Influencer usava dinheiro de doações da filha para usar drogas, diz polícia
Colaboração para o UOL, em São Paulo
07/08/2024 17h52
O influenciador digital Igor Viana, 24, preso por suspeita de desviar doações para a filha com paralisia cerebral, usava parte do valor que serviria para custear o tratamento da criança para o consumo de drogas, segundo a Polícia Civil de Goiás.
O que aconteceu
Igor e a mãe da criança, Ana Vitória Alves dos Santos, gastavam cerca de R$ 1.200 por mês com a compra de drogas. "A investigação confirmou que [o influenciador] gastava cerca de R$ 300 por semana com a compra de drogas, principalmente maconha. Nós conseguimos confirmar que ele comprava cerca de R$ 300 por semana", disse ao UOL a delegada do caso, Aline Lopes.
Casal gastava cerca de R$ 5.000 por mês com os cuidados da filha. Entretanto, a investigação acredita que eles arrecadavam mensalmente um valor superior ao necessário para o tratamento da menina, porque os dois mantinham um padrão de vida incompatível com quem precisa de doações. Não foi informado o valor exato que eles conseguiam arrecadar por mês.
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Suspeita de "destinação diversa" do dinheiro arrecadado. Ainda segundo a delegada, os pais "realmente pagavam" o tratamento da criança, mas há indícios de que parte do valor arrecadado era usado para fins pessoais do casal. Entre outros, há suspeitas de que a mãe teria custeado tratamentos estéticos com partes do valor. Aline Lopes ressaltou que essas suspeitas serão "confirmadas após análise das contas bancárias" dos dois.
Em depoimento, Igor não teria demonstrado arrependimento. Conforme a delegada, o influenciador afirmou que faria "tudo novamente" em relação aos cuidados da filha. Lopes também destacou que o pai usava a própria filha para "gerar engajamento" nas redes sociais e atrair mais público para os seus perfis nas mídias digitais.
Influenciador, de forma consciente, colocou a própria filha em risco de morte em lives nas redes, aponta a delegada. Conforme Aline, Igor fazia transmissões ao vivo enquanto alimentava a filha, e isso colocava a criança em risco de vida, porque ele dava comida de forma errada. "Ele colocava [a filha] em risco de broncoaspirar e até de morrer. Ele sabia disso", explicou a delegada.
Igor Viana justificou que "era normal" a filha engasgar enquanto se alimentava. Ainda segundo a polícia, ele também alegou que "tinha muita prática em dar comida à criança e que seria capaz de alimentá-la 'até de olhos fechados'".
O UOL não conseguiu localizar a defesa de Igor e Ana para pedir posicionamento referente aos novos fatos revelados pela investigação. O espaço segue aberto para manifestação.
Prisão do influenciador
Prisão foi feita pela DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente). O influencer —conhecido nas redes como "Pai de Soso"— estava acompanhado da mãe da criança, Ana Vitória Alves dos Santos, em um apartamento alugado em Goiânia no momento da prisão. A mulher (que também está sendo investigada) não foi presa, já que teve o pedido de prisão indeferido pela Justiça.
Durante as investigações, a Polícia Civil já havia pedido a prisão dos dois, que foi negado pela Justiça. No entanto, surgiram novos elementos que deixaram evidentes o cometimento de crime por estelionato e, ainda, que eles estariam atrapalhando as investigações. Por isso, houve um novo pedido ao Poder Judiciário. Aline Lopes, delegada responsável pelo caso
Ao UOL, a defesa de Igor Viana disse receber com surpresa a prisão de seu cliente. "A defesa esclarece que não há qualquer fato novo ou contemporâneo que pudesse justificar o pedido de prisão preventiva de Igor. Na verdade, a defesa entende que o pedido de representação pela prisão preventiva de Igor de forma reiterada, é apenas um malabarismo midiático para chamar atenção da mídia novamente para o caso."
Igor é investigado diretamente por cinco tipificações criminosas: maus-tratos; causar constrangimento à criança; incitar discriminação contra a pessoa com deficiência; estelionato e desvio de proventos da pessoa com deficiência. Ana Vitória, por sua vez, é investigada diretamente por estelionato.
Polícia também investiga se Ana Vitória foi omissa em relação a supostos crimes cometidos pelo pai contra a filha. Conforme a Polícia Civil de Goiás, as atitudes do pai foram praticadas enquanto ele ainda vivia com a mãe da menina e, portanto, embora ela não seja a autora direta dos crimes, pode responder por omissão.
Pai causou constrangimento à filha em vídeos expostos nas redes. Segundo a investigação, Igor usou termos pejorativos para se referir à criança. Nesse mesmo contexto, Viana é suspeito de incitar a discriminação contra a pessoa com deficiência porque suas falas não atingem apenas a filha, mas todas as pessoas que têm algum tipo de deficiência.
Os pais ainda são investigados pela suposta prática de estelionato. Segundo a delegada responsável pelo caso, Aline Lopes, há indícios de que Igor e Ana simulavam que a filha precisava de doações para custear tratamento, mas usavam as verbas doadas com outras coisas. A mãe, inclusive, teria feito intervenções estéticas com o dinheiro doado.