Em capitais, mulheres se lançam mais a cargos majoritários, mas como vices
Vinicius Boreki
Colaboração para o UOL, em Curitiba
30/09/2020 04h00
Nas candidaturas majoritárias, as mulheres ampliaram sua participação como vice-prefeitas nas 26 capitais do Brasil ao comparar os números entre 2016 e 2020.
Neste ano, são 131 candidatas a vice entre os 314 nomes enviados ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para as principais cidades do país, representando 41,7% do total —em 2016, o índice era de 27,8% (58 candidatas dentro de um universo de 208).
Todas as 26 cidades contam com ao menos uma candidata a vice. No pleito anterior, Curitiba, Florianópolis, João Pessoa e Maceió não tinham postulantes para a função.
Na disputa para as prefeituras de capitais, houve redução da participação feminina: são 56 candidatas, que somam 17,8% do total. Há quatro anos, o porcentual estava em 18,3% —38 interessadas dentre 208. Em 2016, cinco capitais não tinham candidatas (Campo Grande, Maceió, Manaus, Porto Velho e Vitória) e, neste ano, houve redução para três: Belém, Manaus e São Luís.
A queda de representação feminina para prefeituras ocorre mesmo com o aumento de candidatos: em 2016, a média era de 7.8 postulantes por capital e, neste ano, são 11.7. Uma das razões para o acréscimo de candidatos está no fim das coligações proporcionais.
Ritmo lento, mas com progresso e oportunismo
Para o analista político Másimo Della Justina, da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), a simples criação de uma legislação para incluir a obrigatoriedade de 30% de candidaturas femininas mostra como o Brasil ainda precisa evoluir. "Há um fator cultural por trás disso, especialmente quando existe a necessidade de uma lei. É um sinal de que a sociedade não evoluiu o suficiente para oferecer igualdade de oportunidades", diz.
O fato de muitas mulheres se lançarem como vices também pode configurar oportunismo. "Em muitos casos, a presença feminina se deve mais a um propósito de chamar votos do que para participar do processo decisório", diz Della Justina. O analista cita o fato de que poucos partidos do país realizam processos internos para definir os seus candidatos, ficando à mercê de "caciques" e grupos de interesse.
Segundo ele, se o Brasil adotasse o regime de voto distrital, haveria uma tendência de maior presença feminina na política de forma natural. O analista argumenta que as lideranças comunitárias, religiosas, culturais e escolares são mulheres em sua maioria, tornando-se um verdadeiro celeiro para lideranças femininas —inicialmente para cargos legislativos e, na sequência, para as majoritárias.
Apesar disso, o analista entende que a direção de uma maior participação feminina na política está estabelecida. "O ritmo pode ser mais lento do que gostaríamos. Mas é um progresso", ressalta.
Esquerda mais aberta às mulheres
O PSOL, o PSTU e o PT são os três partidos que mais lançaram candidatas ao Executivo municipal nas 26 capitais em 2020. O PSOL conta com nove mulheres para prefeito e dez para vice. O PSTU vem em seguida, com sete e seis, respectivamente. O PT tem cinco e nove. Em 2016, os mesmos três partidos aparecem com maior representação feminina, apenas invertendo a ordem: PSTU, PSOL e PT.
Conforme Della Justina, os partidos mais alinhados à esquerda costumam trabalhar pautas sociais e na defesa das minorias. "Muitos desses partidos têm ciência de que são pequenos e não geram o apelo do eleitor. Mas lançam candidaturas para levantar pautas esquecidas, lembrar que existem pendências e que há pessoas que não podem ser deixadas para trás nas gestões", diz.
Entre os partidos mais alinhados à direita com maior presença feminina em 2020, aparecem o PSDB (quatro candidatas à prefeitura e três para vice), o Podemos (três e três, respectivamente) e o Progressistas (três e uma). Há quatro anos, o MDB lançou quatro candidatas a prefeitura e nenhuma vice, seguido por PP (hoje Progressistas) e PRB (agora Republicanos), ambos com 2 e 1, respectivamente.
Manaus: capital sem mulheres na disputa
Manaus foi a única capital a não ter mulheres concorrendo à prefeitura nos dois últimos pleitos. Para o cientista político Breno Rodrigo de Messias Leite, isso se deve a fatores conjunturais. De acordo com ele, duas figuras femininas notórias do estado não entraram no pleito. "É mais uma coincidência. Temos poucas lideranças femininas e algumas se desgastaram bastante", diz.
Leite cita a ex-senadora Vanessa Grazziotin, que era cotada para concorrer à capital do Amazonas novamente (disputou em 2012), mas acabou desistindo. "Ela permaneceu oito anos no Senado e acabou perdendo a eleição. Até então, era a maior liderança feminina do estado, mas se envolveu muito na luta política na época do impeachment [de Dilma Rousseff] e, na onda bolsonarista, acabou tendo um índice de rejeição muito alto", explica.
Outro nome mencionado pelo cientista político é o de Rebecca Garcia, do Progressistas. Com dois mandatos como deputada federal, ela era considerada possível postulante ao cargo, mas o partido se coligou com Solidariedade, PSB, PDT e PSD, que lançou dois homens nas vagas: Ricardo Nicolau para prefeito e George Lins como vice.