Irmã de venezuelana morta apela a Lula para tratar caso como feminicídio

A família de Julieta Hernández, artista venezuelana estuprada e morta em Presidente Figueiredo (AM) no ano passado, apela que o caso seja julgado como feminicídio.

O que aconteceu

A segunda audiência de instrução do caso está prevista para terça-feira (3). A primeira audiência, em agosto, foi suspensa após a requisição de um documento citado durante a sessão.

A família da vítima requer a reclassificação do crime. Em entrevista ao UOL, o advogado da família, Carlos Nicodemos, afirma que o intuito do requerimento é que o crime seja julgado como feminicídio, e não latrocínio, como está registrado.

"Deste modo, ele não será mais um número entre os roubos seguidos de morte no estado. Será julgado como feminicídio, e vai levantar questões de violência de gênero e xenofobia no Amazonas", afirma Nicodemos.

MP do Amazonas registrou caso como latrocínio. A reportagem tentou contato com a promotoria, mas não obteve retorno até o momento da publicação.

Apelo a Lula. No sábado (30), a irmã de Julieta, Sofía Hernández, publicou um vídeo em suas redes sociais pedindo apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a instituições que defendem os direitos das mulheres.

Nossa questão não é a maior pena, é a justa punição, com o contorno que o caso tem. É mais um caso de feminicídio e de xenofobia, da descriminação por ser uma mulher venezuelana. Ser tratado como roubo seguido de morte não descortina a bandeira de luta por turismo seguro para mulheres, descortina a questão de gênero e o preconceito contra venezuelanos no estado -
Carlos Nicodemos, advogado da família de Julieta Hernández.

Mudança de versão

Única delegacia da cidade. O caso de Julieta foi registrado na 37ª Delegacia Interativa de Polícia de Presidente Figueiredo, e quem assumiu a investigação foi o delegado Valdnei Silva.

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Estupro é principal hipótese. Em entrevista ao UOL, concedida em janeiro deste ano, ele diz que a principal linha de investigação é que a artista teria sido estuprada e teve seu corpo queimado.

Os acusados são Thiago Angles da Silva e Deliomara dos Anjos Santos. Os dois viviam na pousada em que Julieta se hospedou durante sua passagem pela cidade, que fica a 150 quilômetros de Manaus.

Mudança de versões. Em seu primeiro depoimento, Deliomara reforça a tese do estupro, que não pôde ser confirmado na necrópsia devido à composição do cadáver. Uma semana depois do primeiro depoimento, entretanto, a acusada mudou de versão: disse que ateou fogo no corpo de Julieta por tê-la visto sentada no colo de Thiago.

Família critica delegado do caso

Sem contato com a família. Nicodemos alega que o delegado não prestou esclarecimentos aos parentes de Julieta, que teriam ficado sabendo de detalhes do crime pelas entrevistas que Valdnei deu a veículos de imprensa. É esta também uma das queixas de Sofía, irmã da vítima.

A reportagem entrou em contato com o delegado, que diz preferir não comentar as acusações. "A família nunca falou comigo. Não houve boletim de ocorrência por parte de familiares junto à nossa delegacia. A gente tomou conhecimento do caso pelas redes sociais, e a partir do momento que soubemos do que estava acontecendo, nos dedicamos inteiramente à investigação", afirma.

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Possibilidade de júri popular. Para a audiência do próximo dia 3, a juíza do caso vai ouvir o delegado e outras testemunhas. Nesse mesmo dia, ela já pode definir se o caso vai ou não a júri popular.

Ministério da Mulher apoia a reclassificação do crime

Ministério das Mulheres estará na audiência. A coordenadora de Prevenção à Violência contra Mulheres, Simone Souza, representará a pasta na no Tribunal.

Caso em sigilo. Ainda segundo o Ministério, a secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres, Denise Motta Dau, e a ouvidora da pasta foram até o fórum na última audiência, mas não puderam participar por decisão da juíza, uma vez que o caso está sob sigilo.

Feminicídio Zero. Em setembro, durante agenda em Manaus, a ministra reforçou o apoio da pasta aos familiares da artista durante audiência pública na Assembleia Legislativa do Amazonas. A audiência marcou o lançamento da campanha "Feminicídio Zero - Nenhuma violência contra a mulher deve ser tolerada", do governo federal.

Em nota enviada ao UOL, a pasta "reafirma o apoio aos familiares de Julieta Hernández, artista covardemente assassinada em dezembro de 2023 no município de Presidente Figueiredo, interior do Amazonas".

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Eles [a família] pedem que o crime, classificado como latrocínio, seja reconhecido como feminicídio. A violência contra Julieta Hernandez apresenta características de um crime misógino e xenófobo, de ódio à artista circense como mulher e como migrante - Ministério das Mulheres.

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