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'Hot dog tinha fila': quem era empresário morto por empurrão de entregador

Mariana Zancanelli e Vinícius Rangel

Colaboração para o UOL

22/05/2024 08h24

Um comerciante que sabia o nome dos clientes e até dava conselhos como se fosse o pai de todos. Assim os amigos definem Antônio Gregório de Almeida, de 62 anos, que morreu após ser empurrado na lanchonete onde trabalhava havia mais de 25 anos, em Curitiba.

Inovou com carrinho

Ele e a companheira resolveram comprar um carrinho de cachorro-quente em 1999 com as economias que tinham. Inicialmente, vendiam o produto da forma tradicional. Em 2004, ele aumentou as opções no cardápio e ampliou o carrinho para começar a fazer o hot dog prensado. Nessa época, deixou o trabalho como frentista em um posto de combustível.

O trabalho era de segunda a domingo e contava com o apoio do ex-genro. Enquanto Antônio e a companheira preparavam os pães e salsichas, o rapaz anotava os pedidos e recebia o dinheiro. A filha mais velha do comerciante também ajudava.

Trabalhavam dia e noite e nunca fechavam. Muita gente fazia fila para comprar o cachorro-quente dele. Aí ele viu a oportunidade de aumentar o espaço.
Herley Mehl Amancio Garbuio, engenheiro eletricista e amigo de Antônio, ao UOL

Em outubro de 2017, Antônio conseguiu um espaço físico onde funcionava uma rede de farmácia, reformou o local e abriu a lanchonete. Aos poucos, passou a fazer também o atendimento delivery. Contratou cerca de 12 profissionais para atender à alta demanda que tinha todos os dias.

Antônio e a lanchonete: ele trabalhava vendendo hot dog desde 1999 Imagem: Reprodução/Facebook

Mesmo assim, ele manteve o carrinho na frente da loja. É um símbolo da história dele. Seu Antônio abriu a loja, contratou mais funcionários e montou o quadro dele com muitos colaboradores.
Herley Mehl Amancio Garbuio

'Era como se fosse da família'

Clientes dizem que Antônio tratava a todos como família. A esteticista Elaine Dalagassa, 46, era cliente há mais de 20 anos. Para ela, Antônio era como se fosse um integrante da própria família. E lembrava os nomes de cada comprador.

Ele nos conhecia pelo nome. Sempre falava sobre as filhas dele, éramos como uma família, criamos muitos vínculos. Passei por diversas etapas da minha vida e sempre contando para eles.
Elaine Dalagassa, cliente

'Nunca presenciei nenhuma briga dele'

Herley diz que nunca viu qualquer tipo de agressividade ou violência por parte de Antônio com os funcionários e clientes. O engenheiro frequentava a casa da vítima e chegou a viajar com ele.

Com o passar do tempo, convivi mais com a família. Eu praticamente era de casa. Fazíamos churrasco, bebíamos umas, viajamos três vezes para Foz do Iguaçu e ele sempre com uma serenidade grande. Era como um pai para todos. Conhecia e sabia o nome de todos os clientes. Nunca vi nenhuma situação que pudesse dizer ao contrário. Ele sempre foi rígido e certo com as coisas.
Herley Mehl Amancio Garbuio

Homem de muitos amigos

Cliente há anos, o guarda municipal Fernando Jacomel, 40, diz que o bom tempero e o papo de Antônio atraíam muitas pessoas para a lanchonete. E, segundo Jacomel, alguns clientes gostavam de ir lá justamente por causa de Antônio.

Ele sempre fez um atendimento de excelência, cuidava da lanchonete de uma maneira diferenciada. Tinha muitos amigos, uns até que iam lá somente para passar a noite conversando e acompanhando o movimento com ele. Seu Antônio fez história no bairro e fez muitos amigos. Gente que, como eu, vai sentir muita falta dele.
Fernando Jacomel, cliente da lanchonete

Revolta e investigação

Familiares e amigos estão revoltados com a morte do comerciante. Os parentes disseram à reportagem do UOL que preferem não dar nenhuma declaração nesse momento sobre o caso.

Fiquei muito triste com a notícia, sem acreditar, porque eles eram generosos, atenciosos, prestavam um bom atendimento. Na minha casa, ficamos muito abalados, houve choro, pois é inacreditável uma morte assim, revoltante isso tudo, não dá para acreditar ainda.
Elaine Dalagassa, cliente

Antônio deixa esposa, três filhas e seis netos. A Polícia Civil segue em busca de informações do motoboy acusado de empurrar Antônio.

O que aconteceu

Um motoboy, que não teve o nome divulgado, empurrou o idoso depois de uma discussão sobre o que teria acontecido com o troco de R$ 27 de uma entrega. Antônio caiu, bateu a cabeça e morreu depois de ter tido traumatismo craniano. O suspeito fugiu do local e até o momento não foi preso.

Câmeras de segurança registraram o início da discussão. Durante a briga, o entregador saiu da calçada, onde acontecia a discussão, e entrou no estabelecimento. O idoso tentou expulsá-lo, gritando para que ele sumisse dali, segundo testemunhas. A discussão ficou mais acalorada e Antônio se aproximou do motoboy, que o empurrou com as duas mãos.

O próprio suspeito tentou socorrer Antônio, mas ele morreu no local. Após a queda, Antônio perdeu a consciência. Outras pessoas chamaram o socorro e se reuniram no local para tentar reanimar o dono da lanchonete. Quando o Samu chegou, ele já estava morto.

O entregador foi identificado, mas está foragido. Na noite do ocorrido, equipes das Polícias Militar e Civil foram à casa do suspeito e a outros locais onde ele poderia estar escondido, mas ele não foi localizado.

Antônio e o motoboy já tinham discutido, mas nunca tinham se agredido. O funcionário trabalhava na lanchonete havia aproximadamente quatro anos. Os dois já tinham se desentendido anteriormente, mas nunca tinham partido para a agressão física, informou a delegada Camila Cecconelo.

A lanchonete Esquina Dog lamentou a morte do proprietário. "Com profundo pesar, informamos o falecimento do seu Antônio Gregorio de Almeida, dono desta empresa. Deixou seu legado e muita saudade. Que Deus o receba, descanse em paz", publicou a empresa nas redes sociais.

O UOL não conseguiu localizar a defesa do suspeito porque o nome dele não foi divulgado. O espaço segue aberto para manifestação.

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