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Escola é primeiro espaço de experiência racista, diz especialista

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/04/2024 13h17

A escola é o primeiro espaço de experiência racista de uma pessoa negra e o Ministério da Educação e as instituições precisam de protocolos para lidar com situações assim, afirmou o codiretor do Observatório da Branquitude Thales Vieira no UOL News da manhã desta terça-feira (30).

Cada pessoa negra desse país teve uma situação de racismo na escola. A escola foi, para muitas pessoas, esse primeiro espaço de experiência racista.

O primeiro espaço de experiência racista é a escola. Por isso, o MEC (Ministério da Educação) tem que ter um protocolo claro para isso. As escolas particulares têm que ter isso e os pais devem tratar esse assunto de maneira muito séria também.

A primeira coisa a ser pensada é: esse caso não pode ser tratado como excepcionalidade. Ele não é uma excepcionalidade. Acontece todos os dias em escolas de elite, públicas e médias. Então, não pode ser tratado como excepcionalidade. Acontece com uma regularidade que impressiona. As escolas têm que ter um protocolo para esse tipo de situação.

O que aconteceu?

Alicia, 14, filha mais velha de Samara Felippo, 45, e Leandrinho, 41, foi alvo de racismo no Vera Cruz, colégio de alto padrão na zona oeste de São Paulo. A informação foi divulgada inicialmente pela revista Veja.

Samara comunicou em um grupo de pais que, na segunda-feira (22), Alicia teve um caderno roubado. Todas as páginas de uma pesquisa foram arrancadas, agressões racistas foram escritas e, por fim, o caderno foi para a área de achados e perdidos do colégio.

A atriz registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil de São Paulo. Samara exigiu que as duas agressoras fossem expulsas da escola. As duas adolescentes foram suspensas.

Agressor "busca afirmar superioridade", diz Vieira

O codiretor do Observatório da Branquitude afirmou que atos racistas são usados na tentativa de apontar a criança negra como inferior e a branca, como superior.

O racismo diz muito sobre a vítima, sobre quem sofre, e busca desumanizar aquele que sofre a discriminação. Ele tem o outro lado da moeda também, que busca afirmar uma superioridade. Não encontra eco na vida real, mas encontra eco nessa sociedade racista que é a sociedade brasileira.

Quando uma adolescente vai lá, arranca as folhas do caderno de uma outra criança negra e faz ofensas racistas naquele caderno daquela criança negra, ela pretende não apenas afirmar que aquela criança negra é inferior a ela e não devia estar compartilhando aquele mesmo espaço. O que ela está falando é: 'Eu sou superior a você'.

O trabalho que essa escola e a sociedade tem que fazer é lidar com isso, porque a escola recebe dentro de si uma sociedade racista. A escola não consegue ser um casulo que tira o racismo para fora da escola. Nenhuma instituição consegue isso. A escola tem que lidar com isso de forma séria.

Ele propõe uma reflexão para os pais sobre de que modo as pessoas negras estão convivendo com eles.

Com quem vocês, pais, e com quem seus filhos convivem diariamente e em que posições hierárquicas essas pessoas estão? Seu filho convive com pessoas negras em posições hierárquicas igualitárias à sua? Ou, todas as pessoas negras que seu filho convive e que você convive, só estão servindo a você? Pode ter todo letramento possível, mas a imagem de sempre ter pessoas negras te servindo e sempre ter pessoas brancas em posições igualitárias à sua, é uma imagem muito forte. É uma imagem que quando formada na cabeça de uma criança, tem um poder muito forte. É muito difícil reverter isso com palavras.

Pessoas brancas precisam estar convivendo com pessoas negras de forma igualitária, de forma com que pessoas negras não estejam apenas te servindo.

Samara Felippo também poderá fazer denúncia no Procon, explica especialista

Além da responsabilização civil para os pais das alunas que cometeram o ato de racismo, a escola também pode ser denunciada no Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), disse a especialista em direito antidiscriminatório Luanda Pires.

Temos em São Paulo uma legislação própria do Procon, que combate as discriminações racistas. A gente está falando de um ambiente escolar privado, uma empresa. Logo, se ela também for condenada, ainda que seja por dolo, os pais dessa vítima podem fazer denúncia no Procon para que a empresa também seja responsabilizada.

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