RS tem 55 mortes pelas chuvas; Defesa Civil apura outros 7 óbitos suspeitos
A Defesa Civil do Rio Grande do Sul informou ao menos 55 mortes, 74 desaparecidos e 107 feridos até este sábado (4) em meio às fortes chuvas que atingem o estado. Órgão apura se mais sete óbitos registrados têm relação com os temporais.
O que aconteceu
Defesa Civil mudou a forma de classificação dos óbitos neste sábado (4). A partir do boletim divulgado às 18h (horário de Brasília), o órgão passou a contabilizar as mortes como "confirmadas", ou seja, que têm relações com às chuvas, e em "investigação" — aquelas em que ainda é preciso apurar se aconteceram em razão do evento meteorológico. No boletim das 12h, a Defesa Civil chegou a divulgar 57 "óbitos", sendo que 10 deles estavam em investigação.
Anteriormente, a Defesa Civil divulgava apenas o número de óbitos, sem especificação.
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Boletim das 18h divulgou 55 mortes confirmadas e outros 7 óbitos em investigação. As mortes já confirmadas ocorreram em 28 municípios, sendo que os com maiores registros de óbitos foram: Gramado (6); Santa Maria (6) e Bento Gonçalves (3).
Outros sete óbitos estão em investigação. As mortes investigadas ocorreram nos municípios de: Caxias do Sul (1); Pinhal Grande (1); Santa Cruz do Sul (1); Santa Maria (1); e Três Coroas (3).
Ao todo, já são 317 municípios afetados devido aos temporais no estado. As pessoas que estão em abrigos já somam 13.324, enquanto 69.242 estão desalojadas. Já a população afetada pelo evento meteorológico soma 510.585 pessoas.
Previsão indica que chuva ficará mais isolada no Rio Grande do Sul no domingo (5). De acordo com o Climatempo, as chuvas devem ter volume menor e serem menos duradoura, ocorrendo na forma de pancadas, com raios e eventuais rajadas de vento.
Números de mortes e desaparecidos ainda podem "crescer exponencialmente", diz governador. Eduardo Leite (PSDB) afirmou que os dados podem ser alterados em razão das situações que continuam sendo levantadas pelos órgãos competentes, mas confessou esperar que os alertas de segurança tenham surtido efeito na população. Leite falou à imprensa no início da noite deste sábado ao lado de dois ministros.
[Quero] alertar a população que serão dias ainda muito difíceis pela frente. A chuva vai dando uma trégua, mas a neblina que vai vir por conta dessa umidade toda ainda vai atrapalhar a movimentação de aeronaves, a gente ainda tem rios muito cheios, ainda vai ser difícil fazer a recomposição imediata de determinadas estradas. A gente tem o próprio Guaíba que vai ficar alguns dias acima da cota de inundação porque é o que os hidrólogos apresentam. Ainda vão ser dias de muitos problemas ainda, mas nós estamos atuando em todas as frentes.
Eduardo Leite, em entrevista coletiva
Centro de Porto Alegre registrou alagamentos
Na sexta (3), um portão do sistema contra inundações se rompeu em Porto Alegre e causou alagamentos. Imagens mostram os CTs do Internacional e do Grêmio completamente alagados. A rodoviária e o centro histórico da capital também foram tomados pela água.
A Defesa Civil orientou que moradores, comerciantes e trabalhadores deixem o centro histórico de Porto Alegre. Foi emitido um alerta para "inundação extrema" no Guaíba por 24 horas e a população deve evitar regiões próximas ao rio.
Nível do Guaíba ultrapassa o recorde. O rio atingiu 5,19 metros de altura às 17h (horário de Brasília) deste sábado e apresentou leve variação às 19h, baixando para 5,17 metros. Às 20h, o nível voltou a subir para 5,22 metros. O Guaíba ultrapassou o recorde da maior cheia registrada até então, de 4,76 metros, em 1941, quando inundou grande parte do centro.
Guaíba deve ficar acima dos 5 metros durante 2 a 3 dias, diz hidrólogo. Segundo Pedro Camargo, da Sala de Situação do Estado, o pico deve ocorrer neste intervalo devido ao volume de água que chega do rio Jacuí. Ele estima, no entanto, que o nível do Guaíba deve permanecer com números muito elevados, na casa dos quatro metros, por até 10 dias.
Governador diz que situação é "absurdamente excepcional". "Não é simplesmente apenas mais um caso crítico. É o mais crítico que, provavelmente, o estado terá registro em sua história", disse Eduardo Leite em entrevista coletiva na noite de quinta-feira (2). O Guaíba recebe as águas de diferentes bacias hidrográficas afetadas pelos temporais, como Taquari e Caí.
O Aeroporto Salgado Filho está fechado por tempo indeterminado. Todas as operações de pousos e decolagens foram suspensas em razão das chuvas.
RS tem 400 mil sem luz e mais de 1 milhão sem água
Há 294,6 mil clientes da concessionária RGE Sul sem energia elétrica. O número representa 9,5% do total de clientes. A maioria vive em regiões inundadas ou em locais com impedimento de acesso das equipes, informou a distribuidora. As regiões mais afetadas são o Vale do Taquari e o Vale do Rio Pardo.
Porto Alegre, Guaíba, Eldorado do Sul e Alvorada também têm pontos sem luz. As cidades são atendidas pela CEEE Equatorial, que totaliza, no momento, 123,6 mil clientes sem energia (que representa 6,85% do total).
São 1.056,877 milhão de clientes sem água, de um total de 6 milhões de clientes da Corsan no RS. Há ainda dezenas de municípios sem serviços de telefonia e internet das companhias Tim, Vivo e Claro, segundo a Defesa Civil.
Rodovias também foram afetadas. Neste sábado, 128 trechos em 61 rodovias estão com bloqueios totais ou parciais, entre estradas e pontes, segundo a atualização das 18h, realizada pela Defesa Civil.
O Rio Grande do Sul é atingido por chuvas intensas desde 24 de abril. Estado já tem pelo menos 62 mortos — desses sete estão em investigação para verificar se ocorreram em decorrência do temporal. Também há 74 desaparecidos, centenas de ilhados e milhares de desabrigados no Rio Grande do Sul.
Entenda a situação das chuvas no RS
Um rio atmosférico persistente é o responsável por agravar a situação das chuvas no Rio Grande do Sul. Segundo o Metsul, o corredor de umidade, que ainda deve durar vários dias, está "transportando grande quantidade de umidade da região amazônica pelo interior do continente até o território gaúcho".
O fenômeno climático ajuda a explicar tragédias no Brasil. Assim como a água corre na superfície, também existem fluxos massivos de água nos céus. Na América do Sul, um desses enormes corredores de umidade atmosférica vai justamente da região amazônica até o Centro-Sul do Brasil.
Esse "rio voador" carrega parte da água que evapora no norte para outras partes do território nacional. Então, parte dessa umidade cai como chuva. Combinado com ventos de alta velocidade, o ar úmido produz chuva pesada. Esses eventos extremos de precipitação podem causar danos catastróficos à sociedade.
Dados do Metsul indicam que esse rio atmosférico seguirá atuando entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai durante grande parte desta primeira semana de maio. O instituto de meteorologia informa que "fortes a intensas áreas de instabilidade com volumes de chuva excessivos" devem seguir em atuação nos próximos dias.