Vitória antecipada: 106 cidades do país vão ter um só candidato a prefeito
Em 106 cidades do Brasil, apenas um candidato disputará o cargo de prefeito nas urnas em novembro, tornando previsível o resultado das eleições. Isso porque, de acordo com a legislação, nessas situações, basta um voto válido para o político conquistar o cargo e ocupar a cadeira por quatro anos.
Incomum, a situação ocorre em diferentes partes do país. Neste ano, o maior número de municípios com candidato único está no Rio Grande do Sul (33), seguido por Minas Gerais (17) e Paraná (14). Em cinco estados, só há uma cidade nesta situação.
O Norte é a região do país com o menor número de candidatos únicos —três municípios em dois estados. Na outra ponta da balança, aparece a região Sul, com 49 cidades com esse perfil.
A maior parte das candidaturas únicas ocorrem em cidades pequenas, com menos de 10 mil habitantes. Entretanto, chama a atenção Pimenta Bueno (RO), com mais de 36 mil habitantes.
Por lá, o delegado aposentado Arismar Araujo de Lima (Patriota), 50, deve novamente ocupar o cargo de prefeito. O político assumiu o Executivo municipal em janeiro de 2019, após a ex-prefeita Juliana Roque (PSB) e o vice, Luiz Henrique Sanches Lima (PSB), serem cassados. Nas eleições suplementares, o delegado aposentado obteve 13 mil votos, o que corresponde a 83,26% do total.
Ao UOL, Lima se disse surpreso com a falta de oponentes no pleito. "Aqui há partidos de esquerda muito ativos, como o PT e PDT, e achei estranho não terem lançado candidatura própria."
Apesar da vitória antecipada, o político garante que vai fazer campanha, inclusive com propaganda. "É a época em que a gente se aproxima do eleitor. Mesmo sendo candidato único, vou fazer campanha", conta Lima, que é natural de Tocantins e reside em Rondônia há 15 anos.
Considerada Terra da Longevidade, Veranópolis (RS) também só tem um candidato a prefeito. Com isso, o médico cardiologista Waldemar de Carli (MDB), 67 anos, deve seguir no cargo.
Em 2008, ao tentar a reeleição, o político também já havia se deparado com falta de adversários ao pleito. Por isso não estranhou a situação desta vez. "A oposição até tinha dois pré-candidatos, mas não apresentaram candidaturas. Não sei o que aconteceu", afirma.
Sem alternância, um mesmo grupo político já está no poder na cidade há 20 anos. "Eu preferiria que houvesse oposição. A eleição se torna mais atrativa para a comunidade. Assim meio que perdeu a graça", diz o candidato.
"Nós já estávamos preparados [para ter outros candidatos]. A gente estava esperando dois adversários e fizemos todo o planejamento. Claro que ser candidato único facilita, eleição já é definida", completa.
Com pouco mais de 4.800 habitantes, Santópolis do Aguapeí (SP) está na mesma situação. O atual prefeito, Haroldo Alves Pio (DEM), 46, deve ficar mais quatro anos à frente do Executivo municipal.
Para o político, a falta de adversários é positiva por diminuir os custos de campanha e levar "tranquilidade" à cidade por conta da ausência de atritos entre candidatos. "Às vezes, o grupo que perdeu torce para quem venceu dar errado", diz.
"São várias as vantagens, mas eu não posso esconder que, com mais candidatos, é possível um debate de ideias. E o eleitor acaba fazendo a melhor escolha para ele", complementa Pio.
A ausência de adversários não é encarada como um problema para o cientista político e professor da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) Augusto de Oliveira. "Em municípios muito pequenos, a competição na política não é interessante. As pessoas se conhecem e têm vínculos mais próximos."
Para forasteiros, a situação pode ser vista com maus olhos. Entretanto, para quem vive nessas comunidades, o entendimento pode ser diferente, afirma o pesquisador.
"Não necessariamente, é sinal de problema democrático. Se tem vida política no município, liberdade de expressão, essa é uma situação que pode surgir normalmente na vida de um município pequeno. Chama a atenção, mas pode demonstrar não ser um problema, mas, sim, que a comunidade está resolvendo a disputa política sem recorrer ao processo eleitoral. Não é necessariamente um problema."
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