Com rondas de barco, polícia acompanha volta para casa em Eldorado do Sul
Com um barco na caçamba, um carro da Polícia Civil circula por uma rua de Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre. No trajeto, é possível ver o efeito devastador das chuvas, com móveis inutilizados na calçada enquanto moradores tentam retornar para suas casas em uma das cidades mais atingidas pelas enchentes.
A viatura estaciona perto de um carro que está com as rodas para cima. Em seguida, os policiais sobem no barco, dando início a uma ronda para evitar saques e acompanhar o retorno da população. Nesse caminho, encontram pessoas nos imóveis que ainda estão embaixo d'água.
De forma muito lenta, a água está baixando e a população está voltando. As ações são para garantir que retornem com tranquilidade.
Luciane Bertoletti, delegada de Polícia Civil de Eldorado do Sul
Relacionadas
A polícia também investiga crimes após a enchente. A facção conhecida como "Os Manos", a principal organização criminosa no Rio Grande do Sul, planejou uma série de furtos a empresas em meio ao alagamento, segundo o UOL apurou. Após investigações, 14 pessoas foram presas por receptação e associação criminosa por suspeita de envolvimento nessas ações.
Em um trecho pela área alagada, os agentes observam um veículo se aproximando do portão em uma área ainda alagada. É a primeira vez que um casal que mora ali chega ao local depois da enchente.
"Não sei como esse pneu parou aqui dentro", diz o aposentado Sérgio Januário, 67, no quintal da casa, onde não havia mais água, já que a casa fica em um ponto mais alto em comparação à calçada ainda debaixo d'água. "Bah, horrível! Essa foi para liquidar. Quer dar uma olhada para ver como ficou o estrago ali dentro?", pergunta.
Dados da prefeitura de Eldorado do Sul indicam que 95% da população foi atingida pela enchente, que obrigou mais de 20 mil pessoas a sair de casa. É o equivalente a 50% da população. Desse total, cerca de 6 mil deixaram a cidade, já que não havia abrigos disponíveis para atender os moradores no município. Seis pessoas morreram e outras 13 seguem desaparecidas, segundo a administração municipal.
'Não sei o que vai acontecer com Eldorado'
A marca de barro na parede indica que a enchente chegou a invadir o imóvel por três metros. Como não havia iluminação elétrica, Sérgio Januário usa a lanterna do celular para ver a destruição deixada pela enchente. "Não sei o que vai acontecer com Eldorado, está tudo debaixo d'água. Mas vamos ter que nos reerguer".
A geladeira estava pendurada por uma corda na escada que dá acesso ao segundo piso, que não chegou a ser atingido pela água. As xícaras penduradas por ganchos na parede da cozinha estavam cheias de lama.
"Estou tremendo, cara", diz o morador, enquanto tenta tirar com o dedo o barro de um porta-retrato com a foto de infância da esposa, a bioquímica Elita Deboni Franco, 72. "Está tudo destruído. O sentimento é de perda e de tristeza, mas tem muita gente em situação bem pior", diz Elita.
Volta após resgate de helicóptero
Em outro trecho alagado, os policiais civis decidem parar ao ouvir barulho dentro de uma casa. "Estou aqui para começar a limpar a casa", diz Michael Lupuis Buchert Moser, 35.
Na garagem do imóvel ao lado, ainda havia dois carros, que ficaram totalmente submersos em meio à enchente. "Eu estava tentando fechar o portão para evitar saques", explica a autônoma Mônica Raquel Assis D'Ávila, 47.
Ela é sobrinha do morador, o empresário Jorge Luiz Stropper de Assis, 67, que precisou ser resgatado com a esposa de helicóptero já no segundo piso da casa em meio à enchente. Depois disso, Mônica abrigou o casal no imóvel onde mora em Guaíba, também na região metropolitana de Porto Alegre. E, agora, voltou a Eldorado acompanhada pelo tio, que em seguida se aproxima, caminhando em meio à água.
O importante é que estamos vivos. Pessoas morreram afogadas enquanto tentavam escapar da enchente. Agora, é juntar o que restou e reconstruir tudo de novo.
Jorge Luiz Stropper de Assis