Como Beira-Mar isentou PCC de morte que gerou guerra do tráfico no Paraguai
Em áudio inédito captado em som ambiente em um banho de sol no presídio federal de Porto Velho (RO), o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, isentou o PCC de participação no assassinato que deu origem a uma guerra pelo controle do tráfico de drogas na fronteira com o Paraguai nos últimos anos.
O que aconteceu
O relato registrado pelo Depen (Departamento Penitenciário Nacional) foi feito em julho de 2016, logo após o crime, ao traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP. Beira-Mar e VP são apontados como as lideranças do Comando Vermelho, facção criminosa que domina o tráfico de drogas no Rio de Janeiro.
Na época, o narcotraficante Jorge Rafaat, conhecido como o Rei da Fronteira, havia acabado de ser morto com tiros de metralhadora em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz divisa com Ponta Porã (MS). Beira-Mar disse que o crime foi arquitetado por "Siciliano", até então aliado de Rafaat, e que estaria sendo atribuído equivocadamente à facção criminosa paulista.
Segundo os investigadores, ele se referia ao narcotraficante Gerson Palermo, um dos criminosos mais procurados do país. Ele está foragido há três anos, quando rompeu a tornozeleira eletrônica horas após ser beneficiado pela Justiça de Mato Grosso do Sul para cumprir pena domiciliar. No começo do mês, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) abriu investigação sobre o caso.
Condenado a 126 anos, Palermo ficou conhecido pelo sequestro de um avião que decolou de Foz do Iguaçu em direção a Curitiba, em agosto de 2000. Ex-piloto, ele rendeu o comandante do voo e o obrigou a parar no aeródromo de Porecatu para saquear malotes do Banco do Brasil com R$ 5,5 milhões.
Os representantes legais de Fernandinho Beira-Mar e de Marcinho VP não se posicionaram, já que eles não respondem criminalmente pelo conteúdo do áudio vazado.
Como foi o diálogo
O Samura [Jorge Teófilo Samúdio Gonzalez, líder do Comando Vermelho preso desde março de 2021] falou para mim como é que foi. Falou que o bagulho foi cinematográfico. Tomaram essa atitude [Palermo e comparsas], mas quem levou a fama foi o pessoal do 15 [em alusão ao PCC].
Fernandinho Beira-Mar
O Rafaat, quando eu cheguei lá [no Paraguai], nem era bandido. Ele trabalhava com negócio de pneu. Mas ele sempre teve sede de poder. E, depois que puxou uma cadeia lá, ele saiu querendo dominar. Ele entrava no caminho dos outros, querendo cobrar pedágio. Eu não tinha inimizade com ele, não. Mas a postura dele era postura de alemão [inimigo].
Marcinho VP
Fernandinho Beira-Mar - Aí! O Siciliano não está mexendo com chá [tráfico de maconha, segundo os investigadores], né?
Marcinho VP - Não.
Beira-Mar - Lá [na fronteira entre Brasil e Paraguai], agora, tá o seguinte (...). Tem muita gente lá. Brasileiro lá tá igual mato. Tá, tipo assim, tem muito amigo nosso que tá (...). [O Siciliano está] morando lá muito mesmo e, fora nós [Comando Vermelho], deles tem muito lá. Mas é muito grande. Então, dá pra todo mundo viver lá. Cada um na sua lá, tá ligado?
Beira-Mar - Cara, é o seguinte. Eu não tenho nada contra ele. Ele me respeita e tal, quando eu estava lá. Mas é o seguinte: ele é comerciante, ele trabalha com quem compra dele. Seja 15 [em referência ao PCC], seja lá quem for. Ele trabalha, mas a informação que eu tive é que ele estava junto com o Siciliano e mais um S [Sérgio Lima dos Santos, condenado a 35 anos de prisão pelo assassinato do Rafaat]. Eles estavam junto na caminhada e se uniram lá, entendeu?
VP - Nós estava [sic] ciente disso aí também e jogaram na conta dos [trecho incompreensível].
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Quero receberBeira-Mar - O Samura [Jorge Teófilo Samúdio Gonzalez, líder do Comando Vermelho preso desde março de 2021] falou pra mim como é que foi, contou que inclusive rodou um amigo. Um irmão nosso baleado lá, entendeu? Tá lá baleado, tá preso lá. Falou que o bagulho foi cinematográfico.
Beira-Mar - O que chegou pra gente é que ele se uniu com o S [Sérgio Lima dos Santos] e o Siciliano tomaram essa atitude. Mas quem levou a fama foi o pessoal do 15 [PCC], entendeu? Quem ganhou a fama de ter feito foi o pessoal do 15.
VP - O Rafaat, quando eu cheguei lá [no Paraguai], ele trabalhava com negócio de pneu. Nem era bandido nessa época, ele trabalhava com negócio de pneu. Mas ele sempre teve sede de poder. E, depois que puxou uma cadeia lá, ele saiu da cadeia querendo dominar. Ele entrava no caminho dos outros, querendo cobrar pedágio. Eu não tinha inimizade com ele, não. Mas a postura dele era postura de alemão [inimigo].
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