Irmã de venezuelana morta no AM critica investigação: 'Lutando sozinha'
Sophía La Roja, irmã de Julieta Hernández, artista venezuelana estuprada e morta em Presidente Figueiredo (AM), fez duras críticas à investigação do caso em entrevista ao UOL neste domingo (1º).
O que aconteceu
Julieta Hernández, 30, foi assassinada em janeiro deste ano. Família apela para que o caso seja julgado como feminicídio. "Deste modo, ele não será mais um número entre os roubos seguidos de morte no estado. Será julgado como feminicídio, e vai levantar questões de violência de gênero e xenofobia no Amazonas", explica o advogado da família, Carlos Nicodemos.
Sophía diz que a polícia nunca a procurou para dar informações do caso. Segundo ela, a investigação fez apenas coletivas de imprensa. "Como é possível que a polícia tenha dado informações particulares à imprensa e não para a família?"
Venezuelana informou ainda que "o Brasil promete atendimento psicológico a ela", mas isso nunca ocorreu. "Tive de lutar contra isso sozinha e com ajuda dos meus familiares, que pagaram minha terapia para eu poder seguir em frente, mas os dias não estão nada fáceis", contou.
Irmã relatou como a morte de Julieta impactou a vida dela. Sophía disse que está há oito meses sem trabalhar, com contas a pagar. "Agora, minha mãe mora comigo, está longe da Venezuela, onde ela estava esperando minha irmã. Elas tinham grandes planos, mas agora não será mais possível."
Tem sido extremamente difícil voltar para minha vida e sentir alegria. Meus sonhos foram destruídos e a única coisa que me faz continuar é a justiça pela minha irmã e continuar seu legado. Sophía La Roja, irmã de Julieta Hernández
Sophía diz que a imprensa a assediou o tempo todo assim que caso foi divulgado. Ela conta que uma tia precisou ser hospitalizada depois de ler numa notícia sobre Julieta. "Publicaram coisas horríveis sobre o caso da minha irmã, mas tentamos não ler nada. Infelizmente uma das minhas tias viu uma notícia e teve um colapso mental."
A segunda audiência de instrução do caso está prevista para terça-feira (3). A primeira audiência, em agosto, foi suspensa após a requisição de um documento citado durante a sessão.
Os acusados são Thiago Angles da Silva e Deliomara dos Anjos Santos. Os dois viviam na pousada em que Julieta se hospedou durante sua passagem pela cidade, que fica a 150 km de Manaus.
Mudança de versões. Em seu primeiro depoimento, Deliomara reforçou a tese do estupro, que não pôde ser confirmado na necrópsia devido à decomposição do cadáver. Uma semana depois do primeiro depoimento, entretanto, a acusada mudou de versão: disse que ateou fogo no corpo de Julieta por tê-la visto sentada no colo de Thiago.
Delegado do caso disse ao UOL que preferia não comentar as acusações. "A família nunca falou comigo. Não houve boletim de ocorrência por parte de familiares junto à nossa delegacia. A gente tomou conhecimento do caso pelas redes sociais, e a partir do momento que soubemos do que estava acontecendo, nos dedicamos inteiramente à investigação", afirma.
Possibilidade de júri popular. Para a audiência do próximo dia 3, a juíza do caso vai ouvir o delegado e outras testemunhas. Nesse mesmo dia, ela já pode definir se o caso vai ou não a júri popular.
Ministério da Mulher apoia a reclassificação do crime
Ministério das Mulheres estará na audiência. A coordenadora de Prevenção à Violência contra Mulheres, Simone Souza, representará a pasta na no Tribunal.
Caso em sigilo. Ainda segundo o Ministério, a secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres, Denise Motta Dau, e a ouvidora da pasta foram até o fórum na última audiência, mas não puderam participar por decisão da juíza, uma vez que o caso está sob sigilo.
Feminicídio Zero. Em setembro, durante agenda em Manaus, a ministra reforçou o apoio da pasta aos familiares da artista durante audiência pública na Assembleia Legislativa do Amazonas. A audiência marcou o lançamento da campanha "Feminicídio Zero - Nenhuma violência contra a mulher deve ser tolerada", do governo federal.
Pasta reafirma apoio a familiares. Em nota enviada ao UOL, a ministério "reafirma o apoio aos familiares de Julieta Hernández, artista covardemente assassinada em dezembro de 2023 no município de Presidente Figueiredo, interior do Amazonas".
Eles [a família] pedem que o crime, classificado como latrocínio, seja reconhecido como feminicídio. A violência contra Julieta Hernandez apresenta características de um crime misógino e xenófobo, de ódio à artista circense como mulher e como migrante. Nota do Ministério das Mulheres