Empresário morto em SP foi mantido refém por 9h; vítima foi torturada
Do UOL, em São Paulo
25/07/2024 16h24Atualizada em 26/07/2024 00h18
O empresário Carlos Alberto Felice, 77, foi mantido refém na própria casa, na zona oeste de São Paulo, por cerca de nove horas. A informação foi divulgada pela Polícia Civil nesta quinta-feira (25).
O que aconteceu
O idoso foi torturado, mas a polícia não sabe precisar por quanto tempo. Um dos suspeitos, identificado como Jordan Magalhães Nogueira, 20, entrou na casa da vítima pelo telhado, segundo a investigação. A polícia diz que o criminoso permaneceu com ele das 8h às 17h48 do dia 12 de julho. Câmeras de segurança registraram o momento em que um homem deixa a casa dirigindo o carro de Carlos Alberto.
Para a polícia, Jordan Magalhães Nogueira, 20, é um dos executores. Ele trabalhava como ajudante de obra na reforma de um imóvel ao lado da casa da vítima. O suspeito não voltou ao trabalho após o crime e é considerado foragido.
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O outro suspeito é Rafael Procópio da Conceição, 26, também ajudante de obra no mesmo local. A polícia ainda não tem certeza se ele esteve na cena do crime. Ele foi preso na quarta-feira (24) e negou participação no assassinato. As investigações apontam que Rafael indicou Jordan para trabalhar na obra.
As imagens não mostram Rafael entrando pelo telhado na casa da vítima. Mas, segundo o delegado Fábio Pinheiro, a perícia constatou que o telefone dele indica que ele estava na região quando o crime foi cometido. "Nessas imagens que a gente captou do circuito de segurança não dá para verificar se ele faz o mesmo trajeto [para invadir a casa]. A gente vai depender das provas periciais, que têm bastante elemento coletado pelos peritos dentro da casa", disse o delegado Rogério Barbosa, diretor do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).
Rafael Procópio já foi preso por roubo e tráfico de drogas. Jordan, suspeito de ser o executor do crime, não tem antecedentes criminais.
Jordan Magalhães teria passado a noite no telhado no dia 11 de julho até render o idoso na manhã do dia seguinte, quando a vítima saía para caminhar. Carlos Alberto Felice foi torturado porque criminosos achavam que ele teria dinheiro em espécie. O plano era roubar os R$ 4,5 milhões que o empresário teria recebido com a venda de uma casa. Porém, idoso só tinha cerca de R$ 30 mil.
A execução aconteceu na garagem. A perícia constatou sangue da vítima no local.
Bilhetes foram encontrados na cena do crime. A polícia acredita que os criminosos se comunicavam com a vítima por pequenas cartas, com o intuito de esconder a voz. Provavelmente, eles estavam de máscara. "Tem anotações para ele não reagir, estavam provavelmente com medo de serem reconhecidos. Escreviam para ele 'já era'. Eles estavam mascarados até determinado momento". Perícia grafotécnica foi solicitada pelos investigadores.
Familiares do Jordan ligaram para um funcionário da obra porque ele não retornou para casa. "Mais um elemento de que ele passou a noite anterior ao crime escondido no telhado". As oitivas também indicam que ele não foi trabalhar na sexta-feira (12), dia em que o empresário foi morto.
O caso é investigado como latrocínio, roubo seguido de morte. A apuração, conduzida por policiais da 1ª Delegacia Patrimônio, contaram com apoio da UIP (Unidade de Inteligência Policiai) do Deic.
Objetos da vítima foram encontrados na casa de Jordan
Os policiais apreenderam vários objetos da vítima casa de Jordan. Entre eles, estão bebidas, dinheiro em espécie, a chave do carro da vítima e documento do carro do empresário queimado. O suspeito também teria comprado móveis novos com o dinheiro roubado.
Carro da vítima foi localizado pela Polícia Militar. Suspeitos trocaram a placa do veículo, o que, segundo a polícia, dificultou a localização. O automóvel foi encontrado no Capão Redondo, na zona sul da capital, na terça-feira (23). O carro estava sem chave e com vidros parcialmente abertos.
Veículo será periciado. Foi solicitada perícia dactiloscópica para auxiliar nas investigações. Peritos tentam localizar vestígios dos suspeitos e impressões digitais que possam ajudar a esclarecer o crime.
Os investigadores não descartam a participação de outras pessoas no crime.
Suspeito mobiliou casa com dinheiro da vítima
Investigação mostra que Jordan comprou móveis com dinheiro roubado da vítima. A polícia encontrou uma nota fiscal que comprova a data em que móveis foram adquiridos. Investigadores também constataram, em perícia na casa do suspeito, que o mobiliário era novo.
Placa verdadeira do carro também foi localizada. Policiais encontraram, próximo à casa de Jordan, a placa verdadeira do veículo do empresário, amassada, e a roupa que Jordan teria usado no dia do crime.
A partir do momento em que ele matou seu Carlos, ficou andando com o carro da vítima na quebrada dele, foi fazer compras com o carro, equipou praticamente a casa todinha, até talheres ele comprou, como se nada tivesse acontecido.
Delegado Fábio Pinheiro
Rafael nega participação no crime
Ajudante de obras disse que estava na casa dele no momento do crime. Rafael Procópio da Conceição, 26, afirmou que mora no bairro do Jardim Ângela, no extremo sul, a cerca de 20 quilômetros de distância da residência da vítima, no Jardim Europa, na zona oeste.
Suspeito declarou que o celular estava com ele quando o empresário foi morto. "Não tenho [envolvimento no crime]. Estou falando com minha total certeza. Eu sou trabalhador, um homem de bem", disse Rafael ao Brasil Urgente (TV Bandeirantes).
Advogado de defesa reforça que cliente não é autor, nem participou do crime. O defensor, que não teve o nome divulgado pela emissora, apontou que há "indícios" de que o celular do cliente estava na região do local do crime no dia do fato, mas não no horário em que Carlos teria sido morto. Ele também reforçou que Rafael apenas conseguiu emprego para Jordan.
Rafael também explicou por que não foi trabalhar na sexta-feira (12), dia em que o empresário foi morto. Ele se limitou a dizer que estava com "problemas de saúde" e não pôde comparecer ao trabalho na data.
O UOL não localizou a defesa de Jordan para pedido de posicionamento. O espaço segue aberto para manifestação.
Empresário morava sozinho
Carlos Alberto Felice era viúvo e não tinha filhos. A esposa dele morreu há três anos. As pessoas mais próximas eram um sobrinho e a irmã. Foi o sobrinho, inclusive, que ligou para a Polícia Militar após não conseguir contato com o tio.
A vítima morava sozinha e não tinha funcionários na casa. Carlos gostava de frequentar a igreja e levava uma vida modesta. O imóvel onde ocorreu o crime não tinha sistema de vigilância com câmeras de segurança. Caminhadas em uma praça ao lado de sua casa eram parte da rotina de Carlos. Vizinhos e comerciantes da região dizem que ele sempre foi muito cordial, educado e gentil.
Segundo a polícia, Carlos passava por dificuldades financeiras nos últimos anos. A situação teria piorado após a morte da esposa e do pai.
Carlos e a irmã herdaram cinco imóveis. O UOL apurou que eles tinham dois apartamentos no bairro Vila Madalena, que valiam cada cerca de R$ 146 mil em 2016, um na Bela Vista, de R$ 579 mil, e uma sala comercial no Jardim América, de cerca de R$ 400 mil. Carlos também herdou da mãe a casa onde aconteceu o crime, no bairro Jardim Europa.