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Se ele defende segurança, devia dar exemplo, diz advogada da ex de Da Cunha

Do UOL, em São Paulo

19/03/2024 04h00Atualizada em 19/03/2024 08h12

A advogada Gabriela Manssur, que representa a ex-companheira do deputado federal Carlos Alberto da Cunha, o Delegado Da Cunha (PP-SP), diz que ele devia dar exemplo, pelo cargo que ocupa e, principalmente, por defender a pauta da segurança pública. Áudios mostram ameaças e ofensas de Da Cunha a Betina Raísa Grusiecki, que o denunciou também por agressão. O deputado admite agressões verbais, mas nega qualquer violência física.

O que aconteceu

Esse caso me impactou pela vulnerabilidade da vítima, por ela ser mais nova, mais fraca fisicamente, estar muito abalada psicologicamente e pelo cargo que a pessoa [Da Cunha] ocupa como delegado e deputado federal. Uma pessoa que exerce um cargo desses não pode ter esse comportamento, tem que ser exemplo para a sociedade, principalmente defendendo a pauta de segurança pública. Direito das mulheres também é uma pauta de segurança pública."
Gabriela Manssur, advogada de Betina e especializada na defesa de direitos da mulher

'Desmaia aí', diz deputado Da Cunha em vídeo que mostra agressão. O conteúdo principal da gravação é o áudio, porque o celular que fez as imagens estava em uma bolsa. No vídeo, é possível ouvir Da Cunha, de 46 anos, ameaçar de morte Betina, de 28. Ela relata que ele também a empurrou com força e a sufocou, fazendo-a perder os sentidos. Depois, o deputado teria batido a cabeça dela contra uma parede. O IML comprovou escoriações e ferimentos leves.

Vídeo mostra agressões de Da Cunha contra ex-companheira Imagem: Reprodução/TV Globo

A gravação é de 14 de outubro de 2023. O casal estava em Santos, no litoral de São Paulo.

Abalo emocional. Manssur diz que Betina chegou ao seu escritório física e psicologicamente alterada. "Ela ficou completamente abalada emocionalmente após as agressões. Tremia tanto, de medo, de trauma, assustada, que ficamos preocupados", afirma. Ela também teria tido crises de pânico.

Medo de divulgar o vídeo. "Ela estava com muito medo. Uma moça de 28 anos, desprotegida, com a mãe morando em Santa Catarina e o pai, em Santos, são mais velhos. Ele a acusou de tê-lo agredido, disse que ia colocá-la na cadeia, ameaçou." A nutricionista relatou à Justiça ter batido um secador na cabeça de Da Cunha durante a briga, para interromper as agressões. O Ministério Público concluiu que foi legítima defesa.

Divulgar vídeo para se defender. Manssur diz que decisão foi tomada para a "comprovação dos fatos", porque a defesa de Da Cunha estaria tentando invertê-los ao acusar Betina de agredi-lo. Em audiências, então, Betina e sua mãe informaram a existência das gravações.

O objetivo dela [Betina] não é prejudicar alguém injustamente, mas sim lutar por justiça.
Gabriela Manssur, advogada de Betina e especializada na defesa de direitos da mulher

Betina ficou quase três meses afastada do trabalho. "Hoje, ela está reestruturando a vida, como mulher e como profissional", diz. "Ela recebeu muitas mensagens de apoio de mulheres".

Betina agradeceu as mensagens de apoio que vêm recebendo após denunciar o ex-companheiro, o deputado Da Cunha (PP-SP) Imagem: Reprodução/Instagram

Para ela, Justiça é ouvirem a voz dela, acreditarem na voz dela e protegerem uma mulher em situação de violência, independentemente de quem está cometendo violência, se é uma pessoa poderosa, que ocupa um cargo público ou não. Ninguém está acima da lei.
Gabriela Manssur, advogada de Betina e especializada na defesa de direitos da mulher

Relacionamento abusivo

Casal ficou junto por três anos, em união estável. Delegado da Polícia Civil de SP, Da Cunha foi eleito em 2022 para o seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados. Betina é nutricionista e posta fotos e vídeos sobre nutrição esportiva no Instagram.

Relacionamento era abusivo, com altos e baixos', diz a advogada. "Nesses relacionamentos, a pessoa começa a adoecer sem perceber que é vítima de violência", afirma. Da Cunha ofendia Betina e depois, confrontado por ela, negava, segundo Manssur. Por isso, Betina teria passado a gravar as discussões.

Família começou a perceber o comportamento agressivo de Da Cunha. Essa teria sido outra razão para Betina começar a gravar as discussões. "As pessoas poderiam pensar que era exagero ou que ela deu motivo —acaba tendo uma inversão de culpa. Ela quis se defender de tudo isso."

Crise nos últimos seis meses. Betina relatou à advogada que o relacionamento passava por dificuldades e chegou a terminar, com Betina indo morar com a mãe. Na ocasião, Da Cunha teria ido atrás dela. "Ela estava vulnerável, e eles tentaram mais uma vez. Foi quando se mudaram para Santos."

Gabriela Manssur, advogada Imagem: Reprodução de vídeo / Instagram @justicadesaia

'Situação de violência começou a escalar', diz Manssur. A advogada conta que foi procurada por uma colega de Santos que já tinha começado a atuar no caso. Ao perceber a gravidade da situação, a defensora relata ter entrado em contato com Betina, ainda em outubro de 2023. A advogada não diz se Da Cunha agrediu a então companheira outras vezes.

Ela já era vítima de violência psicológica. Sofreu estresse pós-traumático, até hoje, faz acompanhamento psicológico.
Gabriela Manssur, advogada de Betina e especializada em na defesa de direitos da mulher

O que diz a defesa de Da Cunha

O advogado do deputado lamentou o vazamento do material. Em nota enviada ao UOL, Eugênio Malavasi disse que o deputado agiu "apenas para conter Betina".

Agressões verbais foram "fruto de ríspida discussão", diz advogado. Segundo ele, as ameaças e os xingamentos que aparecem no vídeo são "fruto de uma ríspida discussão conjugal e, agora, expostas por meio de uma gravação claramente premeditada", diz a nota.

Da Cunha diz que não agrediu a ex-companheira fisicamente. Na versão do advogado, "ele sim, [foi] atingido de forma violenta, causando-lhe grave ferimento na cabeça."

A defesa de Da Cunha também disse que os exames não constataram lesões. "A acusação de agressão física não se sustenta, o que é corroborado, inclusive, pelos exames do Instituto Médico Legal (IML) que não constataram lesões ou marcas em áreas sensíveis do corpo como rosto e pescoço." Contudo, o pai de Betina, em depoimento à Justiça, disse que viu o pescoço da filha vermelho.

Todo mundo tem direito à defesa desde que fique comprovada. Mas ele não pode se defender acusando outra pessoa sem comprovação.
Gabriela Manssur, advogada de Betina e especializada em na defesa de direitos da mulher

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