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Com mais chuva prevista, moradores de Porto Alegre esperam por piora

Do UOL, em Porto Alegre

12/05/2024 04h00

Basta olhar para o céu para saber que o futuro no curto prazo é ruim. Esta é a avaliação dos moradores de Porto Alegre diante da chuva intensa e insistente que cai desde sexta-feira (10) à noite. Vacinados, eles preparam a resiliência para lidar com o que está por vir. A previsão é de mais chuva forte.

O que aconteceu

Sem dar conta do escoamento da chuva, as bocas de lobo regurgitam água. A situação serve de aviso de que o nível da enchente não deve ceder grande coisa e a cidade continuará inundada nos próximos dias.

Mesmo assim, postos, farmácias e mercados continuam abertos. Além de manter serviços essenciais abertos, trata-se de um ato de resistência. Os moradores preservam o que resta da normalidade.

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A força de vontade coletiva é permeada de sensibilidade individual. O dono de posto vende combustível a preço de custo para carros de resgate. Como na fábula em que a formiguinha ajuda com uma gota a combater o incêndio na floresta, veículos de passeio ajudam carretas a distribuir as doações.

Parque infantil é tomado pela água; céu continua fechado em Porto Alegre Imagem: Felipe Pereira/UOL

O frentista Adriano Garcia, 37 anos, não tem esperanças de a água baixar tão cedo. A prova está nas bombas de combustível que opera. Elas continuam enchendo o tanque de veículos de resgate a todo momento. Mas trabalhar dá a Adriano uma sensação de que algo da rotina foi mantido.

Ele não foi atingido pela água, mas vai receber a avó que foi expulsa de casa pela cheia. "A água bateu no teto. Mas ela falou que não perdeu o mais importante. A família continua com ela".

O frentista Adriano Garcia; trabalho dá ar de normalidade Imagem: Felipe Pereira/UOL

O carinho é visível quando Adriano fala de dona Maria Eva Pereira, 64. A expressão muda quando o frentista menciona quem está por vir ao mundo. A mulher dele está grávida de 7 meses numa época em que a cheia fecha hospitais, alaga ruas e prejudica a chegada de medicamentos em Porto Alegre.

O frentista prevê dias tensos para família e para cidade. A meteorologia anuncia que vai chover pesado até segunda-feira (12). As próximas 48 horas não trarão alívio e Adriano se prepara para reagir ao que está por vir.

Força-tarefa permanente

A previsão de chuva também antecipa a rotina dos próximos dias de Carla Bolzan, 57. Sócia de uma academia que virou ponto de distribuição de donativos, ela antecipa um entra e sai de gente responsável pelas entregas.

Enquanto eles percorrem as ruas que não foram tomadas pela água, a empresária coordena o time de apoio. Junto com as filhas e alunos da academia, vai montar kits com cesta básica, produtos de higiene e roupas.

Carla Bolzan recebe donativos em sua academia Imagem: Felipe Pereira/UOL

A outra forma de ajudar é inusitada. Carla mantém a academia acessível para alunos que estão trabalhando como voluntários. Eles capricham nos exercícios e, quando terminam, agradecem dizendo que estavam precisando extravasar. Os alunos da academia buscam alívio psicológico para a rotina por meio do suor e da endorfina.

Carla disse que a população percebeu que a crise será longa. Diante do cenário, preparam o corpo e o espírito para manter a saúde e conseguir fazer o que for necessário para retomada da normalidade. "Tem que aguentar, não tem opção".

A previsão do tempo indica somente dois dias de sol até o domingo da próxima semana. Ninguém se ilude que o fim da calamidade esteja próximo. A empresária ressalta que o final das chuvas não significará o final dos problemas. O jeito é manter a serenidade.

Não bateu o desespero, mas a gente sabe que vai ter muito pela frente. Quando a água baixar, vai aparecer uma destruição muito grande
Carla Bolzan

Caminhões do Exército ao lado de área alagada em Porto Alegre Imagem: Felipe Pereira/UOL

Sem alívio

Por algum tempo as pessoas continuarão dependendo dos outros. Fora de casa, milhares de moradores de Porto Alegre precisam de doações para vestir, comer e beber. Este é o resumo da situação para o analista de e-commerce Vitor Diniz, 22.

O garoto não esconde o pessimismo. "Para mim, vai dar uma piorada nos próximos dias". Ele faz a profecia desoladora refugiado sob uma marquise enquanto a chuva engorda as poças da avenida Ipiranga.

Vitor Diniz tem no celular um aliado para saber onde transportar doações Imagem: Felipe Pereira/UOL

Vitor trava luta diária com esta água acumulada. Ele é uma espécie de Uber do socorro e transporta alimentos e ração por abrigos de Porto Alegre. Tem no WhatsApp um aliado e na falta de sinal em várias regiões um adversário.

O espírito dos moradores de Porto Alegre é continuar lutando. Como diz o ditado gaúcho: "Não tá morto quem peleia".

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