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Até quando vai o clima 'apocalíptico'? Primavera tem previsão preocupante

Veículos trafegam por uma estrada coberta de fumaça do incêndio que afeta o Parque Nacional de Brasília em Brasília em 16 de setembro de 2024 Imagem: EVARISTO SA/AFP

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

19/09/2024 10h20Atualizada em 19/09/2024 11h05

A primavera começa neste domingo, sob um cenário recente de ondas de calor, seca e incêndios em boa parte do Brasil. Mas até quando este clima "apocalíptico" irá se manter? Especialistas apontam que a situação não melhora na estação - e talvez tenha trégua só em 2025, já no verão.

O que aconteceu

O clima extremo deve continuar nos próximos meses, até o final do ano ou início de 2025. Segundo o meteorologista Micael Amore Cecchini, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, não há expectativa de reversão rápida desse cenário de calor intenso e a escassez de chuvas.

Estamos esperando meses mais quentes do que a média, e as chuvas também ficarão abaixo da média na maior parte do país, com exceção de algumas áreas no Norte.
Cecchini

Eventos como chuva preta e céu alaranjado podem se tornar mais frequentes. O meteorologista acredita que a intensificação das queimadas, associada a períodos prolongados de seca, pode aumentar a frequência de fenômenos como chuva preta e o céu com tons alaranjados. "Se não houver uma contrapartida da sociedade, podemos ver mais fenômenos como esses", adverte Cecchini.

Mudanças climáticas causadas pelo homem são as principais responsáveis. O aumento de gases de efeito estufa e o desmatamento agravam o cenário atual. Cecchini destaca que o desmatamento na Amazônia, que contribui para a emissão de CO2, está diretamente relacionado às mudanças climáticas globais. "Essas mudanças são causadas pela ação humana, e estamos vendo as consequências de anos de falta de controle sobre a emissão de poluentes", alerta.

Ondas de calor e eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes. Andrea Ramos, meteorologista do Climatempo, ressalta que o aumento das temperaturas médias globais tem levado a uma maior frequência de eventos extremos, como ondas de calor e chuvas torrenciais. "Chuvas que eram para acontecer num mês estão acontecendo em um único dia, o que intensifica o impacto", explica. A seca também agrava as queimadas, que se espalham com mais facilidade.

O El Niño contribuiu para o cenário climático extremo. Ramos destaca que o fenômeno El Niño, iniciado em 2023, intensificou as ondas de calor e as chuvas extremas. "2023 foi o ano mais quente já registrado", afirma Ramos. Além disso, a seca e o aumento da biomassa no solo criaram condições ideais para queimadas. "O solo seco e quente, combinado com biomassa acumulada, propiciou a propagação das queimadas", explica Ramos.

Agora, a expectativa é pelo La Niña. O fenômeno tem boas chances de se formar, resfriando as águas do Oceano Pacífico e dando trégua ao calor nos próximos meses, segundo a MetSul.

O impacto na saúde pública

A exposição prolongada à fumaça e ao ar seco pode ser devastadora para a saúde, agravando doenças respiratórias e causando dores de cabeça e complicações pulmonares. "Áreas urbanas, como São Paulo, sofrem com a poluição constante, mas a fuligem das queimadas adiciona uma nova camada de problemas", afirma Cecchini. Ele também aponta que populações vulneráveis, como crianças e idosos, estão em risco.
Segurança alimentar e hídrica

O professor alerta que, se as secas se intensificarem, os reservatórios de água poderão não ser reabastecidos, levando a uma crise hídrica. "Sem chuvas suficientes para restabelecer os níveis dos reservatórios, a escassez de água será uma realidade", afirma o meteorologista. A falta de água também pode impactar diretamente a produção de alimentos, aumentando os riscos para a segurança alimentar.

Minimizando o impacto

Fiscalização, punições e incentivos são essenciais para controlar as queimadas. Cecchini defende que o governo deve intensificar a fiscalização de incêndios criminosos e aumentar as punições para quem pratica desmatamento ilegal. Ele também sugere incentivos fiscais e linhas de crédito para agricultores adotarem tecnologias que não dependam do uso do fogo.

Como contrapartida da sociedade, o professor cita ações coordenadas para enfrentar a crise climática. Ele reforça a importância de que governos, empresas e a população ajam de maneira integrada para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. "Sem essa contrapartida da sociedade, veremos mais eventos climáticos extremos no futuro", conclui.

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