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'Rei da Roleta' comandou cassinos e chegou a contratar Carmen Miranda

Joaquim Rolla, responsável por grandes cassinos no Brasil na década de 1930 Imagem: Wikipedia

Do UOL, em São Paulo

26/06/2024 04h00

Os jogos de azar são proibidos no Brasil desde 1946. Na época, o então presidente Eurico Gaspar Dutra assinou a decisão, que argumenta que "a tradição moral jurídica e religiosa do povo brasileiro é contrária à prática e à exploração de jogos de azar". Naquele momento, um empresário se destacava no mundo dos cassinos: o mineiro Joaquim Rolla, que ficou conhecido como "o rei da roleta".

João Perdigão, co-autor do livro "O Rei da Roleta - A Incrível Vida de Joaquim Rolla", disse em entrevista ao Jô Soares, em 2015, que a fortuna que o empresário conquistou durante os anos áureos foi o suficiente para que ele morresse, em 1972, aos 72 anos, "razoavelmente bem de vida".

Joaquim foi o responsável por alguns dos clássicos cassinos do Brasil, como o Urca, o Quitandinha e o Pampulha.

Quem foi Joaquim Rolla

Mineiro e estudou em casa. Joaquim cresceu em São Domingos do Prata (MG). Na época, a cidade não tinha escola, segundo Perdigão, então teve que se dedicar aos estudos de casa.

"Jeito não era polido". Muitas pessoas diziam que ele era semianalfabeto, o que o autor discorda. "É que o jeito dele não era polido. Apesar de muito elegante, de andar com um figurino muito bem, o jeito dele se expressar parecia um personagem de Guimarães Rosa", disse Perdigão em entrevista.

Era filho de tabelião e desde pequeno tinha vontade de trabalhar com dinheiro. Perdigão conta que Joaquim fazia pequenos serviços para os vizinhos para conseguir algumas moedas, mas tudo às escondidas. "O pai dele não gostava que ele ganhasse dinheiro, não queria que a criança tivesse contato com isso. Então ele enterrava uma moeda no chão e falava 'achei', mas, na verdade, era uma moeda que ele tinha ganhado fazendo outra coisa."

De vendedor a tropeiro. A veia empreendedora começou quando imigrantes alemães chegara na cidade. Ele foi o responsável por vender gasosa, um tipo de bebida obtida do abacaxi. Por isso, o tio, que era o coronel Francisco Leôncio Rolla, decidiu investir nele e deu uma tropa de burros para que ele cuidasse, tornando o sobrinho um tropeiro.

No mundo dos jogos de azar

Cassinos foram liberados em 1920. Os cassinos eram proibidos desde o Império e apenas em 1920 que eles foram liberados em áreas balneárias, para que o imposto do jogo custasse o saneamento básico no interior do Brasil, segundo o jornal do Senado.

Cidades ganharam novos turistas. A liberação fez com que cidades ganhassem um outro tipo de turista. Os jogos foram proibidos novamente em 1928, mas, com Getúlio Vargas no poder, voltaram em 1933.

Joaquim Rolla ganhou porcentagem de cassino em jogo de truco. Segundo a Folha de S.Paulo, Joaquim Rolla chegou ao Rio de Janeiro, a então capital federal, em 1932. Durante um jogo de truco com amigos, ganhou uma porcentagem do Cassino da Urca. Em 1934 já seria o único proprietário da casa de jogos.

Tempos áureos das casas de jogos. Uma das metas do Estado Novo de Getúlio Vargas era incentivar o turismo e a música brasileira, atividades diretamente relacionadas com os cassinos. Assim, as casas de jogos de azar viveram tempos áureos. "No final dos anos 1930, Urca já era o principal cassino do Rio. Tinha a melhor estrutura e os melhores shows", disse Perdigão à Folha de S.Paulo.

Cassino da Urca tinha contrato com Carmen Miranda. A cantora Carmen Miranda, por exemplo, firmou um contrato de exclusividade em 1936. Isso ajudou o cassino a se consagrar como uma casa noturna na capital.

Joaquim Rolla se tornou dono de mais dois cassinos. A ideia era ampliar ainda mais os negócios. Assim, ele ainda se tornou dono dos cassinos Quitandinha, em Petrópolis (RJ), e Pampulha, em Belo Horizonte (MG). "Petrópolis, na década de 1930, estava muito abandonada e o cassino fez com que a cidade se tornasse muito valorizada", explicou Perdigão no programa do Jô Soares.

Proibição volta nos anos 1940. A proibição dos cassinos em 1946 fez com que os empreendimentos de Joaquim Rolla tivessem que ser encerrados. Não se sabe ao certo os motivos que levaram Dutra a proibir os jogos de azar no país. Uma das hipóteses, segundo o jornal do Senado, é que foi uma tentativa de apagar os vestígios da Era Vargas. Outra versão seria a de que o então presidente teria sido persuadido por Carlos Luz, ministro da Justiça na época, que tinha antipatia pelo negócio.

Morreu nos anos 1970. Joaquim Rolla morreu aos 72 anos, em 1972, em Ipanema.

Senado volta a pautar jogos de azar

Legalização dos jogos de azar voltou a ser pauta no país na semana passada. A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado aprovou o PL (projeto de lei) que libera jogos de azar no Brasil. Ele autoriza o funcionamento de bingos e de cassinos, além de regularizar jogos de azar, como o jogo do bicho e apostas.

Capital social mínimo. O PL estabelece que as empresas interessadas em explorar essas atividades deverão ter sede e administração no Brasil, e um capital social mínimo para cada uma delas: para operadoras de bingo: R$ 10 milhões; para locadoras de máquinas: R$ 20 milhões; para cassinos: R$ 100 milhões; para operadoras de jogo do bicho: R$ 10 milhões.

Agora, proposta vai a plenário para ser analisada pelos senadores e, se aprovada, passa pela sanção do presidente Lula (PT). Ele pode vetar trechos ou a proposta inteira —o petista afirmou nesta sexta-feira (21) que vai sancionar a lei se o projeto for aprovado pelo Congresso e questionou a diferença entre os chamados "jogos de azar" e as apostas esportivas online, as chamadas "bets".

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