Adriana relata que quando o caso começou a receber projeção nacional, foi possível perceber a sensação de pânico dos turistas. "Os áudios que estavam circulando eram de que a cidade iria afundar, iria implodir. Isso gerou pânico nas pessoas".

Para a professora, nenhum órgão do governo tem um observatório de Turismo na cidade para conseguir mensurar os impactos causados. "Quem está lá na ponta, que recebe o turista, que acompanha o artesão, a pessoa do restaurante, o ambulante, a turma está sentindo, porque realmente está um esvaziamento na cidade".

Os órgãos oficiais não têm trazido a responsabilidade de um diálogo franco, aberto, transparente, e a gente demorou quase uma semana para ter uma informação oficial, foram dias de pânico na cidade
Adriana Thiara Oliveira, professora do Instituto Federal de Alagoas

Ministro do Turismo visita Maceió

O ministro do Turismo, Celso Sabino, e o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, chegam a Maceió hoje para uma reunião sobre o impacto da crise da mineração sobre o turismo em Alagoas. A visita foi articulada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Quem participará do encontro: representantes da ABIH/AL (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Alagoas), Maceió Convention, Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), ABAV (Associação Brasileira das Agências de Viagens), SINDHAL (Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação de Alagoas) e do Sindetur (Sindicato das Empresas de Turismo do Estado de Alagoas).

Órgãos alegam pouco impacto e normalidade

Apesar da reclamação de comerciantes, pastas ligadas ao Turismo —tanto no município como no estado— e entidades ligadas ao setor afirmaram que o rompimento da mina 18 não causou prejuízos ao turismo local.

Dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Alagoas apontam que os resorts estão com 92% da ocupação, para o período do Revéillon. A taxa de ocupação média nos hotéis e pousadas do estado durante dezembro é de 77%.

A taxa de ocupação estimada para as festividades de fim de ano é de 85%, com estimativa de que 38 mil leitos já estejam reservados. A rede hoteleira do estado conta com cerca de 45 mil leitos.

A pasta afirma que tem repassado todas as informações necessárias sobre o segmento no sentido de combater a desinformação. "Claro que reconhecemos a seriedade dos problemas causados pela Braskem, mas é importante não gerarmos uma segunda crise para o estado", destacou em pronunciamento a secretária de Estado do Turismo de Alagoas, Bárbara Braga.

A Secretaria de Turismo de Maceió informou que, segundo a Abih-AL, houve poucos cancelamentos de reservas hoteleiras . "Tanto o setor turístico quanto a prefeitura estão empenhados em esclarecer dúvidas e oferecer informações sobre a situação do Turismo na capital, em decorrência do crime ambiental causado pela Braskem", diz a pasta.

A secretaria afirma que tem promovido reuniões regulares com operadoras de turismo e agentes de viagens. "O município disponibiliza canais oficiais de comunicação em tempo real para relatar os acontecimentos, responder dúvidas e fornecer orientações. Além das redes sociais, os contatos telefônicos (82) 99949-9612 (WhatsApp) e 199 da Defesa Civil estão à disposição", finaliza a nota.

A Abih informou não haver dados sobre o impacto da mina no turismo de Alagoas. "O trade turístico trabalhou para disseminar informações verdadeiras, fazer campanhas e explicar para quem procurava informação que ele estaria seguro", esclareceu.

A Abrasel informa que até o momento não foi sentida queda em relação ao movimento de turistas nos bares e restaurantes de Alagoas. Além disso, disse que só é possível mensurar esse tipo de queda de movimentação próximo ao final do ano, quando eles chegam até a cidade.

Entenda o caso

No último domingo (10), a Defesa Civil de Maceió informou que parte da mina 18 da Braskem sofreu rompimento às 13h15. Até o momento não se sabe ainda o tamanho da cratera aberta sob a água.

A Braskem mantinha na região a exploração de sal-gema — que começou na década de 1970 e foi encerrada em 2019. A mineradora possui 35 minas; uma delas é a 18. Em cinco anos, desde o aparecimento das primeiras rachaduras, mais de 14 mil imóveis tiveram de ser evacuados em cinco bairros, o que afetou cerca de 60 mil pessoas.

O afundamento do solo acontece em área onde houve extração de sal-gema, um cloreto de sódio que é utilizado para produzir soda cáustica e PVC. A Braskem nunca assumiu oficialmente a responsabilidade pelo afundamento de cinco bairros em Maceió, segundo o Ministério Público Estadual.

A empresa já afirmou que sua prioridade é a "segurança das pessoas". "Por isso, vem adotando todas as medidas necessárias para mitigar, compensar ou reparar impactos decorrentes da desocupação de imóveis nos bairros de Bebedouro, Bom Parto, Pinheiro, Mutange e Farol", diz.

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