Políticos são investigados por crimes com suspeita de ligação com PCC e CV
Políticos são investigados por crimes com suspeita de ligação com o PCC e com o Comando Vermelho.
O que aconteceu
O UOL fez levantamento de apurações envolvendo crimes como organização criminosa, lavagem de dinheiro, fraude em licitações e até de assassinatos com indícios de motivação ligada às eleições municipais deste ano. Os casos estão concentrados em São Paulo e Rio de Janeiro.
Filha de Fernandinho Beira-Mar é suspeita de repassar mensagens do CV para o pai na cadeia. A vereadora Fernanda Costa (MDB), candidata à reeleição em Duque de Caxias (RJ), foi condenada em 2023 por organização criminosa pela Justiça Federal de Rondônia por suspeita de envolvimento com a lavagem de dinheiro para a facção criminosa do Rio de Janeiro. Ela recorreu da decisão e responde ao processo em liberdade.
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Os recados para a cúpula da facção eram em linguagem codificada para dificultar ações policiais, diz denúncia do MPF. Apontado como um dos líderes do CV, Luiz Fernando da Costa, o Beira-Mar, está no sistema prisional federal de segurança máxima desde a sua inauguração, há 18 anos, onde cumpre pena de mais de 300 anos por crimes como homicídio, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Prefeito de Embu das Artes (SP) já foi denunciado por suspeita de fazer lavagem de dinheiro para o PCC. Segundo o MP, Ney Santos (Republicanos) começou a chefiar o esquema para o crime organizado em 2013, um ano depois de ter sido eleito vereador. Condenado em 1999 por receptação e formação de quadrilha, ele também foi preso em 2003, acusado de usar uma metralhadora em roubo a um carro-forte, segundo o MP. Mas acabou sendo absolvido por falta de provas.
Patrimônio de mais de R$ 100 milhões e "campeão de votos". Após sair da prisão em 2005, Ney Santos acumulou patrimônio milionário em quatro anos como empresário do ramo de combustíveis, segundo o MP. Em 2016, se elegeu prefeito com 79% dos votos, maior percentual de votos válidos da história da cidade. A candidatura só foi possível após liminar que permitiu a sua candidatura, que havia sido impugnada pela Justiça Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa. Em 2020, acabou sendo reeleito.
A partir da breve passagem pelo sistema penitenciário, [Ney Santos] constituiu fortuna de forma relâmpago, enveredando-se para a área política e candidatando-se para cargos públicos (...). [Há] indicativos de que ele era e é membro do PCC.
Documento do MP
Suspeitos alegam inocência
A Fernanda visitava o pai na cadeia. E, em uma dessas visitas, o pai comentou que queria reverter o lucro do livro que ele está escrevendo sobre a vida dele para instituições de caridade. Por isso, ela passou a ser investigada. Tenho certeza de que a Fernanda vai ser absolvida, porque não há nada que a incrimine no processo.
Wellington Corrêa da Costa Jr, advogado da filha de Beira-Mar
Em toda eleição, esse tipo de assunto reaparece. Eu desafio o MP a apresentar uma única conversa que apareça alguém do PCC falando a respeito do Ney Santos ao longo de 14 anos de investigações. Ou ele é um gênio do crime ou o MP só fala e não tem elementos para embasar a denúncia.
Joel Matos Pereira, advogado do Ney Santos
O que dizem os especialistas
Suspeitos de ligação com facções criminosas só perdem as garantias legais de concorrer nas eleições se forem condenados. Quando a pena é superior a 4 anos, ele é considerado inelegível e perde os seus direitos eleitorais.
Ivana David, desembargadora do TJ-SP e especialista em investigações sobre o crime organizado
Romper com os laços entre crime e política é de grande importância para a segurança pública e para a manutenção da democracia. Para isso, é importante que haja investigações céleres e preventivas no processo eleitoral para garantir que não tenhamos problemas relacionados à cooptação ou à representação política das organizações criminais no Brasil.
Daniel Hirata, sociólogo e professor da UFF
No Brasil, a violência política se expressa por assassinatos e agressões a adversários. Mas, nos últimos anos, se intensificou o controle territorial com grupos armados, que impedem candidatos de fazer campanha nas suas áreas de atuação.
Paulo Baía, cientista político
Morte no RJ e fraude em licitações em SP
Polícia Civil investiga se CV tem ligação com assassinato de cabo eleitoral de concorrente de vereador. Preso em 18 deste mês por suspeita de planejar a morte de Aparecido de Moraes, baleado em julho em Campos dos Goytacazes (RJ), Bruno Pezão (PP) teve liberdade provisória concedida pela Justiça no dia seguinte.
A investigação teve acesso a uma chamada de vídeo feita por Pezão um dia antes do crime. Nas imagens, ele fala com José Ricardo Rangel de Oliveira, o Ricardinho, suspeito de chefiar o tráfico local mesmo preso no Complexo de Gericinó, em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro.
Vereador investigado por homicídio segue na disputa pela reeleição. Após ser solto, ele se posicionou em vídeo no seu perfil do Instagram dizendo ser perseguido por adversários políticos e citando a religião para pedir voto.
Você, eleitor, confie em mim. Nós estamos legível [sic], e a gente vai ganhar a eleição (...). O meu advogado é o senhor Jesus Cristo, que está na luta junto comigo.
Bruno Pezão (PP), em seu perfil no Instagram
MP prendeu três vereadores suspeitos de fraudar contratos públicos em benefício do PCC em SP. Na ação, em abril deste ano, foram presos Ricardo Queixão (PSD), de Cubatão, no litoral; Flavio Batista de Souza (Podemos), de Ferraz de Vasconcelos, na região metropolitana; e Luiz Carlos Alves Dias (MDB), de Santa Isabel, também na região metropolitana.
Operação também prendeu advogado de um dos criminosos mais procurados do país. Áureo Tupinambá de Oliveira Fausto Filho representa André de Oliveira Macedo, o André do Rap, apontado pelas autoridades como envolvido no tráfico internacional de drogas e suspeito de ter conexões com o PCC. A prisão ocorreu pela atuação dele como funcionário comissionado da Câmara de Cubatão — e não em decorrência do exercício da advocacia.
As empresas do grupo atuavam para frustrar a competição em processos de contratação de mão de obra terceirizada e atender a interesses do PCC, segundo as investigações. O grupo tem contratos públicos de mais de R$ 200 milhões — principalmente na área de limpeza e vigilância em órgãos públicos.
Queixão, Flavio e Áureo foram soltos após terem as suas prisões revogadas pela Justiça. Os vereadores investigados pediram renúncia de seus cargos.