Josmar Jozino

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Reportagem

Caso Gritzbach: policial envolveu Delegacia-Geral em propina do PCC, diz PF

"Mataram o Cara Preta. Quebraram o cofre. DGP vai ficar triste". As frases são do investigador Valdenir Paulo de Almeida, 58, o Xixo, policial civil preso pela Polícia Federal e um dos delatados pelo empresário Antônio Vinícius Gritzbach, morto a tiros em 8 de novembro no aeroporto internacional de Guarulhos.

Cara Preta é o apelido do narcotraficante Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, um dos criminosos mais endinheirados do PCC (Primeiro Comando da Capital), assassinado a tiros em 27 de dezembro de 2021 no Tatuapé, zona leste de São Paulo. DGP são as siglas de Delegacia Geral de Polícia, a cúpula da corporação.

A Polícia Federal soube dessas frases ao analisar o telefone celular de Xixo, preso em 3 de setembro deste ano junto com o investigador Valmir Pinheiro, 55, o Bolsonaro. Ambos foram acusados de receber R$ 800 mil de propina do narcotraficante João Carlos Camisa Nova Júnior, 39, o Dom Corleone.

Mensagens trocadas por Xixo, um dos delatados por Gritzbach
Mensagens trocadas por Xixo, um dos delatados por Gritzbach Imagem: Reprodução

Segundo a PF, Xixo deu a entender, na mensagem enviada por WhatsApp a um contato não identificado, que a Delegacia Geral de Polícia se beneficiava financeiramente de Anselmo, o Cara Preta. Ele era um dos maiores narcotraficantes ligados ao PCC.

Em outra mensagem, dessa vez recebida por Xixo de um policial do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico), o remetente diz que "tem colega que vai ficar sem o salário mensal", ao comentar o assassinato de Cara Preta.

Trocas de mensagens de Xixo com um dos delatados por Gritzbach
Trocas de mensagens de Xixo com um dos delatados por Gritzbach Imagem: Reprodução

Alvos da Polícia Federal

As mensagens constam num inquérito da PF, que investigou a conduta de cinco policiais civis, um advogado e dois empresários delatados ao MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) por Vinícius Gritzbach e alvos dos federais na terça-feira (17).

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Quatro policiais foram presos. São eles o delegado Fábio Baena Martin e os investigadores Eduardo Monteiro, sobrinho da ex-corregedora-geral da Polícia Civil que pediu afastamento por causa do parentesco com ele; Marcelo Souza e Marcelo Ruggieri.

O quinto policial, Rogério Almeida Felício, o Rogerinho, ex-segurança do cantor Gusttavo Lima, está foragido. Há rumores de que ele tenha saído do Brasil, via algum país da América do Sul, em avião particular, e já estaria em Dubai, nos Emirados Árabes.

Os outros três presos delatados por Gritzbach são os advogados Ahmed Hassan Saleh, o Mudi, e os empresários Robinson Granger Moura, o Molly, e Ademir Pereira de Andrade. As investigações da PF apontam que os três eram ligados ao narcotraficante Cara Preta.

Gritzbach foi acusado de mandar matar Cara Preta e o motorista Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue. Desde então, o empresário passou a sofrer ameaças de morte do PCC. Para a facção, ele investiu R$ 200 milhões do narcotraficante em criptomoedas e desviou o dinheiro.

Diálogos comprometedores

No celular apreendido pela PF com Xixo há diálogos comprometedores dele com o investigador Eduardo Monteiro. Ambos conversam inclusive sobre um sítio de Gritzbach em Santa Isabel (Grande São Paulo), que ao que tudo indica os policiais queriam tomar do empresário e passar para o nome deles.

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Xixo e Pinheiro, presos pela PF em setembro deste ano por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e associação criminosa, são investigados por outro crime: roubar R$ 90 milhões de 15 casas-cofre de integrantes do alto escalão do PCC. Os dois estão jurados de morte pela facção.

Casas-cofre são locais onde o PCC costuma guardar armas, drogas, e também dinheiro proveniente de atividades ilícitas. Geralmente as grandes quantias em espécie são escondidas em paredes falsas e em "bunkers" construídos para despistar possíveis ações policiais.

Ainda segundo a PF, Xixo recebia da Polícia Civil de São Paulo um salário líquido de R$ 5.165, mas movimentou R$ 16,2 milhões em suas seis contas bancárias entre 1º de setembro de 2017 a 23 de agosto de 2023.

No mesmo período, o investigador Pinheiro ganhava R$ 7.000 líquidos por mês e registrou em cinco contas bancárias transações financeiras no valor de R$ 13,6 milhões. À época, eles eram do Denarc.

A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Valdenir Paulo de Almeida e Valmir Pinheiro. O espaço continua aberto para manifestações. O texto será atualizado se houver posicionamento dos defensores deles.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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