Ana Carolina: 'Me acostumei com a saidinha, mas morrerei discordando dela'
O repórter Valmir Salaro, colunista do UOL, entrevista pela primeira vez Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, morta em 29 de março de 2008 aos 5 anos.
Oliveira foi eleita vereadora em São Paulo pelo Podemos nas eleições de 2024.
Salaro foi o único jornalista a entrevistar o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella. À época, o repórter foi criticado por não ter adotado um tom mais acusatório com o casal, que havia sido indiciado pelo crime um dia antes.
"Muita gente diz que eu não fiz aquela entrevista como deveria fazer, cobrar e tentar tirar uma confissão dos dois", diz Valmir a Ana Carolina Oliveira.
"Eu, em algum momento, acreditei que eles poderiam ser inocentes. Porque eu já tinha tido uma experiência confiando em testemunhas, supostas vítimas e delegado [no caso da Escola Base]. Eu fui com vontade de ouvir o casal. Eu faço as perguntas que achava que naquele momento eram necessárias."
Questionada se ficou incomodada com a forma como a entrevista foi feita, Ana Carolina Oliveira respondeu: "Todos os jornalistas naquela época fizeram seu papel. A população sentiu vergonha alheia daquela entrevista. Não acho que seja seu papel de investigador ou delegado para fazer com que eles confessassem alguma coisa. E a sua entrevista acabou sendo conduzida de uma forma que eles conseguiram mostrar verdadeiramente quem eles são".
Saidinha
No dia 5 de dezembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo autorizou Alexandre Nardoni, condenado a 30 anos de prisão pela morte da filha, a passar o fim do ano com a família no Guarujá, litoral de São Paulo.
Nardoni cumpre pena em regime aberto desde maio de 2024 e não pode sair da capital paulista, onde mora, sem autorização da Justiça. A viagem para o Guarujá não se trata da "saidinha" —autorização temporária para deixar a prisão durante o cumprimento de pena em regime semiaberto.
Mas este foi um benefício ao qual Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá tiveram direito durante o cumprimento da pena. "Eu me acostumei com a saidinha, mas vou morrer discordando dela", diz Ana Carolina Oliveira.
Como membro da Câmara Municipal, ela não tem competência para votar legislação que poria fim ao direito à saída temporária, mas defende que isso seja feito pelos deputados federais. "É plano de muitas pessoas e já está em trâmite. [Espero] que isso aconteça o mais rápido possível. A vítima não é só quem se foi, a vítima é também quem está aqui."
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