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Em Fortaleza, candidatos apelam para retroescavadeira e Patativa do Assaré

Propaganda do Capitão Wagner, candidato à Prefeitura de Fortaleza, usa imagem do senador Cid Gomes ao tentar invadir um batalhão da polícia com uma retroescavadeira Imagem: Reprodução de TV

Matheus Pichonelli

Colunista do UOL

26/11/2020 17h38Atualizada em 26/11/2020 17h48

"Mexeu, agora aguenta".

Foi assim que o candidato do Pros à Prefeitura de Fortaleza, Capitão Wagner (Pros), abriu o segundo turno de sua campanha na TV.

O recado era para o adversário do PDT, José Sarto. Que, em sua propaganda, não tem nome. É apenas "o candidato dos Ferreira Gomes" —em alusão aos padrinhos políticos do pedetista, os irmãos Ciro e Cid Gomes.

O tom, mantido em água fervente desde então, era uma resposta de Wagner aos ataques sofridos no primeiro turno, quando chegou a ser chamado de "líder de motim". Wagner é acusado de ligação com os policiais que se amotinaram em batalhões no estado para pedir aumento salarial no começo do ano.

Em Sobral, terra dos Ferreira Gomes, houve pânico quando manifestantes encapuzados mandaram comerciantes fecharem as portas. O auge da tensão aconteceu quando o senador Cid Gomes tentou invadir o batalhão com uma retroescavadeira e foi baleado com dois tiros.

A cena tem sido usada recorrentemente por Capitão Wagner em sua propaganda. A ironia é que sua intenção, ao que parece, é justamente se desfazer da imagem de líder incendiário que os adversários colaram nele.

Na TV, Wagner até tentou colocar em primeiro plano seu lado educador —segundo ele, já deu aula a mais de 10 mil alunos em 14 anos.

No primeiro turno ele se apresentou como um candidato sensível, preocupado com as vítimas da covid-9, que fala das origens humildes e até abraça bandeiras do campo progressista. Já disse, por exemplo, que inclusão é mais do que construir rampa de acesso e que violência não é causa, mas consequência dos problemas sociais.

Ao mesmo tempo, ele defende temas caros à direita, como o modelo das escolas militares.

Wagner, que tem mandato de deputado federal, já recebeu o apoio do presidente Jair Bolsonaro, de quem evita mostrar proximidade. O presidente tem hoje 47% de reprovação na cidade, segundo o Ibope.

Capitão Wagner (Pros) é candidato à Prefeitura de Fortaleza Imagem: Divulgação

Desde o início do segundo turno, Wagner ataca para se defender. Tenta mostrar independência dizendo na TV que contrariou o presidente ao votar contra a reforma da Previdência na Câmara. Diz que seu lado é o lado da periferia e que seu adversário é que é "pau mandado dos Ferreira Gomes".

Atrás nas pesquisas (tem 35% das intenções de voto no Ibope, contra 53% de Sarto), o candidato do Pros tem usado assim seu tempo de TV como uma espécie de desagravo.

É a estratégia passivo-agressiva de quem ataca mesmo quando fala manso. Para fugir da pecha, ele mostra a situação de policiais que trabalham 90 horas por semana sem hora extra em um contexto de aumento da criminalidade. Chama a paralisação dos PMs de ato extremo, mas o compara à mobilização de professores que apanham do governo estadual ao tentar dialogar.

Conta ter dormido com mulher e filhos no quartel e se apresenta como mediador e canal de diálogo entre os militares e o governo. "Fui elogiado por acalmar os ânimos", diz ele, para quem a pecha de "líder de motim" é uma estratégia para desgastá-lo com os eleitores.

É neste momento da propaganda que, para devolver a acusação, ele resgata a imagem de "um senador da República jogando uma retroescavadeira em trabalhadores, crianças e mulheres".

Wagner chama de "covardes" os ataques promovidos pelos pedetistas contra ele e até contra a candidata do PT no primeiro turno, Luizianne Lins. Afirma que os adversários temem ir para a cadeia após o pente-fino que promete fazer nas contas do município. Para isso, pede uma chance para libertar Fortaleza de "um grupo que só pensa no próprio umbigo".

Sarto (PDT) concorre a prefeitura de Fortaleza Imagem: Divulgação

Favorito, Sarto tem preferido, nesta reta final, ignorar o adversário. Como outros candidatos que enfrentam grupos identificados com o bolsonarismo nos municípios, diz que o amor vencerá o ódio nas urnas.

No programa desta quinta-feira (26), ele fez uma lista de propostas, inclusive para a segurança pública —como aluguel social para vítimas de violência doméstica, instalação de torres de segurança e monitoramento. Também emprestou de Ciro Gomes uma promessa usada na campanha presidencial de 2018: ajudar os eleitores endividados.

Ele encerrou o programa com seu vice, Élcio Batista, que declamou um poema de Patativa do Assaré que falava de diálogo, direitos humanos e luta pela paz.

O contraste era evidente, mas o tom poético não desanuviou a tensão nos ares. A retroescavadeira segue no pátio em caso de emergência.

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