Carlos Madeiro

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Reportagem

Coral do oceano Índico invade Baía de Todos os Santos: 'Reduziu os peixes'

Pesquisadores marinhos estão preocupados e avaliando formas de controlar a invasão de um coral originário dos oceanos Índico e Pacífico na Baía de Todos os Santos, APA (Área de Proteção Ambiental) na Bahia.

A presença do octocoral Chromonephthea braziliensis, conhecido como "coral mole, na maior baía brasileira —e segunda maior do mundo— foi visto pela primeira ainda em 2023 por pescadores, mas tem se alastrado, tomando áreas de espécies de locais nos arredores da ilha de Itaparica.

Por conta da invasão, um grupo de instituições e pesquisadores se uniu para estudar avanço, manejo e formas de realizar o controle da espécie.

Não há espaço livre em fundos rochosos no ambiente marinho, sempre há algo crescendo neles. Isso significa que o aumento na quantidade desse octocoral provavelmente reduziu a presença de outros organismos que antes ocupavam essa região. "Os pescadores da região alegam que ele estaria reduzindo a quantidade de peixes.
Igor Cruz, professor do Laboratório de Oceanografia Biológica do Departamento de Oceanografia da UFBA (Universidade Federal da Bahia)

Octocoral Chromonephthea braziliensis, o coral mole
Octocoral Chromonephthea braziliensis, o coral mole Imagem: Cláudio Sampaio/Ufal

Essa espécie já era conhecida no Arraial do Cabo (RJ) há algumas décadas, mas recentemente foi registrada uma perigosa expansão para águas tropicais do Atlântico. Para especialistas, a principal hipótese é que ele tenha chegado ao Brasil por meio de plataformas de petróleo.

Uma das maiores preocupações é que ele chegue aos recifes de corais da região. "Não sabemos o que pode acontecer caso ela chegue até lá", diz.

Cruz explica que a bioinvasão é um problema crônico que, uma vez estabelecido, se acumula a outras espécies invasoras. No caso da Baía de Todos os Santos, outros tipos de octocoral já haviam sido identificados em pesquisas passadas.

Segundo ele, só no local já foram registrados pelo menos 33 espécies exóticas, sendo que ao menos sete podem ser classificadas como invasoras.

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As espécies invasoras devem ser combatidas em duas etapas. A primeira é a prevenção, ou seja, evitar sua chegada. No entanto, essa tarefa é extremamente difícil, pois muitas espécies invasoras chegam através de água de lastro ou presas em plataformas marítimas. A segunda etapa é a ação rápida, que busca erradicar a espécie antes que ela se espalhe.

Baía de Todos os Santos
Baía de Todos os Santos Imagem: Igor Santos/Prefeitura de Salvador

O coral mole

Segundo o pesquisador Cláudio Sampaio, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), o Chromonephthea braziliensis é chamado de coral mole por não possuir esqueleto calcário, como os outros corais. "Seu colorido é vistoso, com tons rosados, brancos, violetas e marrons", cita.

Ele afirma que já foram encontradas registradas colônias com mais de 1 metro de altura na baía. Ele cita que a preocupação principal é porque na região do Indo-Pacífico, de onde a espécie é originária, há predadores e competidores com ele.

"Aqui no Brasil a ausência de competição e predação fazem que esses octocorais invasores crescem rapidamente, cobrindo vastas áreas de estruturas artificiais como píeres, sinalizações náuticas, portos, naufrágios e lixo submerso.

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O manejo da espécie é considerado um desafio, já que a remoção direta pode resultar na liberação de esporos (que são fragmentos com capacidade de regeneração), o que aumentaria a área da bioinvasão, com mais dispersão.

Octocoral Chromonephthea braziliensis na maior baía brasileira, a  Baía de Todos os Santos
Octocoral Chromonephthea braziliensis na maior baía brasileira, a Baía de Todos os Santos Imagem: Cláudio Sampaio/Ufal

Na semana passada, pesquisadores testaram a aplicação de alguns métodos para controle do octocoral, como a raspagem, a remoção manual com espátula, com aplicação de água doce, vinagre e sal azedo. "Em uma semana vamos retornar e registrar os resultados", explica.

A espécie está sendo estudada por pesquisadores da ONG ProMar, da UFBA, da Ufal, do e do Programa de Gerenciamento e de órgãos ambientais baianos planejam controlar o avanço do octocoral.

Segundo Igor Cruz, porém, há pelo menos dois grandes desafios para implementar ações rápidas:

  • Custo elevado: O trabalho de uma equipe em campo é caro, mesmo com voluntários.
  • Burocracia: A obtenção de licenças pode ser um processo demorado, e realizar ações sem a devida autorização é crime sujeito a multa.
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Felizmente, órgãos ambientais, tanto federais quanto estaduais, têm trabalhado para resolver essas questões. É fundamental monitorar os ecossistemas para registrar a chegada de novas espécies exóticas ou invasoras conhecidas, permitindo ações rápidas.
Igor Cruz

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