Bope frustra plano do CV, e milícia aproveita para recuperar área
Uma descoberta do setor de inteligência e uma operação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio de Janeiro
acabaram por favorecer um grupo miliciano em uma disputa por territórios com o CV (Comando Vermelho).
O que aconteceu
Chefes do CV planejavam tomar áreas da milícia na zona oeste da capital fluminense e seguir a expandir seus domínios. Mas foram surpreendidos por uma ação do Bope e tiveram que mudar seus planos. Além disso, os líderes do CV precisaram lidar com um grupo miliciano que invadiu e recuperou uma região que havia sido perdida para a facção criminosa.
Após ocupar a favela da Muzema, na zona oeste do Rio, chefes do CV (Comando Vermelho) articularam um ataque para dominar Rio das Pedras, que fica na mesma região e é o reduto da mais antiga milícia da cidade. Mas o setor de inteligência da PM teria descoberto que os integrantes do CV e o armamento que seriam utilizados para o novo ataque estariam escondidos na favela da Tijuquinha. Essa comunidade fica na mesma região e é dominada por associados ao CV.
Com essa informação, o Bope realizou na manhã da última quarta-feira (16) uma operação para tentar encontrar o paiol do CV na Tijuquinha. Os faccionados reagiram sequestrando nove ônibus e posicionando os veículos, por duas horas, como barricadas em vias próximas de Itanhangá, Tijuquinha, Muzema e Vila da Paz.
Segundo a PM, os criminosos da Tijuquinha fizeram isso para tentar desviar o foco dos policiais. Não houve confronto nem prisões, mas drogas foram apreendidas. No dia seguinte (17), mais dois ônibus foram sequestrados e usados como barricadas na estrada do Itanhangá. A suspeita de oficiais da PM e de policiais civis entrevistados pelo UOL é de que os criminosos ligados ao CV na região, diante da ação do Bope, decidiram recuar, o que levou ao fracasso da invasão de Rio das Pedras. Para os policiais, isso significa que os faccionados devem ter tirado da região o armamento que seria utilizado na tentativa de tomada do território.
A virada da milícia
Esse recuo do CV fez com que os milicianos aproveitassem a situação. Na manhã de sábado (19), cerca de 40 milicianos, fardados de preto e com armas longas em bandoleiras à vista, entraram na favela da Muzema, que havia sido perdida para o CV, e anunciaram aos moradores que o tráfico de drogas não voltaria para o local.
Enquanto isso, PMs detiveram dois homens suspeitos de serem traficantes na Tijuquinha, em um ataque ao CV na favela que fica próxima da Muzema. A corporação afirmou que os policiais apreenderam grande quantidade de drogas e de materiais de preparo de maconha e cocaína, além de um rádio transmissor, roupa camuflada, celular e dinheiro.
A reportagem entrevistou na última semana pesquisadores e especialistas na segurança pública do estado, policiais civis e militares, líderes comunitários e moradores da zona oeste para compreender a tensão no local. Segundo eles, o interesse de chefes do CV nas áreas dominadas por milicianos na zona oeste ocorre por ser uma região que gera lucro. Assim que tomam as regiões da milícia, os faccionados continuam exercendo a estrutura financeira montada pelos milicianos.
A PM, porém, informa que a Muzema está ocupada pelas forças de segurança. O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), determinou que a corporação intensifique o trabalho ostensivo na região, sobretudo nas áreas das favelas da Muzema, Tijuquinha, César Maia e Sítio Pai João. De 2021 para cá, donos de morros do CV têm intensificado ações para dominar regiões no leste metropolitano fluminense, na zona sul e centro da cidade.
Alguns desses domínios ocorrem em áreas sem presença de grupos criminosos armados. Em outros territórios, há disputas contra milicianos e faccionados do TCP (Terceiro Comando Puro).