Quem é 'Deus', que usava até Correios para importar armas a facção no Rio


Colaboração para o UOL
28/03/2025 05h30
Everson Vieira Francesquet, conhecido como "Deus" e "Visionário", foi preso na semana passada por fornecer drones, granadas e fuzis ao Terceiro Comando Puro, facção evangélica comandada por Peixão.
O que aconteceu
A Polícia Federal prendeu Everson Vieira Francesquet na semana passada, por envolvimento na logística bélica do TCP (Terceiro Comando Puro). Conhecido como "Deus" nas negociações e "Visionário" nas conversas com traficantes, ele era responsável por importar armamentos e equipamentos de uso restrito para a facção liderada por Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão.
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Francesquet já havia sido preso em flagrante em julho de 2024, ao tentar retirar um drone lança-granadas nos Correios, em Nova Iguaçu (RJ). Após ser solto pela Justiça e passar a ser monitorado, voltou a ser detido agora, em março de 2025, conforme consta no site oficial do programa Procurados, do Disque Denúncia.
As mensagens interceptadas mostram o planejamento detalhado de ataques contra rivais do Comando Vermelho (CV). Em uma delas, Francesquet promete: "Irmão, com esse drone o senhor vai conseguir explodir o Doca, paizão". Peixão responde: "E a meta vai ser essa mesmo".
O esquema usava plataformas como AliExpress e empresas como DHL e Correios para entregar as armas. Francesquet orientava que os pacotes fossem declarados como "brinquedos eletrônicos" e mantinha o valor das compras abaixo de US$ 25, para burlar a fiscalização da Receita Federal.
As remessas vinham da China, dos Estados Unidos e do Paraguai. O armeiro explicava que o material entrava por via terrestre no Brasil e era entregue diretamente em residências da quadrilha, com rastreio online.
A facção mescla fé evangélica e domínio armado. Peixão é chamado de "Irmão de Moisés" e batizou seu grupo como "Tropa do Arão". Nas áreas sob seu controle, há bíblias, versículos em neon e grafites com a Estrela de Davi, ao lado de fuzis e imagens de Cristo.
A PF confirmou que Francesquet importava fuzis AK47, bloqueadores de sinal (jammers), lançadores de granadas e drones antiaéreos. Parte do material foi apreendida e outra pode ainda estar em circulação, segundo a investigação.
O Ministério Público Federal já denunciou Francesquet por tráfico internacional de armas e organização criminosa. Ele também é investigado por lavagem de dinheiro e associação com intermediários internacionais.
Procurado, o Ministério Público Federal enviou uma nota à reportagem. "Everson Vieira Francesquet está preso atualmente. Ele foi preso pela primeira vez em julho de 2024 pelo contrabando de um equipamento anti-drone e permaneceu preso cautelarmente até outubro de 2024, quando foi colocado em liberdade sob o cumprimento de algumas condições, como a de comparecer mensalmente em juízo. Depois da prisão em flagrante do sr. Everson, a Polícia Federal encontrou elementos de participação na Organização Criminosa e conduziu outra investigação para reunir provas robustas deste crime. As investigações culminaram com a apresentação de novo pedido de prisão preventiva, que foi deferida e cumprida agora em março. O Ministério Público Federal já ofereceu as denúncias em relação aos dois crimes."
Em nota, a Polícia Federal do Rio de Janeiro informou que não divulga informações sobre eventuais investigações em andamento.
* Com matérias publicadas em 23/03/2025 e 27/03/2025.