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Caso Djidja: polícia do AM investiga seita e uso de ketamina em rituais

Beatriz Gomes e Laila Nery

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em São Paulo

31/05/2024 13h48Atualizada em 01/06/2024 14h14

Após a morte da ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, a Polícia Civil do Amazonas deflagrou a Operação Mandrágora, que investiga a seita "Pai, Mãe, Vida", liderada pela família de Djidja Cardoso, que forçava vítimas a abusar de ketamina (também chamada de cetamina) em rituais, com estupro de vulnerável.

O que aconteceu

Cleusimar Cardoso e Ademar Cardoso, mãe e irmão de Djidja Cardoso, foram presos na quinta-feira (30), em Manaus. Segundo a Polícia Civil do Amazonas, os dois e Djidja Cardoso lideravam uma seita chamada "Pai, Mãe, Vida", que praticava rituais que prometiam a cura espiritual e afirmavam que Ademar era uma espécie de reencarnação de Jesus na terra, Cleusimar assumia a figura de Maria, mãe de Jesus, e Djidja, a ex-sinhazinha, Maria Madalena.

Além da família, funcionários do salão de beleza do qual Djidja Cardoso era sócia também eram integrantes da seita. Também foram presas Verônica da Costa Seixas, 30, Claudiele Santos da Silva, 33, e Marlisson Vasconcelos Dantas, funcionários do estabelecimento. Eles eram responsáveis por induzir outros colaboradores e pessoas próximas à família a se associarem à seita, onde drogas de uso veterinário eram utilizadas.

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O delegado responsável pela investigação, Cícero Túlio, relatou que a seita atuava em parceria com uma clínica no bairro Redenção, em Manaus. Segundo ele, a clínica oferecia ketamina e outras substâncias sem qualquer controle para a família de Djidja Cardoso — a suspeita inicial é que ela teria morrido após o uso indiscriminado da substância. "Fizemos busca e apreensão hoje no local. Não existia qualquer controle ou receituários para a venda desse material", afirmou Túlio, em entrevista à imprensa.

A Polícia Civil ainda informou que está ouvindo vítimas da seita, duas teriam informado que, além do abuso de substâncias e violência psicológica, a seita praticava violência física e estupro de vulnerável. O delegado contou que as vítimas relataram que permaneciam dopadas por dias, eram obrigadas a se manter despidas e não podiam tomar banho ou se alimentar. "Uma das vítimas ainda relatou um aborto, quando foram realizados os mandados de busca e apreensão na residência, notamos um forte cheiro de podridão."

A morte da matriarca da família, avó da Djidja, também está sendo investigada pela Polícia Civil. Familiares de Djidja acreditam que Ademar Cardoso teria injetado ketamina na avó depois de a idosa de 83 anos ter caído e reclamar de dores na bacia.

Segundo a polícia, Cleusimar Cardoso foi encontrada com drogas, inclusive, nas genitálias. "No momento em que uma das autoras foi conduzida à carceragem foram encontrados dois cilindros escondidos nas partes íntimas", afirmou Cícero Túlio.

Outro ponto que a Polícia Civil segue investigando é a utilização de animais domésticos em rituais da seita. A polícia segue em investigação, ouvindo vítimas e outros integrantes da família Cardoso.

Funcionário que estava foragido se entregou à polícia nesta sexta-feira (31). Ao UOL, o advogado de Marlisson, Lenilson Ferreira, afirmou que o cliente está disposto a esclarecer os fatos para provar a sua inocência e está à disposição do Poder Judiciário e das autoridades para colaborar com as apurações em torno do caso. "Ele confia no trabalho da Justiça e está acredita que sua participação nas investigações será fundamental para a elucidação do caso", concluiu.

Já o defensor da funcionária Claudiele disse à reportagem que não há provas contundentes da participação dela em nenhuma das situações apontadas pela polícia. O advogado Kevin Teles ressaltou que a cliente é "apenas uma funcionária do salão" e negou que existe qualquer vínculo dela com a família Cardoso. A defesa ainda informou que deverá emitir nota oficial dentro de alguns dias para detalhar o caso com "informações verídicas e não apenas falácias".

A empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido Djidja Cardoso morreu aos 32 anos Imagem: Reprodução/Redes sociais; e Reprodução/Instagram/@boigarantido via Elcio Farias

O que é a sinhazinha? É um dos personagens folclóricos principais do auto do boi no Festival Folclórico de Parintins. Ela é a filha do dono da fazenda e personagem de destaque que representa a vida no campo. Didja foi sinhazinha do Boi Garantido por cinco anos, iniciando em 2016.

A reportagem tentou contato com as defesas de Cleusimar Cardoso, Ademar Cardoso e Verônica da Costa Seixas para pedido de posicionamento, mas não houve retorno. O espaço segue aberto para a manifestação.

Entenda o caso

Djidja, ex-sinhazinha do Boi Garantido, de 32 anos, foi encontrada morta na última terça-feira (28).

O TJ-AM (Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas) emitiu os mandados de prisão preventiva (por tempo indeterminado) contra eles na quarta-feira (29). Duas funcionárias do salão de beleza Belle Femme, Verônica da Costa Seixas e Claudiele Santos da Silva também foram presas.

Eles respondem por tráfico de drogas, associação ao tráfico de drogas, cárcere privado, charlatanismo, curandeirismo, sequestro, estupro de vulnerável e provocação de aborto sem consentimento da gestante.

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