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Agredido por PMs, jovem diz que não consegue comer e que perdeu o trabalho

Do UOL, em São Paulo

08/05/2024 22h41

O jovem espancado por dois policiais militares na tarde de terça-feira (8), em José Bonifácio (SP), disse que não está conseguindo comer direito, pelas feridas na boca, e que perdeu o trabalho após o ocorrido. As agressões foram registradas em vídeo por uma testemunha.

O que aconteceu

Dejair Paulino Silva, 23, disse ao UOL que também foi ameaçado de morte e agredido pelos policiais antes do momento mostrado no vídeo. O tenente Iuri Filipe dos Santos e o sargento Marcelo Vitor Silva o agrediram em outro local, quando ele se negou a desbloquear seu celular, afirma.

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O jovem diz que costuma prestar serviço em um laranjal na cidade e que foi abordado pela polícia logo após sair de uma entrevista de emprego. Ele afirma ter sugerido que verificassem um documento que comprovaria seu vínculo empregatício. Mas os agentes teriam se negado a ver o papel por suspeitar que Dejair fosse um dos três criminosos procurados por um roubo em uma fazenda da região.

No boletim de ocorrência, os policiais disseram que Dejair era suspeito de roubo e que reagiu à abordagem e fugiu duas vezes. Um inquérito policial foi aberto para apurar a atuação dos agentes e ambos foram afastados das operações.

Dejair afirma que, ao se negar a desbloquear o celular, levou dois chutes nas pernas. Após os pontapés, ficou com medo de ser agredido novamente e correu em direção a um matagal, diz.

Pegaram meu celular, falaram para eu desbloquear. Eu não fiz isso. Depois falaram para eu abrir as pernas. Saí correndo com medo, porque ele estava me agredindo. Eu já tinha sido agredido.
Dejair Paulino Silva

Jovem relata que policial apontou-lhe uma arma e pediu para ele parar de correr. A partir daí, as agressões seguiram, e um agente o levou até uma calçada em frente à casa onde as imagens foram gravadas. Lá, o policial falou: "você não morreu por dó, não te matei de dó", mostra o vídeo.

Me apontaram uma arma e me pegaram perto do mato...me agrediram de novo. Tentaram tacar o roubo para cima de mim, mandando eu assumir, e falei que não ia assumir.
Dejair Paulino Silva

Na sequência, outro agente aparece e também agride o homem. Os golpes provocaram, segundo Dejair, hematomas em todo o corpo e na boca.

A perna está toda roxa. Minha boca está toda estourada. Não consigo nem comer.
Dejair Paulino Silva

Não houve socorro imediato, diz Dejair. Os policiais o teriam deixado preso dentro da viatura e ido até a casa dele. Só depois, o levaram ao hospital. O advogado de Dejair, Ruy Arruda, disse ao UOL que a vítima do roubo sequer o reconheceu —os criminosos estavam encapuzados. Além disso, a defesa argumenta que os policiais não tinham provas para acusar o jovem do crime, mesmo dizendo na delegacia que ele era suspeito.

Dejair é o perfil que a polícia aborda sempre. Rapaz pobre, de periferia, camisa de time de futebol, negro. Eles o espancaram, o levaram ao hospital e nem deixaram que ele fosse atendido direito. Na delegacia, tentaram jogar o roubo nele. Os indivíduos [criminosos] estavam só com os olhos de fora. Tentaram justificar as agressões com essa suspeita da fazenda
Ruy Arruda, advogado

Câmeras de segurança da fazenda mostram que Dejair tinha características de um dos ladrões dizem agentes. No boletim de ocorrência, os policiais dizem ainda que Dejair fugiu.

O jovem nega envolvimento no crime. Ele tem passagem por posse de drogas para consumo próprio.

Policiais serão investigados

Os agentes foram afastados, informou a SSP. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, foi aberto um inquérito policial militar contra os PMs (veja a nota abaixo).

A Polícia Civil de José Bonifácio também instaurou inquérito para apurar o caso. A ocorrência foi registrada como abuso de autoridade, lesão corporal e resistência. O UOL confirmou que a polícia já ouviu testemunhas, tanto sobre as agressões quanto sobre o roubo da fazenda, no qual um homem foi rendido pelos criminosos.

A defesa de Dejair disse que os agentes oferecem risco a ele e às testemunhas, e que caberia prisão temporária aos agentes. "A intimidação prejudica o processo, precisamos refletir sobre isso", disse.

O UOL tenta contato com os policiais envolvidos. Caso haja manifestação, o texto será atualizado.

A Ouvidoria vai averiguar a agressão e uma possível coação dos PMs contra a testemunha que fez o vídeo. O órgão informou que encaminhou o caso para a Corregedoria da Polícia do Estado de São Paulo.

Especula-se que esta agressão pode ter se desencadeado inclusive em tortura, invasão de um domicílio e uma busca grave para cessar a gravação por parte de uma testemunha, o que pode caracterizar, ainda, fraude processual. Diante de mais este triste capítulo da história da segurança pública, que parece privilegiar a truculência ao invés da coerência, esta Ouvidoria vai instaurar procedimento, acionando a Corregedoria da Policia Militar, solicitando a abertura de apuração, com identificação do policial, além do afastamento imediato destes profissionais das ruas, em razão da baixa condição emocional que os mesmos demonstram para atuar no policiamento de nossas cidades.
Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo

A Polícia Militar ressalta que não compactua com a conduta dos policiais envolvidos no caso, os quais foram imediatamente afastados do serviço operacional por atuarem em desacordo com os protocolos operacionais da PM, bem como os valores e princípios da instituição. Os fatos são rigorosamente investigados por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM). A corregedoria da PM está à disposição para formalizar e apurar a denúncia citada pela reportagem
Secretaria de Segurança Pública de São Paulo

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